O Senado aprovou, na última semana, um projeto que disciplina a rastreabilidade da carne bovina no País. Nos mesmos moldes desse projeto, está nascendo em Campinas (SP) uma iniciativa que visa garantir o registro e o acompanhamento de informações da suinocultura.
Trata-se do sistema de rastreamento genético que está em fase de desenvolvimento e testagem pela BiomicroGen Soluções em Biotecnologia, empresa residente na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica (Incamp) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A promessa é criar um mecanismo antifraude de certificação que vai agregar valor a toda cadeia de produção da carne suína.
O diretor científico da BiomicroGen, José Luiz Donato, conta que a ideia do sistema é baseada nos testes de DNA para comprovação de paternidade aplicados em humanos, mas no caso, o objetivo é atestar a maternidade do animal. “Como existe um sistema fechado de criação de suínos, no qual as fêmeas procriadoras permanecem na mesma granja desde o nascimento, a comprovação da maternidade do animal funciona como uma certificação de origem”, esclarece.
Atualmente, a pesquisa biológica está concentrada em identificar as variedades de marcadores genéticos dos suínos que vão permitir fazer a comprovação da identidade. Para isso, a empresa conta com uma parceria com o Instituto de Biologia da Unicamp e o trabalho do pesquisador Georgio Valadares. Futuramente, o perfil genético de cada fêmea procriadora será caracterizado, o que vai permitir que os filhotes recebam o selo que atesta que podem ser rastreados. “Como cada fêmea tem em média 70 filhotes, sai muito mais em conta fazer o rastreamento por meio da maternidade. O ideal é que todas as fêmeas industriais sejam genotipadas”, assinala Donato.
Segundo ele, a solução visa atender à demanda de muitos suinocultores, já que existe defasagem na tecnificação de suínos. A técnica permite que o produtor possa ter um sistema confiável de certificação e visa atender à exigência de mercados internacionais cada vez mais preocupados com a procedência do produto. “Não é apenas um sistema que vai auditar as granjas, mas também vai permitir que o produtor se beneficie dele. O Brasil já sofreu embargos de outros países por causa de suspeita de fraude em outros sistemas e isso afeta a todos. A genética não tem como ser fraudada”.
No entanto, o sistema de rastreamento genético deve funcionar em parceria com outras formas de rastreabilidade, como a identificação por chip. Dessa forma, a testagem genética passa a ser aplicada em amostragens ou quando há necessidade de comprovação. “É importante se associar a outro sistema, pois quanto melhor ele for, melhor o resultado. O perfil genético passa, inclusive, a integrar o sistema de chip e software, e as informações do animal ficam ainda mais completas”, afirma.
Desenvolvimento
O projeto de rastreamento genético atualmente conta com o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), integrando o programa de Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe). Dessa forma, a empresa entrou em contato com a paulistana Sima Comércio e Serviços, consultoria de negócios e de desenvolvimento de tecnologias, que projetou um software para rastreamento da carne bovina. “Queremos agir de maneira conjunta para oferecer tanto o rastreamento genético quanto o sistema computadorizado. É algo que pode ser aplicado tanto a bovinos quanto suínos”, considera.
Além do apoio da Fapesp, a empresa está em busca de outras formas de investimento, inclusive junto à iniciativa privada. A estimativa é de que em menos de um ano, a fase de testagem já esteja concluída e o sistema pronto para entrar no mercado. “Nós também vamos buscar por certificações nacionais e internacionais que vão validar a comercialização do sistema”.