A marca de ovos Matinados, de galinhas criadas ao ar livre, existe desde 1998. Mas era um nicho de mercado para a Companhia Avícola do Centro (CAC), que nasceu como cooperativa de agricultores, em 1986, e que mais tarde passou a sociedade anónima, neste momento com oito acionistas. O ano de 2011 marcou uma viragem na estratégia da CAC, que decidiu apostar nos chamados ovos “alternativos” – de solo, de galinhas criadas ao ar livre e biológicos – que são agora o motor do crescimento da empresa, que faturou 84 milhões no ano passado, e este ano prevê um volume de negócios de 90 milhões de euros.
Uma diretiva europeia de bem-estar animal, que obrigou a “investimentos significativos” no melhoramento das jaulas, deu o empurrão para que o ar livre passasse a ganhar terreno na produção. “Simultaneamente, começámos a ver a tendência que o mercado europeu do Centro e Norte da Europa levavam. E verificámos que, decorrente desta diretiva, se estavam a afastar das jaulas e a caminhar para as produções extensivas ou semi-extensivas. E vimos isso como uma oportunidade de mercado, de seguirmos na frente dos nossos concorrentes, que foi o que aconteceu. Delineámos uma estratégia de aposta nessas linhas de produção alternativas, com ênfase sempre no ar livre e no biológico também”, diz Manuel Sobreiro, presidente da CAC, e um dos maiores acionistas da empresa, com 40% do capital.
Os ovos de gaiola já representaram 98% da produção da CAC, mas neste momento os alternativos já estão em maioria, com um peso de 52% do total da produção que, no ano passado, atingiu quase 50 milhões de dúzias de ovos. “Queremos chegar ao final de 2022 com 55% de alternativos”, avança o produtor.
Os ovos biológicos – produzidos em quintas certificadas, com espaços internos para as galinhas com áreas maiores e uma alimentação exclusivamente biológica – ainda é um nicho, explica Manuel Sobreiro, mas vai expandir-se de forma acelerada neste ano. No ano passado a produção de biológicos cresceu 20%, “neste início de ano mais 20% e em meados do ano crescerá mais 20%, será um aumento sucessivo”. Este reforço previsto pela CAC será o suficiente para evitar a importação nesta categoria.
“A nossa organização fez, nos últimos dois, três anos, uma aposta forte neste segmento de maneira a colmatar esta necessidade de importação. E no final de julho deste ano, 2022, estamos em condições de abastecer a totalidade do mercado em ovos biológicos, sem necessidade de os importar”, garante o empresário.
Os ovos biológicos custam o dobro de um ovo de gaiola, os de solo mais 15% e os ovos de galinhas criadas ao ar livre mais 30%. “Mas aquilo que vai acontecer com o crescimento destas categorias é a redução desta diferença. Quanto mais o mercado vai crescendo em dimensão mais essa diferença se reduz. Já está a acontecer, aconteceu neste aumento de preços e vai continuar a acontecer”, diz Manuel Sobreiro.
Custos aumentam 40%
O aumento de preços a que se refere o presidente da CAC aconteceu em dezembro de 2021 e no mês passado, na sequência do agravamento do custo das matérias-primas. “É o nosso grande problema. A alimentação, ou seja, o milho, trigo, a soja, girassol, são fatores determinantes na alimentação das galinhas, e a alimentação no total do custo de produção tem um impacto muito significativo. Os custos, de outubro de 2020 para agora, subiram cerca de 40%”, avança. “Os preços subiram na ordem dos 15%, a nossa alteração, porque depois, para o consumidor, o impacto é maior – estamos a falar de 20% de subida dos preços. Nestas gamas que têm vindo a ganhar escala mitigámos um bocadinho o aumento, a subida aí foi ligeiramente inferior”, conta.
Mais investimento
No ano passado a CAC concluiu um investimento de oito milhões de euros que permitiu duplicar a capacidade da principal unidade de inspeção, classificação e embalamento, em Bidoeira de Cima, Leiria, onde fica a sede. “A capacidade de inspeção permite-nos classificar mais 120 mil ovos por hora, garantindo que o nosso crescimento, nos próximos quatro ou cinco anos, está assegurado por este investimento”.
Para colmatar a falta de mão-de-obra, que considera “um problema cada vez mais premente”, a empresa “apostou na vertente da automatização. Comprámos equipamento com muito mais automatismo para reduzir a mão-de-obra. Mesmo assim, para colocarmos esta nova unidade a funcionar, tivemos que acorrer a muita mão-de-obra estrangeira [da Índia]”.
A CAC emprega 300 trabalhadores espalhados por 25 concelhos do país, onde tem dez quintas de galinhas criadas ao ar livre e mais três centos de inspeção, classificação e embalamento, para além do de Bidoeira de Cima (em Leiria, Tondela e Guimarães). “Apostando muito na produção extensiva, ou seja, sendo a nossa aposta principal o ar livre e o biológico, tivemos de ir à procura de locais de dimensão, mais acessíveis no preço, daí a nossa viragem para o interior do país, onde há locais mais baratos e melhores condições de arborização, que são importantes para este tipo de produção também”, explica Manuel Sobreiro
Os investimentos são para continuar. “Para este crescimento temos que investir nas explorações na ordem dos dez milhões de euros, nos próximos cinco anos”, adianta. Nos planos está ainda um projeto de economia circular, com a construção de uma fábrica em Pombal.
“Nós compramos cereais, produzimos rações, alimentamos os animais. Os animais produzem excrementos, esses excrementos são aplicados na agricultura, mas não de uma forma tratada. E nós queremos tratá-los e transformá-los e vendê-los como adubo orgânico sustentável. Mas é um investimento elevado, que só por si nos vai atirar para dez milhões de euros, nas nossas explorações conjuntas, e isso tem de ser objeto de uma candidatura”. A empresa participou nas Agendas Mobilizadoras do Plano de Recuperação e Resiliência, em conjunto com a Câmara de Leiria e outras empresas, mas não passou na primeira fase. Espera agora por uma segunda oportunidade.