Criada há quase um ano para investir sobretudo nas áreas de mineração, logística e bioenergia, a holding AGN Agroindustrial Projetos e Participações já deu mostras desde o início efetivo das operações, no primeiro semestre, de que o agronegócio será um dos mais importantes alicerces para a expansão de seus negócios nos próximos anos. E não apenas por causa da bioenergia, que terá a “cana energética” como carro-chefe. Em mineração, dois dos três primeiros aportes do grupo foram em empresas de fertilizantes, enquanto em logística boa parte das apostas está no campo, tanto no escoamento das safras quanto na importação de insumos agrícolas.
Encabeçada por Roger Agnelli, ex-presidente da Vale, a AGN teve seus primeiros passos concretos acompanhados com particular interesse pelo ramo de adubos, dada a histórica dependência do Brasil de produtos importados e o fato de a Fosfertil, maior fabricante de matérias-primas para esse mercado do país, ter tido seu controle adquirido pela Vale durante a gestão do executivo e ter sido a base para a formação da Vale Fertilizantes. O segmento não é a prioridade mas está no radar da B&A, o braço de mineração da holding AGN que tem por objetivo buscar participações em empresas que ainda estejam estruturando projetos e que também prospecta oportunidades nas áreas de ferro, cobre, titânio e terras-raras.
“Não vamos sair comprando. Será preciso ter muito cuidado, ter uma análise de retorno. Se aparecer uma oportunidade interessante, vamos entrar”, diz Fabio Eduardo Spina, que integra o conselho da B&A e é diretor da AGN. Também egresso da Vale, Spina informa que a companhia “sonda” de 20 a 30 projetos em todas as suas áreas de atuação no Brasil, em outros países da América Latina, no Canadá, na Austrália, na Indonésia. Em fertilizantes, os holofotes estão sobre fosfato e potássio, duas das três matérias-primas básicas para os produtos finais comprados pelos agricultores, embora a porta não esteja fechada aos derivados do nitrogênio, que completa o trio.
A B&A conta com US$ 520 milhões para investimentos em um período de três a cinco anos. “Mas podemos gastar esse valor antes do fim desse prazo”, afirma Spina. A maior parte desses recursos foi aportada pelo BTG Pactual, que divide o controle da companhia com a holding AGN Agroindustrial. Nesse ano, a B&A adquiriu quase 30% da Rio Verde Minerals, que tem projetos de fosfato e potássio no Norte e no Nordeste do Brasil, e 11,5% da MbAC, com projetos em fosfato e perspectivas de investimentos potássio no Brasil e na América Latina. Rio Verde e MbAC têm ações negociadas na bolsa de Toronto (Canadá). Fora da área de fertilizantes, a B&A comprou 30% da Cuprom, companhia fechada no Chile com projetos em cobre.
Conforme Spina, os fertilizantes são parte importante do escopo da empresa pela ligação que têm com segurança alimentar, na medida em que garantem maior produtividade agrícola sem a necessidade de ampliar áreas de cultivo. E, com a dependência brasileira, esses insumos também poderão alimentar negócios de um nova trading que poderá ser formada pelo grupo. Jairo Ribeiro e Alfredo de Goeye, sócios da holding AGN, são sócios também de uma trading já existente (Sertrading). Ribeiro também é sócio do Banco Indusval.
Outra empreitada do grupo que não servirá apenas aos negócios agrícolas, mas que poderá ajudá-los na África, é a construção de um porto de águas profundas em São Tomé e Príncipe, no golfo da Guiné, importante região produtora de petróleo. O empreendimento é uma das apostas da AGN Logística e a meta é criar uma zona franca na região. “É como se fosse fazer uma Cingapura na África”, afirma Spina. A AGN está em vias de ganhar a concessão para o porto, segundo Spina – que não descarta o desenvolvimento de projetos envolvendo portos brasileiros.
A prospecção do porto em São Tomé e Príncipe absorveu investimento iniciais de US$ 5 milhões a US$ 10 milhões, mas sua construção poderá custar bilhões de dólares e, se for levado adiante, deverá contar com “parceiros estratégicos”. Conforme Spina, o projeto já foi apresentado ao BNDES.
Na área de bioenergia, o plano é investir em variedades de cana capazes de render uma maior quantidade de biomassa, visando à geração de eletricidade voltada ao abastecimento de projetos locais. A AGN Biocombustíveis, braço da holding no segmento, já comprou duas fazendas, uma em Alagoas e outra no interior paulista, para testar cultivares de cana em busca das características agronômicas desejadas, e a patente desses materiais já foi registrada.
A meta é conseguir elevar para 70% o teor de biomassa nas plantas, em detrimento do açúcar. Com mais biomassa, o peso da parte agrícola no custo do processo para a produção de energia, normalmente de 60%, pode cair pela metade, conforme Spina. Os experimentos iniciais foram considerados favoráveis. Em 18 meses, será possível testar as mudas no campo, mas a produção em grande escala só será possível em dois ou três anos. A ideia é obter concessões de terras na África para produzir a “cana energética”. Para isso, já foi formalizada uma parceria com a instituição Africare, que inicialmente prevê o envolvimento de três mil famílias em Moçambique que deverão dispor de apoio em capacitação. Nessa área, a busca de investimentos só deverá ganhar corpo quando houver produção em escala comercial.
Segundo Spina, a “cana energética” também deverá servir à produção de biocombustível. “Nosso sonho é que entre oito e dez anos possamos produzir combustível de aviação com essa cana”. A intenção não é investir nesse tipo de pesquisa, mas depois que o estudo mais viável surgir, licenciar a ideia. Para ajudar na procura por melhores terras para o cultivo, a AGN desenvolveu um sistema de georreferenciamento que indica as áreas mais adequadas em várias partes do mundo para 20 culturas. A comercialização dessa ferramenta também não está descartada.