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Agroindústrias

ADM investe

América do Sul ganha cada vez mais destaque nas operações da ADM. A ideia é continuar crescendo no Brasil e existem alguns planos em análise.

O gaúcho Valmor Schaffer trabalha há tempo suficiente na ADM para saber o quão avessa é a multinacional americana a revelar detalhes e planos sobre suas operações globais. Mas, por menos que possa dar pistas sobre o futuro, o executivo não pode negar que acaba de ser alçado a uma das posições mais estratégicas da companhia.

Nomeado ontem presidente para a América do Sul, Schaffer terá a missão de coordenar o avanço da ADM em uma das poucas regiões do mundo onde ainda há espaço físico para o avanço da agricultura. E expandir as operações nessa fronteira, sobretudo na próxima década, será quase uma questão de sobrevivência para quem depende de matérias-primas como soja, milho e trigo.

Aos 50 anos, natural de Três de Maio, na ADM desde 1999, Schaffer recorre a um posicionamento protocolar diante das considerações iniciais feitas pelo Valor: “A demanda mundial por alimentos deve continuar crescendo, puxada pelos países emergentes, e o nosso principal desafio é seguir ampliando o alcance e diversificando o portfólio do grupo”.

Em seguida, porém, surpreende ao revelar o quanto a estrutura da múlti já cresceu na América do Sul e colaborou para que o faturamento global do grupo superasse US$ 80 bilhões no exercício 2011 (encerrado em 30 de junho), quase US$ 20 bilhões acima de 2010 e 2,2 vezes mais que em 2006. Em tempos de commodities agrícolas valorizadas, o lucro líquido consolidado da ADM também é crescente. Foi de US$ 2,036 bilhões em 2011, 5,5% superior ao de 2010 e o segundo maior em seis anos.

Dada a reserva da companhia em relação aos detalhes de seus resultados, é difícil precisar o peso sul-americano nos resultados divulgados. Mas os sinais disponíveis indicam que ele é cada vez maior. A partir do Brasil, onde está presente com operações diretas desde 1997, a ADM exportou US$ 2,169 bilhões entre janeiro e julho deste ano, um crescimento de 16% na comparação com igual intervalo de 2010.

Em todo o ano passado, os embarques da subsidiária brasileira renderam US$ 2,631 bilhões e a transformaram na sexta maior exportadora do país, atrás de Vale, Petrobras, Bunge, Cargill e Samarco, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Em 2000, foram US$ 482,8 milhões.

Carro-chefe do grupo na América do Sul, a operação brasileira vem crescendo tão aceleradamente que em seu perfil na página da ADM na internet (www.adm.com) ainda consta que ela emprega “mais de 2 mil funcionários”, quando Schaffer informa que já são 4 mil. Diretos, reforçou.

A soja move as principais engrenagens da multinacional no Brasil. São quatro unidades de esmagamento – Rondonópolis (MT), Uberlândia (MG), Campo Grande (MS) e Joaçaba (SC) -, com capacidade total de processamento de cerca de 4 milhões de toneladas por safra. A ADM exporta o grão diretamente, mas também produz farelo e óleo de soja destinados aos mercados externo e doméstico.

E essa capacidade vai crescer. De acordo com o novo presidente da companhia para a América do Sul, as negociações para o arrendamento de uma quinta unidade, mais uma na região Centro-Oeste, estão em fase final.

“Estamos de olho na força do mercado brasileiro, que está em constante expansão. A renda está em ascensão, o consumo de carnes é crescente [o que amplia a demanda por farelo para a produção de rações] e há o biodiesel, que produzimos no Brasil a partir do óleo de soja. Hoje, o parque industrial brasileiro como um todo está adequado para suprir a demanda, mas, em alguns anos, ele terá de ser ampliado”, afirma.

Também em Rondonópolis, anexa à planta de esmagamento de soja, a ADM conta com a maior fábrica de biodiesel do Brasil, com capacidade para 1,2 mil toneladas por dia. E em Joaçaba já está em andamento um projeto para a construção de uma unidade, a primeira de Santa Catarina, com capacidade diária para 500 mil toneladas.

Ainda no biodiesel, outro plano que está sendo tocado é o que prevê o plantio de 6 mil hectares de palma no Norte, em parceria com 600 famílias de pequenos produtores, e de uma unidade para processar o óleo que deverá entrar em operação até 2014. Em um segundo momento, está previsto o plantio de outros 6 mil hectares.

“Alimentos e biocombustíveis são o foco da empresa”, confirma Schaffer, antes de prosseguir a entrevista e lembrar que a ADM também conta com uma usina que produz etanol de cana em Limeira D’Oeste (MG). “Nos EUA, somos uma das maiores produtores de etanol [de milho], e na Europa, uma grande produtora de biodiesel”, observa o executivo.

A companhia não tem unidades de processamento de milho no Brasil, mas é “grande exportadora e fornecedora do produto no mercado doméstico”. O milho divide com a soja espaço na rede de 40 silos graneleiros da ADM no país. “O ano passado foi um divisor de águas para o milho no Brasil. Hoje temos um excedente exportável, o consumo interno é importante e o produto deve se solidificar”. Na área de cacau, a companhia tem uma beneficiadora em Ilhéus com capacidade para 60 mil toneladas por ano.

Outra área vital para a multinacional é a de fertilizantes, pela importância que tem na estratégia do grupo de garantir matéria-prima. Como suas concorrentes, a ADM muitas vezes fornece o insumo aos agricultores antes do plantio e garante a compra da produção depois da colheita.

Ontem Valmor Schaffer estava particularmente atento aos fertilizantes, já que hoje fará sua estreia pública como novo presidente da ADM para a América do Sul justamente na inauguração de uma unidade de mistura de adubos, a quinta no Brasil. A fita será cortada em Uberaba (MG), e a nova planta tem capacidade para 14 mil toneladas por dia. Trata-se de outro projeto iniciado por seu antecessor, Domingo Lastra, que foi promovido e embarcou para a matriz.

Agora é a vez de Schaffer, e mesmo com a entrevista sendo feita por telefone é palpável que novos projetos estão no forno. “Nunca está bom. A ideia é continuar crescendo no Brasil, e temos alguns planos em análise”.