O governo ainda não tem um plano para combater as frequentes detecções de ivermectinas, uma categoria de vermífugos, nas carnes brasileiras. O problema se alastra pela indústria, que diz ser impossível testar todos os carregamentos. Só em 2011, já foram realizados 253 testes em que foram detectadas violações em seis amostras, 2,37% do total. O Ministério da Agricultura já estima que o número vai ultrapassar 3% até o fim deste ano.
A solução para o problema, segundo representantes de vários setores da pecuária, presentes em audiência pública ontem na Câmara dos Deputados, deve ser uma forte política pública na área de educação sanitária. O cuidado com a aplicação do produto e o respeito ao tempo de abate foram as principais preocupações do setor. De acordo com o representante da Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária, professor Romário Cerqueira Leite, 70% das doses de vermífugo são aplicadas quando não são mais necessárias.
Durante a audiência pública, ficou claro que a solução do problema está distante. A falta de receita para comprar os produtos, o uso em excesso e a falta de observância às informações da bula foram diagnosticados como causadores das violações. Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), existem mais de 100 produtos no mercado que podem ser comprados até pela internet. O presidente do Sindan, Ricardo Pinto, disse que 99% das violações acontecem por falta de observância às informações da bula.
Na contramão, o presidente da Comissão Nacional de Bovinocultura de Corte da CNA, Antenor de Amorim Nogueira, disse que querem colocar a culpa no produtor. “Quase me convenceram que a culpa é do produtor. Está óbvio aqui que todos acham isso”. Para ele, a bula contém informações erradas e só exigir o receituário não será o bastante.
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) diz que ao receber um animal, o produtor informa que aplicou na hora certa e respeitou o tempo de retirada. Além disso, os frigoríficos testam a presença de resíduos em três etapas da produção, inclusive após enlatar o alimento. Mesmo assim, de acordo com o presidente da Abiec, Antônio Jorge Camardelli, não se pode ter 100% de certeza sem checar todos os produtos, sem exceção. “Com essa infinidade de testes, acabamos perdendo competitividade. Já gastamos R$ 12 milhões até outubro deste ano com testes para detecção”, afirmou.
Em vez de tentar reduzir a quantidade do produto nas carnes exportadas, o Ministério da Agricultura está questionando a decisão dos Estados Unidos em reduzir os vestígios de 100 ppm (partes por milhão) para 10 ppb (partes por bilhão). Diante da decisão de Washington, em maio de 2010, o próprio Ministério suspendeu até dezembro daquele ano as vendas ao país, o que fez com que o produto brasileiro perdesse quase metade do mercado americano.