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Entrevista

A conquista do mercado interno começou

<p>ABCS prepara-se para dar início ao seu plano de elevar em dois quilos o consumo per capita de carne suína até 2012. Em entrevista a SI, Fabiano Coser, diretor-executivo da entidade, explica em detalhes como isso será feito.</p>

Os próximos anos prometem ser bastante movimentados para os suinocultores. A Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS) virou o semestre com o pé no acelerador e já tem uma série de projetos engatilhados, prontos para serem executados.

Entre eles está o Programa Nacional de Desenvolvimento da Suinocultura, fruto de um convênio assinado com o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Com orçamento de R$ 9 milhões, o programa tem como objetivo aumentar o consumo per capita de carne suína no Brasil em dois quilos até 2011. Tarefa nada fácil. 

Valendo-se de sua nova estrutura e para capitanear esse e os outros projetos, a ABCS nomeou na semana passada o médico veterinário Fabiano Coser seu diretor-executivo. Ex-diretor técnico da entidade, Coser terá a sublime missão de tirar do papel os projetos da ABCS.

O site de Suinocultura Industrial conversou com Coser para conhecer melhor os detalhes dos programas da ABCS, o cronograma das ações e suas novas atribuições no novo cargo.   

O bate-papo rendeu, e Coser acabou falando não só sobre esses assuntos como também sobre exportação e como a crise global vem enfatizando a importância do mercado interno, sobre a surpreendente adesão que o “Projeto Sebrae” vem angariando junto às empresas do setor e sobre a importância do apoio dos suinocultores às iniciativas da ABCS.

A íntegra da entrevista você confere a seguir.

Suinocultura Industrial – A ABCS acaba de criar a função de diretor-executivo. O senhor poderia falar sobre quais serão suas atribuições nesta nova função?

Fabiano Coser – Antes é preciso falar um pouco sobre a nova estrutura da entidade. A ABCS promoveu recentemente algumas mudanças em seu estatuto com o objetivo de profissionalizar sua atuação. Para isso foi criada a figura do Conselho de Administração.

Durante mais de 50 anos a ABCS teve um corpo de diretores, que era formado pelos próprios suinocultores, que se candidatavam e se elegiam e eles mesmos tocavam a entidade, desenvolvendo um trabalho de caráter institucional.

O Conselho de Administração foi constituído para descentralizar o poder na associação. Antes as decisões estavam sempre concentradas nas mãos do presidente. A figura do Conselho torna o trabalho da entidade mais coletivo.

Não é que a ABCS fizesse um trabalho desmerecedor antes, ao contrário. Mas tratava-se de um trabalho apenas institucional. E a suinocultura brasileira se desenvolveu, tornou-se mais complexa e a entidade precisava avançar em outros setores, ser mais pró-ativa junto à cadeia, provocar mudanças.

Já existiam os exemplos de outras entidades associativas, que também trabalham dessa forma e os suinocultores foram compreendendo a necessidade dessa mudança. Entendiam ainda que os projetos da ABCS se multiplicaram e que precisavam ser geridos por pessoas com conhecimentos específicos.

Então a grande mudança foi essa, de transformar uma Diretoria-Executiva num Conselho de Administração. Esse Conselho continua sendo representado pelos suinocultores eleitos. Mas tem hoje uma atribuição muito mais estratégica. As grandes metas, as estratégias do setor, são todas definidas por esse Conselho.

E abaixo do Conselho de Administração está a Diretoria-Executiva. Compete a ela toda a gestão administrativa da entidade.

SI – Em outras palavras, a função maior do diretor-executivo será tirar os projetos da ABCS do papel…

Coser – Exatamente. Isso já vinha sendo feito, mas agora haverá uma pessoa exclusiva para responder por isso. O diretor-executivo cuidará da gestão administrativa e dos projetos da ABCS. Mas, mais do que isso, a criação do cargo tira o caráter personalista da entidade.

Pelo novo estatuto a diretoria-executiva tem um contrato de três anos, enquanto que a renovação do Conselho de Administração se dá de dois em dois anos. Isso significa que mesmo que haja mudanças na direção da entidade o projeto não fica comprometido. Quem entrar já vai encontrar uma estrutura funcionando. Isso resguarda a entidade de mudanças drásticas e da descontinuidade dos projetos.

SI – O mandato dessa diretoria-executiva pode ser renovado?

Coser – Sim. O que se fez foi descompatibilizar a vigência do mandato do Conselho de Administração do tempo de contrato da diretoria-executiva. Tudo para não comprometer o andamento dos projetos da ABCS. O estatuto prevê várias normas para a Diretoria-Executiva, mas suas maiores atribuições são a gestão operacional da entidade, a execução do plano estratégico aprovado pelo conselho e o assessoramento do conselho de administração em todas as suas atividades. A diretoria-executiva fica submetida às ordens do Conselho de Administração da ABCS que se reúne regularmente.

SI – Como será a sua estrutura de trabalho? Você terá outros profissionais ligados a você?

Coser – Hoje já temos outros profissionais que trabalham com a ABCS, mas até pela magnitude dos projetos que estamos encampando, principalmente o Projeto Sebrae [Programa Nacional de Desenvolvimento da Suinocultura, conhecido como “Projeto Sebrae”], vamos ter que fazer novas contrações.

O projeto já conta com um consultor de Marketing,função desempenhada pelo Fernando Barros, e em breve anunciaremos um consultor executivo que cuidará especificamente da operacionalização deste Projeto. Além disso o escritório de Brasília conta ainda com uma secretária executiva e uma estagiária. Na sede estatutária da entidade, que fica em Estrela-RS, temos a equipe responsável pelo registro genealógico de suínos,que é uma concessão do Ministério da Agricultura para a ABCS.

SI – Como o senhor encara essa nova função dentro da ABCS? Qual será o seu principal desafio?
 
Coser – Para mim é uma grande e desafiadora responsabilidade. A ABCS está entrando num novo patamar de atuação. Mas o trabalho é coletivo e temos uma equipe afinada. O maior desafio é dar capilaridade aos projetos estratégicos desenvolvidos pela entidade e fazer com que os mesmos sejam compreendidos e executados nas associações afiliadas. A ABCS é uma Confederação de 12 entidades estaduais, então o grande desafio e transmitir as ações estruturantes para as associações estaduais, que são as representantes diretas dos suinocultores.

SI – O fato de já estar a alguns anos dentro da ABCS e conhecer a estrutura irá facilitar o seu trabalho como diretor-executivo?
    
Coser – Sim, e eu só tenho a agradecer todo o apoio que encontrei dentro da cadeia produtiva, e principalmente dentro das associações estaduais. E além dos desafios que coloco como estratégicos para a execução dos projetos idealizados pela ABCS, temos também o desafio institucional, que é levar essa profissionalização para todas as entidades regionais.

Já temos associações estaduais bastante profissionalizadas. Mas temos associações estaduais que precisam buscar uma nova dinâmica. Portanto, temos esse desafio institucional, a diretoria-executiva vai tentar colaborar com essas instituições, propor uma nova dinâmica.

Não adianta apenas a ABCS se profissionalizar. A profissionalização tem que ter capilaridade para o setor. Até para que o suinocultor que esteja lá na ponta possa entender o trabalho que está sendo coordenado nacionalmente.

PROJETO SEBRAE

SI – O senhor falou que a ABCS tem uma série de projetos, quantos e quais são eles?

Coser – O cerne das ações da ABCS é o aumento do consumo de carne suína no mercado interno. Já estamos trabalhando nisso há quatro anos e esse vai continuar sendo o norte de nossas ações.

Hoje temos uma série de projetos encaminhados. Acabamos de firmar um convênio com o Sebrae para a execução do Programa Nacional de Desenvolvimento da Suinocultura. Trata-se de um programa ousado, com orçamento de mais de R$ 9 milhões. O objetivo é aumentar o consumo per capita de carne suína no Brasil em dois quilos até 2012. Para que isso aconteça estão previstas ações em todos os segmentos da cadeia produtiva. Posso lhe afirmar com toda segurança que nada dessa magnitude foi feito pelo setor no Brasil até os dias de hoje.

A ABCS também tem um projeto muito grande voltado para o Nordeste. Apesar da região ainda não ter uma suinocultura tecnificada em grande volume, ela tem uma produção suinícola bastante significativa e, mais do que isso, um mercado consumidor estratégico para o setor. São mais de 40 milhões de brasileiros que, mesmo com o aumento da renda per capita, consomem menos de quatro quilos de carne suína por ano.

Tivemos uma reunião recentemente em Pernambuco que contou com a participação de entidades dos Estados de Sergipe, Alagoas, Bahia, Paraíba e Maranhão. Nesta primeira etapa faremos um levantamento completo da suinocultura nordestina, para logo em seguida buscarmos projetos de fomento e de aumento de consumo de carne suína para aquela região.

SI – A ABCS também entrou no Cade com o objetivo de influenciar no acordo de desempenho relativo ao ato de concentração Sadia x Perdigão…

Coser – Exato, a ABCS também está atenta a esse movimento de concentração em andamento no setor de proteínas animais. Vemos esse momento como uma oportunidade ímpar para trabalhar a melhoria das condições contratuais dos suinocultores integrados às agroindústrias.

Já entramos no Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica] como a figura jurídica “terceiro interessado” para acompanhar de perto a fusão entre Perdigão e Sadia e principalmente para discutir a modernização dos contratos de integração. A ABCS conta com uma assessoria jurídica que irá auxiliá-la nesse trabalho. O objetivo é promover mudanças que estabeleçam uma relação contratual mais equilibrada entre produtores e integradoras.  

No mais, a ABCS quer, efetivamente, trabalhar com todos os suinocultores, sejam eles independentes, integrados ou cooperativados. A ABCS representa todo e qualquer suinocultor, sob qualquer forma de organização que ele esteja.

SI – O senhor disse que para alcançar a meta do “Projeto Sebrae”, estão previstas uma série de ações em todos os elos da cadeia produtiva. Como é que vocês pretendem escalonar essas ações?

Coser – No próprio projeto que apresentamos ao Sebrae antes do convênio ser assinado todas as ações já estavam desenhadas. Já há um cronograma definido. Os Estados participantes já estão orçamentados.

As ações abrangem o setor de produção, o setor da indústria e o setor da comercialização. Dentro do escopo do projeto já estão definidas as ações que serão desenvolvidas em cada um desses setores. Cabe a cada Estado priorizar o que será feito. Por exemplo, se o Estado do Rio Grande do Sul quiser priorizar ações no âmbito da produção ele pode, já que o projeto explicita quais são os itens da produção que precisam ser trabalhados.

O Programa Nacional de Desenvolvimento da Suinocultura, que chamamos de Projeto Sebrae, é um grande “guarda-chuva”, com as ações definidas para todas as áreas da cadeia produtiva, tendo como meta o aumento da demanda per capita anual de carne suína no Brasil. E cada Estado, junto à equipe executora do projeto nacional, que são o Sebrae Nacional – que tem um gestor de agronegócio; a ABCS – que tem um coordenador de projetos e a CNA – que tem um participante da Comissão de Suinocultura, vão definir as ações a serem executadas.

SI – Por onde pretendem iniciar a execução do projeto? O dinheiro já está liberado?

Coser – O projeto será implantando por etapas. A primeira parcela do recurso disponibilizado pelo Sebrae Nacional já foi liberada. Os recursos estão divididos em três etapas, que serão usados ao longo de três anos. O objetivo é dar início a execução do projeto em um ou dois Estados e paulatinamente ir estendo as ações para os outros.

Existe um prazo a ser cumprido. Dentro de um ano temos que atingir 80% das metas da primeira etapa para que possamos receber os recursos da segunda fase. Mas a ideia é começar com um ou dois Estados e depois ir agregando os outros.

DESAFIOS DO PROJETO

SI – Em sua opinião quais serão os principais desafios para a execução desses projetos da ABCS?

Coser – O principal desafio é estabelecer um trabalho devidamente coordenado com os Estados. Esse projeto, embora tenha contado com a participação deles, foi pensado e elaborado pela ABCS junto com o Sebrae. É preciso estabelecer uma fina sintonia com os Estados para que os resultados obtidos sejam os planejados, até pela distribuição dos recursos.

Só para você entender: o dinheiro disponibilizado pelo Sebrae de cada Estado terá contrapartida em igual valor pelo Sebrae Nacional. Por exemplo, o Sebrae de Minas Gerais está disponibilizando R$ 450 mil para o projeto. O Sebrae Nacional, por sua vez, está colocando R$ 450 mil. Então dos recursos do Sebrae teremos R$ 900 mil aplicados em Minas.

Os R$ 450 mil que são do Sebrae Nacional passam pela conta que a ABCS vai coordenar. Mas os R$ 450 mil do Sebrae Estadual vão direto para Minas Gerais. Ou seja, os R$ 900 mil serão aplicados no Estado, mas apenas R$ 450 mil a ABCS tem uma gestão direta, ficando o restante sob administração do grupo gestor do Estado.

Portanto, o grande desafio é coordenar as ações entre todas as partes envolvidas no projeto para que o objetivo do programa seja atingido.
 
SI – A disponibilidade de recursos financeiros (ou a falta deles), historicamente, sempre foi o principal entrave para a execução de projetos na suinocultura. O projeto com o Sebrae tem um orçamento considerável de R$ 9 milhões, mas que exige uma contrapartida de mais de 50% da ABCS, que se dará através de parcerias. Os acordos com os parceiros já estão adiantados?

Coser – Do valor total do projeto, a ABCS tem que arcar com uma contrapartida de R$ 5,2 milhões. As contrapartidas são de dois tipos: as econômicas e as financeiras. As financeiras são aquelas feitas sob a forma de aporte de recursos depositados em conta.

Já as contrapartidas econômicas podem ser feitas através de bens ou serviços. Ou seja, quando o recurso já está aplicado na instituição ou num trabalho. Por exemplo, o aluguel de uma sala, o trabalho de um funcionário etc.

Já temos R$ 1,5 milhão em um projeto a ser financiado pelo Fundo Setorial do Agronegócio do Ministério da Ciência e Tecnologia, através da Finep [Financiadora de Estudos e Projetos], já que a contrapartida financeira pode estar vinculada a novos projetos que a instituição busca dentro desse projeto maior. Por exemplo, parte do projeto da Finep é para pesquisa em classificação de carcaça, e é o que vai dar respaldo para que possamos realizar diversas ações dentro do Projeto Sebrae.

Temos também outro projeto já aprovado com o Ministério da Agricultura para a produção de um Manual de Cortes. E temos alguns apoios institucionais como o do Banco do Brasil e de alguns outros ministérios como o de Ciência e Tecnologia e o do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.

Também fizemos uma divisão e cada Estado participante do projeto vai buscar viabilizar recursos para a contrapartida. Por exemplo, se o Estado do Rio Grande do Sul recebeu 3% do valor total do projeto, ele vai buscar sua contrapartida no valor relativo a 3% da contrapartida econômica e 3% da contrapartida financeira.

SI – Em outros países, como os EUA, Inglaterra, Canadá, os projetos do setor têm o suporte de um Fundo formado pelos próprios suinocultores. Não seria oportuno uma iniciativa semelhante no Brasil?

Coser – Sem dúvida que sim e o Conselho da ABCS já vem discutindo esse assunto. Em nossa última reunião foi tomada a decisão de provocarmos junto aos Estados e suinocultores o debate sobre a necessidade de constituição de um Fundo. É muito importante para a suinocultura brasileira a criação desse Fundo.

Pretendemos trabalhar essa ideia já no ano que vem. Primeiro queremos levar essa discussão para as associações estaduais para que possamos debater com os suinocultores. A decisão cabe aos suinocultores.

Mas fica cada vez mais difícil buscar recursos nas empresas sem mostrar que o suinocultor também contribui. Uma entidade forte depende da participação de todo mundo. E nos últimos quatro anos conseguimos obter uma participação muito forte do setor de insumos. Chegou a hora do suinocultor mostrar que realmente acredita nesses projetos e dar também a sua contribuição.

SI – A ABCS já tem um modelo para a formação desse Fundo?

Coser – Alguns Estados já fazem isso. Temos o exemplo do Distrito Federal que cobra R$ 1,00 da indústria e R$ 1,00 do suinocultor. Os suinocultores do Mato Grosso já têm um fundo cujos recursos são destinados para projeto de desenvolvimento da suinocultura e outro para ações sanitárias. O Espírito Santo também tem alguma coisa nesse sentido.

O mecanismo seria praticamente o mesmo. Cada suinocultor contribuiria com R$ 0,30 ou R$ 0,50 por animal abatido. Um animal geralmente rende R$ 200 a R$ 250,00, então não é muito falar em R$ 0,30 ou R$ 0,50 para o desenvolvimento do setor. A contribuição seria direcionada para as entidades de representação dos suinocultores, tanto em nível estadual quanto em nível nacional. No ano passado tivemos 28,8 milhões de abates. Com uma contribuição de R$ 0,50 por suíno abatido teríamos um fundo que poderia chegar a quase R$ 15 milhões. Esse dinheiro poderia viabilizar ações em prol da cadeia.

SI – E as empresas do setor, como estão respondendo ao projeto?

Coser – A adesão está sendo surpreendente. As empresas de insumos estão bastante sensibilizadas, até pela magnitude do projeto.

Afinal, elevar em dois quilos o consumo per capita de carne suína no Brasil representa 200 mil novas matrizes no campo. Teremos investimentos fixos no campo da ordem de R$ 1 bilhão. Isso significa um incremento financeiro e econômico no setor muito grande. Todas as indústrias já vislumbraram isso.

Pudemos conferir isso agora nesta nova fase de divulgação do Selo Empresa Amiga da Suinocultura. Já visitamos 13 empresas, das 30 que são sócias corporativas. Todas elas, no mínimo, dobraram sua contribuição. As empresas estão respondendo fortemente ao nosso apelo e estão acreditando no trabalho.

A adesão se dá também até pelo momento de concentração que vive o setor. Temos hoje quatro agroindústrias que respondem por mais de 60% dos abates de suínos no Brasil. A Brasil Foods, por exemplo, responde por 40% dos abates de suínos no País. Essa concentração é ruim para as empresas, por que quem fica de fora da concorrência vai demorar, muitas vezes, dois ou três anos para tentar uma nova oportunidade de fornecimento de insumos. E quando há diversificação se aumenta a possibilidade de atuação das empresas.

Vemos que as empresas de insumos estão bastante sensibilizadas e sentimos que há uma vontade de todo o setor de que o projeto de certo. Diante dessa adesão, estamos dando um outro enfoque ao selo Empresa Amiga da Suinocultura. A partir de agora, em todos os nossos produtos, em todas as nossas ações, em todos os nossos banners, em todos nossos projetos, em todos os eventos que participarmos estaremos divulgando o nome dessas empresas.

SI – Em sua opinião, elevar em dois quilos o consumo per capita em três anos não é uma meta ousada, já que o crescimento tem sido muito pequeno nestes últimos anos?

Coser – Concordo que é ousada, mas tenho plena convicção de que é possível. O projeto piloto da campanha “Um novo Olhar” comprovou a viabilidade comercial da carne suína. A campanha demonstrou que o brasileiro gosta da carne suína e está disposto a consumi-la desde que ela seja apresentada de forma apropriada, em porções adequadas e em formatos convenientes.

Entretanto, a campanha nos mostrou também que existem gargalos nas diversas etapas da cadeia produtiva que impedem que a carne suína chegue de maneira adequada à mesa dos brasileiros. E são esses gargalos que o Projeto Sebrae se propõe a resolver.

MERCADO INTERNO X CRISE GLOBAL

SI – Diante da crise global os países aumentaram a proteção de seus mercados. Vê-se hoje um nítido avanço do protecionismo no mundo. Em sua opinião, esse movimento, aumenta a necessidade de explorar o potencial do mercado interno?

Coser – Sem dúvida. Muitas das pessoas que não compreendiam ou que não acreditavam na necessidade de aumento da demanda no mercado interno começaram a mudar de idéia diante desses movimentos protecionistas. A crise iniciada em outubro de 2008 exacerbou as atitudes protecionistas que rondam o mercado internacional.

Durante muitos anos – e eu não posso dizer se com boa ou má intenção – foi vendida a ideia de que o setor de suínos no Brasil cresceria pelas vias do mercado internacional. E é evidente que não é tão simples assim. Aumentar o mercado internacional, até pelas próprias condições sanitárias do Brasil – que é um país continental – e pelas condições dos nossos concorrentes, não é tarefa fácil.

Neste ano, com a crise global, o protecionismo ficou mais claro. A China já avisou que está aumentando sua produção de suínos, a Rússia já avisou que vai diminuir importações e que quer tornar-se autosuficiente. Se bem que a Rússia fala isso há pelo menos três anos. Nossas exportações estão paradas há quatro anos.

Agora ficou mais fácil de enxergar a importância do mercado doméstico. Sua conquista é fundamental para a sustentabilidade do suinocultor.

SI – Mas o avanço das exportações também é importante?

Coser – É evidente que sim. Nossa suinocultura deu um salto tecnológico quando ingressamos no mercado internacional. É muito importante participarmos do comércio internacional. Há de se considerar que temos uma boa participação, praticamente 20% de nossa produção é direcionada às exportações. É uma participação interessante, mas não podemos esperar que as exportações sejam a “salvação da lavoura”.

As exportações são importantes e devemos continuar trabalhando para aumentá-las. O que não podemos é relegar o mercado interno a simplesmente um plano de absorção daquilo que deixou de ser exportado.

Todas as nossas últimas crises foram geradas por problemas sanitários. Os mercados se fechavam, deixava-se de exportar 100 mil toneladas e o setor quebrava. Em 2002 para 2003 o setor quase foi à bancarrota em 18 meses por que ficaram 100 mil toneladas aqui dentro. Isso não pode acontecer.

O mercado brasileiro tem que ter capacidade para absorver esse volume. O brasileiro gosta da carne suína. Mas acho também que ela foi muito mal tratada. Não temos o produto que o brasileiro, o consumidor moderno deseja comprar. Por isso estamos fazendo esse trabalho de reestruturação da cadeia. Em todos os projetos que trabalhamos pensamos na sustentabilidade do suinocultor.