Durante o desmame de leitões, que ocorre aos 21 dias de vida, é comum eles tentarem comer o rabo uns dos outros, baterem a cabeça continuamente e até sofrerem diarreias. Para evitar esses sintomas, que causam perdas financeiras para os produtores de porcos, um experimento da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveu uma espécie de “brinquedo” feito com correntes e um pneu para que os porquinhos possam se distrair e, com isso, reduzir os níveis de estresse.
A pesquisa, da veterinária Juliana de Vazzi Pinheiro, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, em Pirassununga (SP), mostrou que, ao colocar os leitões desmamados em um ambiente com pneus presos em correntes penduradas no teto, esses animais passam a brincar com o objeto, o que reduz seus níveis de estresse.
De acordo com Maria de Fátima Martins, professora da USP e orientadora da pesquisa, durante a fase de desmame dos leitões é comum a ocorrência de canibalismo (eles mordem o rabo uns dos outros), de estereotipias (batem ou balançam a cabeça continuamente, tentam comer o chão e as paredes) ou ainda diarreias. “Estes são alguns sintomas de estresse. É a chamada angústia da separação. O animal perde peso e, consequentemente, ocorrem perdas econômicas para o produtor”.
Após instalarem “móbiles”, pendurando pneus em correntes, os animais interagiam com o objeto como se ele fosse um brinquedo: os porquinhos mordiam, subiam nos pneus, entre outras atividades. Com isso, os leitões se distraíam e reduziam o nível de estresse. Maria de Fátima conta que os pneus foram usados como enriquecimento ambiental. “Trata-se de uma estratégia focada no bem-estar animal, com a finalidade de proporcionar condições mais humanitárias aos leitões”.
Segundo ela, os pneus mais limpos foram os que permitiram melhores efeitos nos animais do que os pneus mais sujos: enquanto um dos grupos de leitões brincava com pneus limpos diariamente, outro grupo era exposto a pneus não lavados. Neste último também houve redução de estresse, mas em um nível inferior. “Sabemos que os suínos gostam de se esfregar na lama. Mas este estudo mostrou que, diante do acúmulo de sujeira ou fezes, os leitões ficavam estressados”.
O estudo
A pesquisa envolveu nove leitegas — cada leitegada é composta por nove a 15 leitões nascidos de um mesmo parto. Ao serem desmamados, aos 21 dias de vida, os animais foram colocados em baias.
Após isso, foram aplicados três tratamentos. No primeiro estavam animais com acesso a um pneu que era lavado diariamente. No segundo estavam leitões expostos a um pneu não lavado, e, no último, estava o grupo controle, com leitões que não receberam nenhum tipo de enriquecimento ambiental.
Os leitões foram filmados 24 horas por dia, durante 21 dias. Eles foram marcados com tinta bastão (para diferenciar um do outro) e as baias tinham controle de temperatura e umidade, variáveis que podem interferir no comportamento.
A professora acredita que os leitões com acesso ao pneu lavado diariamente tiveram um menor nível de estresse, quando comparado aos outros grupos, pois viam o móbile como uma novidade, como se fosse um novo objeto colocado no local. “Alguns estudos mostram que as crianças que têm móbiles em seus berços são mais calmas”.