Enquanto a Ásia e o leste europeu se voltam para os problemas acarretados pela Peste Suína Africana (PSA), o Brasil lida com outra doença que ataca os suínos e não atinge o ser humano: a Peste Suína Clássica (PSC). O vírus já foi detectado em produções não tecnificadas no Piauí, no Ceará e agora tem se espalhado por Alagoas. O problema é que esse último é vizinho da Bahia, um dos 13 estados, além do Distrito Federal, considerados livre da doença desde 2016 pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE).
A situação em Alagoas gera apreensão não apenas em Sergipe e Bahia, que são vizinhos. A preocupação se dá até mesmo no Paraná, estado bem distante dos focos atuais. É que uma eventual ocorrência da PSC em qualquer área considerada livre derrubaria o status sanitário obtido pelo estado.
O pesquisador Nelson Morés, da Embrapa Suínos e Aves, em entrevista à Suinocultura Industrial, apontou quais são os principais riscos e as medidas necessárias de controle da PSC. Ele cita que o javali e a circulação de carnes frescas ou curadas pelo país podem ser os principais riscos para a disseminação do vírus. Um problema que pode atingir o potencial de 700 mil toneladas de carne suína exportada pelo país.
OS PRINCIPAIS RISCOS DA PSC
1 – Vírus pode já estar circulando em outros territórios brasileiros, por meio de produtos suínos, como carnes frescas e curadas, embutidos, produtos envoltórios, que não passam por esterilização, aponta Morés. “O vírus pode viajar clandestinamente daquela região infectada até a região Sul, através de alguém que venha visitar parentes, por exemplo”, diz.
2 – Segundo o pesquisador, nos estados nordestinos, incluindo a Bahia, vizinho de Alagoas, existe o problema da movimentação de suínos de forma clandestina.
3 – A movimentação de animais soltos é outra situação preocupante. Nelson Morés revela que javalis têm sido vistos naquela região. Esses animais podem ser portadores do vírus e conseguem se deslocar por grandes faixas territoriais, espalhando o surto para as áreas livres da doença;
4 – Nas granjas de subsistência não tecnificadas existem problemas muito sérios de biosseguridade, ressalta o pesquisador da Embrapa. Dentre os perigos, estão a movimentação de animais, apresentações em feiras, alimentação com restos de comida.
5 – Uma eventual ocorrência da PSC em área não livre geraria grande impacto econômico, principalmente em relação à exportação. O Brasil exporta hoje algo próximo a 700 mil toneladas anualmente. “Se ocorrer peste suína nas duas regiões livres (incluindo Rio Grande do Sul e Santa Catarina, reconhecidas pela OIE desde 2015) onde vai colocar toda essa carne? O impacto vai ser violento também na questão social, nos produtores”, comenta Morés.
6 – A disseminação da PSC geraria ainda gastos volumosos em termos de medidas de defesa sanitária e controle da doença.
MEDIDAS QUE O PAÍS JÁ ESTÁ ADOTANDO OU PODE ADOTAR
1 – No estado de Alagoas, o instituto de defesa sanitária do estado emitiu portaria proibindo transito de suínos, exceto para abate imediato. E, em um raio de 10 km dos focos registrados de PSC, foi proibida a circulação de suínos, a não ser com saída para abate imediato com previa autorização.
2 – Foram proibidos eventos com suínos vivos em todo o estado.
3 – Na região Sul, Santa Catarina publicou regras para mitigar riscos. Dentre elas, suspendeu o Guia de Trânsito Animal (GTA) para qualquer finalidade com destino para regiões infectadas. “Santa Catarina envia muitos suínos para essas regiões e o risco é o pessoal trazer o vírus na volta”, avalia Nélson Morés.
4 – Dentre as principais medidas recomendadas para produtores e indústria estão a lavagem e desinfecção do caminhão, lavagem da roupa e bota utilizados no descarregamento. “É uma série de atitudes que esses transportadores precisam ter para que tentar mitigar os riscos”, comenta.
5 – Outra medida adotada em Santa Catarina é o esclarecimento de que ninguém pode trazer produtos suínos para área livre. “Mas é importante que não apenas Santa Catarina tenha essa atitude, mas outros estados também. Qualquer estado infectado pode trazer impactos sérios para a exportação”, destaca o pesquisador da Embrapa.
6 – Em uma eventual ocorrência da PSC, os animais precisam ser sacrificados. Nesse caso, o produtor é indenizado pela perda. Contudo, o lucro cessante não é indenizado, ressalta Morés.
7 – Uma epidemia de PSC no Brasil poderia ser controlada por meio de vacinação. O pesquisador Nelson Morés conta que, diferentemente da PSA, a PSC conta com uma vacina eficaz. O problema é que a vacinação é proibida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e só deve ocorrer em uma situação de emergência.