Os problemas da economia nacional não são motivo de desilusão para os produtores de frango e suínos. Embaladas pela desvalorização do real perante o dólar, as duas cadeias produtivas driblam o cenário de pessimismo e sustentam ganho de participação no mercado externo. Ao mesmo tempo, o setor tenta aproveitar o cenário de valorização da proteína nas vendas domésticas, que entram em viés de alta mirando as festas de final de ano.
Após bater neste ano o recorde mensal de embarques, o frango vive o momento mais favorável no exterior. Conforme levantamento da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), entre janeiro e setembro o volume negociado com o exterior subiu 4,8% ante 2014, chegando a 3,2 milhões de toneladas vendidas. Mesmo recebendo 9,1% a menos em dólar (US$ 5,4 bilhões no período), a indústria celebra incremento de 26,6% na receita em real, para R$ 17,3 bilhões. “A maioria dos mercados manteve os mesmos níveis de compras, o que sustenta as projeções de um saldo positivo das exportações para 2015”, destaca Ricardo Santin, vice-presidente de aves da associação.
No caso dos suínos, o apetite de mercados como a Rússia garante fôlego às vendas. Um terço do volume exportado em 2015 seguiu para o país, mostram dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). O quadro faz a ABPA projetar que o setor também vai superar os números de 2014.
O momento favorável é complementado pela boa remuneração do mercado doméstico. No Paraná, o preço pago ao produtor pelo quilo do frango em setembro subiu 3,6% em relação ao mês anterior, com média de R$ 2,44. Já o suíno de raça acumula valorização de 12,7% no período, chegando a R$ 3,47/kg. “No mercado de suínos a forte alta em setembro é reflexo principalmente dos bons volumes de exportação, que vem enxugando os estoques da carne no mercado doméstico”, afirma o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em relatório. “Além disso, o frango também vinha competitivo frente às carnes bovina e suína, fomentando a demanda”, detalha a entidade, em outro relatório.
América Latina é a segunda potência mundial em produção de proteína animal
Garantir a segurança alimentar no mundo é hoje, mais do que nunca, de vital importância e, para conseguir isso, a proteína animal é fundamental. A alimentação é um direito humano e a América Latina pode contribuir para a nutrição adequada da população.
No âmbito do Dia Mundial da Alimentação, a produção da proteína animal ganha relevância na região, que ocupa o segundo lugar mundial na produção de carne, leite e ovos – com mais de 144 milhões de toneladas anuais –, somente abaixo da Ásia, segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (Fao).
Inclusive, dentro da América Latina, apenas seis países – Argentina, Brasil, Colômbia, Equador, Costa Rica e México – contribuem com 81,6% da produção desse tipo de proteínas, o que equivale a 118 milhões de toneladas. Diferentes associações e empresas dessas nações formam o Conselho Latino-americano de Proteína Animal (Colapa), cujo objetivo é promover de modo proativo os benefícios da proteína animal, impulsionar sua produção e fomentar seu consumo.
“Contribuir para combater a fome e a desnutrição, cuidando dos recursos naturais com uma produção sustentável de proteína animal, é prioridade para os países nos quais o Conselho está presente, entre eles, o Brasil. A Assocon dá sua contribuição a esse processo multiplicando conhecimento e tecnologias aos pecuaristas, que estão na base da cadeia da oferta de alimentos, para que eles produzam mais e melhor”, Alberto Pessina, Vice-Presidente da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon), uma das entidades membro do Colapa no Brasil.
Para o ano de 2050, a Organização das Nações Unidas (ONU) estima que a população mundial será de 9 bilhões de pessoas. Para alimentar este crescente número de indivíduos, a produção anual de carne deve aumentar em mais de 200 milhões de toneladas até alcançar os 470 milhões, de acordo com a FAO.
Do total da produção de carne, ovos e leite na América Latina, o Brasil contribui com mais de 26 milhões de toneladas de carne – bovina, suína, de frango, entre outras –; mais de 34 milhões de toneladas de leite; e mais de 2 milhões de toneladas de ovos. Segundo números da FAO, o Brasil tem uma produção anual de mais de 62 milhões de toneladas de proteína animal.
“As proteínas animais devem ser consumidas diariamente, pois nos permitem produzir mais defesas, ganhar massa muscular, melhorar a circulação, calcificar e enriquecer nossos ossos. A deficiência proteica é considerada um estado de desnutrição. Seus sintomas podem tornar-se muito graves e afetar todo o organismo. Nesse sentido, a cadeia produtiva deve estar alinhada para potencializar a oferta de proteínas animais de qualidade, envolvendo todos os elos – do produtor à indústria”, conclui Pessina.
Produzir mais proteína animal, de qualidade e sustentável, permitirá enfrentar com maior eficácia a insegurança alimentar e romper o ciclo da pobreza, ação que a FAO impulsiona este ano no âmbito do Dia Mundial da Alimentação.