A abertura do mercado japonês para a carne suína de Santa Catarina – a única área livre de aftosa sem vacinação no Brasil – anunciado oficialmente em Tóquio e em Brasília, nesta semana, cria expectativas positivas para a agroindústria barriga-verde. Há cerca de dez anos as indústrias, os produtores rurais e o governo desenvolviam gestões diplomáticas e comerciais com esse objetivo.
“O Japão é um dos maiores compradores mundiais e é a melhor alternativa para a carne suína”, ressaltou o presidente da Coopercentral Aurora Alimentos Mário Lanznaster. O país tem capacidade potencial para importar até 1,2 milhão de toneladas por ano, volume atualmente fornecido pelos Estados Unidos.O dirigente acredita que em 90 dias podem iniciar os primeiros embarques, se os contatos comerciais tiverem êxito.
A decisão do Japão em comprar a carne de Santa Catarina levou em consideração a estrutura de produção no campo e nas industrias e o sistema de controle da sanidade animal.Uma comitiva japonesa virá ao Brasil para visitar as indústrias do Estado e orientar que tipos de cortes os japoneses desejam. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) indicará as indústrias que serão vistoriadas.
Lanznaster confirmou que a unidade FACH1 da Aurora, em Chapecó, já está habilitada para exportação para o Japão. Serão necessárias algumas adequações na planta industrial para atender as especificidades dos cortes que o mercado japonês exige. Além disso, os profissionais serão preparados para fazer os cortes solicitados pelos japoneses.
Produto, apresentação e preço serão determinantes no fechamento dos negócios. Os japoneses querem cortes nobres, como pernil, paleta, sobrepaleta e carré. Os clientes da Aurora no Japão, que há décadas compram carne de frango (especialmente peito, coxa e sobrecoxa desossada), já estão mantendo contatos para a negociação com a carne suína.
Ainda não há estimativa de vendas, mas, Lanznaster acredita que em um ano pode ser atingido um nível de vendas semelhante aos “bons tempos de exportação para a Rússia”, quando o Brasil chegou a vender cerca de meio milhão de toneladas/ano.
“É um processo lento, não avaliamos a quantidade de oferta, mas calculamos que em 90 dias estaremos embarcando de três a quatro contêineres, com 25 toneladas cada. Até o final do ano a intenção é atingir de 200 a 400 toneladas”, comentou Lanznaster.
O diretor de agropecuária e presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (Ocesc), Marcos Antonio Zordan, destacou que o Japão exige absoluto rigor sanitário e eficiente controle do processo produtivo. A principal exigência é que os suínos sejam nascidos, criados e abatidos em território catarinense, tenham nutrição de alto padrão e registro de todos os medicamentos ministrados durante a vida do animal em boletim veterinário.
Zordan destacou que a abertura do Japão beneficiará os produtores que participação do regime de integração das agroindústrias e das cooperativas agropecuárias, porque esses criadores já cumprem todas as normas e exigências do mercado nipônico.
O vice-presidente da Aurora, Neivor Canton, disse ser necessário conter a euforia. “Não podemos fazer investimentos desenfreados, por isso, a palavra de ordem é moderação”, realçou. Para Canton, o momento é de garantir que a produção esteja apta à exportação e não há necessidade de se preocupar com a ampliação da produção, porque a industrialização está no seu limite. “Nossa expectativa é de que com a abertura do mercado japonês ocorra uma melhoria no preço da carne suína no mercado externo”, comentou.