Redação (06/04/2009) – Há quase dez anos, o agricultor Iuri Suzart cria galinha caipira. Certa época, empolgou-se a ponto de juntar 400 ao mesmo tempo. Só quando todas ficaram prontas para o abate de uma vez, descobriu que tinha um problema: teria que se livrar delas às pressas, por qualquer preço, ou ficar com aves envelhecidas, que não interessavam ao mercado.
Hoje Iuri está recomeçando e reconhece que errou e ainda acha que galinhas caipiras são investimento com retorno mais rápido para pequenos produtores, com mercado garantido. “Em 90 dias estão prontas. Nenhuma outra atividade no campo é assim”, compara.
Ele aderiu ao projeto de incentivo ao mercado de galinha caipira, executado pelo Centro de Apoio aos Trabalhadores Rurais da Região de Feira de Santana (o Catrufs, que engloba um conjunto de sindicatos de trabalhadores rurais) e apoiado pela Secretaria de Agricultura do estado. Iuri conseguiu ser selecionado entre o grupo de produtores mais jovens e atualizados, que terão a incumbência de orientar outros produtores.
A meta do projeto é ambiciosa: transformar a criação de galinha caipira – que a maioria dos produtores desenvolve de forma amadora quase exclusivamente para consumo próprio – em uma atividade econômica lucrativa e se expanda ao ponto de sustentar dois frigoríficos, geridos por uma cooperativa própria dos agricultores, a ser criada.
“Produzir galinha caipira, em tese, todo mundo sabe. Mas é possível ir além disso. Esse mercado tem potencial gigantesco”, diz o agrônomo Daniel Moreira, da EBDA, que fez o projeto.
Renda – Em termos práticos, este “potencial gigantesco” se traduz em um rendimento familiar mensal de R$ 750 a R$ 800, com a venda de 180 aves por mês ao futuro frigorífico. Hoje a renda obtida com a galinha caipira é praticamente zero. Quando é vendida, os custos de produção empatam com o preço de venda.
Para chegar a produzir 180 galinhas por mês, será preciso obedecer as diretrizes técnicas do programa. Por exemplo, o galinheiro precisa ter um tamanho padrão de 8×5 metros, dividido em três compartimentos, um para cada etapa da vida do frango.
Assim, quando um lote sai para o abate, outro está chegando, o que evita desastres, como o que ocorreu com o agricultor Iuri citado no início desta matéria.
Neste grupo inicial de 200 famílias, 46 são jovens, que terão a responsabilidade de ajudar na assistência técnica, acompanhando de três a cinco agricultores. Como recompensa, os monitores ganham 100 pintos, madeira e tela para construir o galinheiro padronizado.
Prazo – Hoje os agricultores prolongam até para seis meses a vida da galinha caipira entre o nascimento e o abate. A meta do projeto é reduzir este tempo para 100 dias. Esta é uma das formas de dar viabilidade econômica à criação de aves. Para substituir as galinhas sem raça que têm em casa, os produtores estão ganhando pintos das raças carijó e pesadão-vermelha. De acordo com o agrônomo Lucas Oliveira, da CATRUFS, elas serão criadas só com ração durante o primeiro mês.
Depois podem entrar no regime típico das galinhas caipiras, ou seja, serão soltas durante o dia no terreno de casa para comerem o que encontrarem. É recomendável que os criadores procurem enriquecer a dieta dos animais e não deixá-los à própria sorte. Outro cuidado é com a vacinação. São três ao longo do ciclo de vida do animal.
Para cobrir os custos do projeto, os produtores devem fazer contratos do Pronaf, programa do governo federal. As galinhas terão custo de produção por volta de R$ 4,60, podendo ser vendidas ao frigorífico por R$ 9. A expectativa entre os produtores é grande. Neuza da Silva, por exemplo, começou a criar galinhas há pouco tempo. Não tem renda própria e o marido, que perdeu o emprego de funcionário de fazenda, vive de bicos. “A nossa ideia é que com esse projeto a gente possa ter a nossa renda, sem precisar mais trabalhar para os outros”.
Desorganização – o agrônomo Daniel Moreira, da EBDA, confessa que já viu meia dúzia de projetos governamentais de incentivo à criação de galinha caipira darem em nada, depois de consumir uma soma expressiva de recursos públicos. Entre outros motivos, porque são planejados e executados sem envolvimento dos interessados.
Porém, apesar da consciência sobre as dificuldades, vai dar trabalho para que desta vez seja diferente. Mesmo sendo um projeto com envolvimento direto de entidades sindicais, a desarticulação era evidente no dia em que a reportagem de RURAL acompanhou a entrega de pintos aos produtores beneficiados em Conceição da Feira, município vizinho a Feira de Santana.
Pela manhã, os agrônomos Lucas e Waldemar Costa Neto, da Catrufs, já estavam na empresa que forneceu os animais a serem entregues aos agricultores. Mas ao chegarem na cidade, encontraram produtores sem a mais básica das informações: a de que teriam que possuir caixas para transportar os pintos para suas propriedades.
Por conta disso, os agrônomos tiveram que percorrer a zona rural de casa em casa entregando os animais de 15 envolvidos no projeto, com os frágeis pintos com poucos dias de nascidos tomando o sol de um outono que mais parecia o auge do verão.
Em geral, o que se via na chegada a cada casa eram produtores que não tinham feito qualquer preparativo para receber a ninhada. Em um dos casos, o galinheiro tinha espaço para meia dúzia de animais adultos e no entanto teve que receber 80 pintos. “Nós estamos nos preparando para transferir para outra propriedade que temos”, justificou a agricultora.
“Essa articulação tinha que ser feita pelo sindicato local dos trabalhadores rurais”, justificou o agrônomo Waldemar Souza Neto, da Catrufs. Ele garante que encontrou produtores bem preparados em outro município, onde o sindicato atuou bem.