Em 1994, a Perdigão fazia 60 anos e era uma empresa familiar quase quebrando quando teve seu controle acionário comprado pela WEG e por fundos de pensão. Foi uma transformação radical na vida da empresa fundada pelas famílias Brandalise e Ponzoni, em 1934, e que começou como um armazém de secos e molhados às margens do Rio do Peixe, em Santa Catarina, onde é hoje a cidade de Videira.
Até os anos 1990, a empresa cresceu principalmente por meio de aquisições nas áreas de suínos e aves. E sempre foi menor que a rival Sadia, também fundada em Santa Catarina, na cidade de Concórdia, em 1944.
Mas a venda do controle acionário da Perdigão foi o primeiro passo para mudar a história da empresa e levá-la, nos anos seguintes, a disputar de igual para igual com a Sadia no mercado brasileiro e no exterior.
Por trás da mudança esteve Nildemar Secches, hoje presidente do conselho de administração da empresa, e que assumiu a direção da companhia em 1995. Como ele mesmo disse em entrevista no começo do ano passado ao Valor, pegou “uma bucha de canhão” quando assumiu a Perdigão. Mas agora colhe os louros de uma administração bem-sucedida que culmina com a compra da rival Sadia.
Secches ficou até o ano passado na presidência da empresa, quando foi substituído por José Antônio do Prado Fay.
Nos 14 anos, desde que passou a ser controlada pelos fundos, a Perdigão multiplicou por 26 a sua receita líquida e por 37 o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (lajida). O valor de mercado da empresa ficou 35 vezes maior.
O número de funcionários no período também disparou, saindo de 12 mil em 15 unidades para 60 mil nas atuais 42 plantas (três delas na Europa).
O crescimento foi sustentado, em parte, por um investimento pioneiro no Centro-Oeste do país, onde a Perdigão construiu seu maior complexo industrial, em Rio Verde (GO), que entrou em operação há nove anos.
Ao mesmo tempo, a empresa fez aquisições estratégicas, como a compra de 51% da área de carnes da Batávia em 2000, o que significou a sua estreia no segmento de perus. No ano seguinte, adquiriu o controle da empresa. Em 2006, entrou em lácteos, seguindo a estratégia de diversificação, com a compra de 51% da área de lácteos da Batávia. Comprou os 49% restantes, que pertenciam a cooperativas paranaenses, em 2007.
Foi em 2007, aliás, que se deu o verdadeiro salto da Perdigão. Depois de ter recusado oferta hostil de compra feita pela Sadia, em julho de 2006, a empresa iniciou uma série de aquisições no ano seguinte, que a levaram a superar a concorrente em receita e valor de mercado. A mais importante delas foi a compra da gaúcha Eleva (antiga Avipal), com atuação em carnes e lácteos.
Houve ainda a compra da Plus Food, na Europa, marcando a internacionalização da empresa, e a entrada em bovinos. E no ano passado, a empresa ampliou ainda mais o investimento em lácteos, com a compra da mineira Cotochés.
Além de um planejamento estratégico muito claro nos últimos 15 anos, especialistas atribuem o avanço da Perdigão aos investimentos na governança da empresa, que entrou para o Novo Mercado da bolsa em 2006.
Os sucessos foram vários desde 1994 para a Perdigão, mas a companhia também enfrentou momentos difíceis, como a da oferta hostil feita pela Sadia. Mas Secches já disse que esse não foi o mais crítico. O mais complicado, afirmou numa entrevista, foi o episódio de contaminação de carne de frango por nitrofurano, em 2002, quando países da Europa e da Ásia começaram a devolver cargas de frango da companhia.