O Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF), em parceria com a empresa de tecnologia Sencer, desenvolveu um sistema que permite evitar o desperdício de água em até 30% no manejo da irrigação na agricultura. Essa solução, que pode ser aplicada em produções agrícolas de todos os portes, é sustentável e de fácil manuseio. O sistema de monitoramento é de baixo custo, dispensa manutenção e é compatível com várias plataformas.
A pesquisadora do Instituto de Química da Unesp, Câmpus Araraquara, Sonia M. Zanetti explica que o sistema inclui um sensor que mede a umidade do solo e um equipamento eletrônico sem fio que envia as informações obtidas para um computador, que realiza a análise dos dados ao produtor.
O sensor é uma mistura de óxidos semicondutores e o pó obtido é conformado por prensagem, gerando um elemento cerâmico poroso. “As propriedades elétricas do sensor são alteradas pela presença da água, assim é possível medir a umidade pelo monitoramento da resistência elétrica do sensor cerâmico. Quanto mais água estiver presente no solo, maior será a alteração da resistência”, explicou a pesquisadora.
O sistema é composto por sondas instaladas na plantação e uma plataforma online. As sondas monitoram a temperatura e a umidade do solo em até três níveis de profundidade simultaneamente, coleta os dados e envia para uma plataforma online, que permite ao produtor acessar e tomar decisões relacionadas ao manejo da irrigação da cultura.
Além de coletar dados e os disponibilizar para o produtor, o sistema pode ser integrado com dados climáticos disponíveis, como previsão do tempo, índices pluviométricos, temperatura e umidade do ar, velocidade e direção do vento. Por meio da utilização de inteligência artificial, é possível fazer análises avançadas do solo e do plantio com base em históricos de dados, tendências e estatísticas, fornecendo ao produtor uma segurança e otimização no manejo da irrigação.
Valdir Pavan, diretor da Sencer, explica que a maioria dos produtores rurais irriga, em média, 30% a mais que o necessário. Por isso, além de uma simples solução, o objetivo do sistema é gerar conhecimento para o agricultor. “Se ele contar com ferramentas para monitorar sua propriedade e melhorar o manejo da irrigação, haverá economia de água e energia, além do aumento de produtividade e melhoria na qualidade do cultivo”, destacou.
Água na agricultura
De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), a atividade agropecuária é a principal responsável pelo uso da água. Cerca de 70% de toda a água consumida no mundo, é utilizada na irrigação das lavouras, número que se eleva para 72% no caso do Brasil, país com forte produção neste segmento da economia. Depois do setor agrícola, vem a atividade industrial, que é responsável por 22% do consumo de água no mundo, somente depois vem o uso doméstico, que é responsável por 8% de toda a utilização dos recursos hídricos.
Esse cenário revela que não apenas as residências e os comércios devem economizar, mas também os setores primário e secundário da economia, adotando medidas de contenção da utilização de água.
Sobre o CDMF
O CDMF é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) apoiados pela FAPESP. O Centro também recebe investimento do CNPq, a partir do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia dos Materiais em Nanotecnologia (INCTMN), integrando uma rede de pesquisa entre UNESP, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Universidade de São Paulo (USP) e Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN).