As ações das empresas do setor de agronegócio registraram uma valorização média de 165,25% no ano de 2009, de acordo com levantamento realizado pela Economática a pedido da Agência Estado. No cálculo, foram consideradas as ações de empresas listadas na Bovespa, que participam de toda cadeia do agribusiness, do fabricante de insumos e fertilizantes até bebidas e alimentos. O ganho médio do setor só foi menor do que o registrado por construção, que subiu 221,36%, e eletroeletrônico, que registrou alta de 188,19%.
Entre as empresas de agronegócio incluídas no levantamento da Economática, a maior variação foi a do frigorífico Minerva, com valorização de 246,77% no período, seguida pela Laep, do setor de laticínios, com 206,67%, e fertilizantes Heringer, com 200%. As ações de Açúcar Guarani, Marfrig e Brasil Ecodiesel também registraram ganhos expressivos de, respectivamente, 173%, 161% e 150,5%.
Para Amaryllis Romano, da Tendências Consultoria, as ações das empresas estão refletindo o atual cenário interno. “O Brasil possui os menores custos de produção de commodities do mundo, é tradicionalmente forte em exportação de produtos como açúcar, soja e café. As empresas possuem escala e competitividade e o mercado interno é crescente”, afirma. Ela lembra que o Brasil se consolidou como principal produtor de carnes do mundo, graças a empresas como JBS Friboi, cujas ações subiram 89,3% em 2009, e Brasil Foods, com alta de 53,34% em seus papéis. Amaryllis lembra que o movimento de aquisições também contribuiu para a elevação das cotações. “Vale notar que muitas destas empresas mudaram de tamanho, o que muda seu valor”, disse.
De maneira geral, as empresas de capital aberto do setor de alimentos foram beneficiadas por uma combinação de fatores conjunturais, principalmente pelo ganho de renda do consumidor doméstico. “Se a crise reduziu a demanda externa e as exportações, o mercado consumidor brasileiro voltou a se aquecer com o aumento de renda e isso se refletiu no consumo de alimentos, principalmente carne”, afirma Amaryllis. Segundo ela, o aumento de demanda interna foi suficiente para manter a competitividade dessas empresas mesmo com o câmbio desfavorável.
O analista Rafael Cintra, da Link Investimentos observa que o câmbio foi essencial para que muitas companhias fizessem aquisições e ampliassem seus ativos. “Essas empresas já estavam capitalizadas e aproveitaram a queda do dólar para crescer, até com aquisições no exterior”, disse ele. Cintra ressalta que o bom desempenho das empresas do agribusiness em Bolsa sinaliza que o otimismo continuará em 2010, uma vez que o valor das ações reflete uma expectativa futura do desempenho das empresas.
Cintra espera que em 2010 as exportações também voltem a crescer diante de uma recuperação gradual do mercado internacional. “Além da recuperação do mercado externo, as empresas de alimentos também deverão se beneficiar de custos menores diante da expectativa de preços mais baixos de commodities em função de safras maiores. As margens ficarão melhores”, disse Cintra.
Para o sócio diretor da RC Consultores, Fábio Silveira, ao analisar as ações de empresas em 2009 deve-se levar em conta que elas estavam bastante desvalorizadas em função da crise, o que torna qualquer crescimento expressivo. Silveira concorda, contudo, que estas empresas devem se beneficiar com a continuidade da expansão da demanda interna por alimentos, principalmente em 2010 e 2011.