Os investimentos no setor agrícola nos países em desenvolvimento suscitam um interesse “real e crescente” entre empresas multinacionais e os governos precisam definir estratégias e regular as atividades dessas empresas na produção. Essa é a conclusão Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) em seu Relatório Mundial de Investimentos.
Entre 1990-2007, o fluxo de Investimento Direto Estrangeiro (IED) na produção agrícola triplicou, atingindo US$ 3 bilhões por ano. Mas o fluxo na inteira cadeia de produção – da fazenda ao supermercado – é bem maior. Alimentos e bebidas respondem por mais de US$ 40 bilhões do fluxo anual entre 2005 e 2007.
Três fatores explicam essa expansão: os emergentes aumentaram a necessidade de importar alimentos, a demanda por etanol cresceu e a escassez de terra e água em certos países forçam a busca de produção em outros países. No Camboja, Equador e Moçambique, por exemplo, a parte de IED na agricultura fica em torno de 15%. No Brasil, não passa de 1,6%.
No entanto, o investimento direto é apenas um dos modos pelos quais investidores estrangeiros se envolvem em países em desenvolvimento. Outra forma é por meio de “contratos de produção”, pelos quais multinacionais acertam com agricultores determinada produção conforme suas necessidades e especificações. Esses contratos se propagam globalmente, ocorrendo em mais de 110 países, na América Latina, África e Ásia, para produção de commodities como soja, algodão, açúcar e chá.
No Brasil, 75% da produção de frango e 35% da produção de soja são feitas com base nesses contratos. Para os agricultores, isso permite previsibilidade na renda. Para as multinacionais, possibilita melhor controle sobre a produção. A Nestlé tem contratos com 600 mil agricultores em 80 países, e a Olam, de Cingapura, dispõe de uma rede de 200 mil fornecedores em 60 países.
A Unctad considera positiva a participação estrangeira para aumentar a produção e modernizar o setor, mas sugere que os governos enquadrem o fluxo e definam claramente a finalidade da produção. Também sugere que os governos elaborem contratos-padrão, para proteger os interesses dos agricultores que negociam com as multinacionais. Das 25 maiores multinacionais do agronegócio, somente três são originárias de países em desenvolvimento, e nenhuma é do Brasil, segundo dados da Unctad.