Os produtores de aves e suínos do Brasil aumentaram o consumo de ração no primeiro semestre, indicando um elevado alojamento de animais, mas os efeitos dos altos preços de grãos deverão ter repercussões na segunda metade do ano, com uma queda no consumo, estimou nesta sexta-feira (26/08) o Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações).
O consumo de ração animal – da qual o milho e o farelo de soja são os principais ingredientes- atingiu 33,3 milhões de toneladas no primeiro semestre deste ano, alta de 3,2 por cento ante o mesmo período de 2015.
O Sindirações projeta que no segundo semestre, quando habitualmente há um consumo maior de ração, os volumes sigam estáveis ante o primeiro semestre, configurando uma queda na comparação com a segunda metade de 2015.
“O primeiro semestre ainda produziu animais que vinham de um alojamento na expectativa de melhora econômica e de boa oferta de milho… Mas o futuro é incerto em termos de preços. No segundo semestre já devemos perceber recuo na demanda por ração”, disse à Reuters o vice-presidente-executivo da entidade, Ariovaldo Zani.
O uso por granjas de aves e suínos constitui mais de 80 por cento do consumo de rações no Brasil, seguido dos setores de bovinos e de cães e gatos.
O Brasil enfrenta um aperto na oferta de milho após fortes exportações e após uma séria frustração na safra de 2016. Segundo o Sindirações, os custos com o cereal tocaram um pico em maio e atingiram em junho uma alta de 81 por cento ante o início de 2015.
Também houve uma forte valorização dos custos com farelo de soja (de 53 por cento em 18 meses), com uma aceleração no segundo trimestre deste ano.
“O milho já começou a pressionar no início deste ano… O produtor não teve alivio, foi um primeiro semestre muito difícil”, disse o executivo. “Em maio, junho, o pessoal percebeu que não tem jeito, reduzindo o alojamento.”
No setor de aves, 90 por cento da produção é integrada e no de suínos, 70 por cento, o que significa que a produção de ração é apenas uma das atividades intermediárias entre a compra de insumos e a venda de carnes aos consumidores.
A brasileira BRF, maior exportadora global de carne de frango, avaliou no fim de julho que poderá fazer novos aumentos de preços na segunda metade deste ano, após novo reajuste implementado no final de maio, em estratégia para recuperar rentabilidade no Brasil, abalada pela alta nos custos de grãos e queda no preço em dólares do frango na primeira metade do ano.
Já a JBS, outra grande produtora de frangos e suínos do país, também sofreu nos últimos meses com a alta do milho.
A geração de caixa medida pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) da unidade Seara, que reúne operações de aves, suínos e alimentos processados da JBS no Brasil, despencou cerca de 50 por cento no segundo trimestre de 2016 na comparação anual.
Em seu relatório trimestral, a companhia disse que o “aumento de preço médio (dos seus produtos) não foi suficiente para mitigar o expressivo aumento do custo da nossa principal matéria-prima, o milho, que apresentou um crescimento de mais de 100 por cento quando comparado ao mesmo trimestre do ano anterior”.