Redação (13/01/2009)- O grupo Arantes, dono da Arantes Alimentos, que vinha numa agressiva estratégia de crescimento e diversificação via aquisições desde o fim de 2007, entrou, na última sexta-feira, com pedido de recuperação judicial na comarca de Nova Monte Verde (MT). O valor das dívidas incluídas na recuperação judicial é estimado em cerca de R$ 1,5 bilhão, segundo o advogado Geraldo Gouveia Júnior, do escritório Advocacia De Luizi, que representa o grupo. O valor se refere a débitos com fornecedores, títulos externos, bancos e trabalhistas de dez empresas do grupo Arantes, incluindo a Arantes Alimentos.
A justificativa para o pedido, de acordo com Gouveia, foram a desvalorização cambial, operações com derivativos, restrição de crédito por causa da crise financeira internacional e queda de pedidos de produtos. As perdas com derivativos do Arantes são estimadas entre R$ 200 milhões e R$ 250 milhões, informou ele.
A estratégia agressiva de expansão do grupo, que desde o fim de 2007 adquiriu a Hans, a Eder e a Frango Sertanejo, também acabou interferindo, num momento de crédito escasso. Na avaliação dos advogados, as novas aquisições "não estavam devidamente estruturadas para enfrentar a crise". De acordo com Gouveia, só nos últimos meses, por conta da crise, o grupo "perdeu linhas [de crédito] de curto prazo de R$ 100 milhões".
Na semana passada, a Fitch rebaixou o rating de probabilidade de inadimplência da Arantes Alimentos em moedas local e estrangeira, além do Rating em Escala Nacional. Também rebaixou o rating do eurobônus de US$ 150 milhões, que a empresa captou em meados de 2008. O rebaixamento se deveu à "reduzida flexibilidade financeira da Arantes e à potencial dificuldade da empresa em renovar suas linhas de crédito bancárias de curto prazo e fazer frente a outras obrigações mais imediatas, incluindo os R$ 220 milhões em dívidas de curto prazo". A Arantes não conseguiu pagar, em 19 de dezembro, juros de US$ 8 milhões referentes à emissão de notas seniores sem garantia. Informou a credores que faria o pagamento no último dia 10, mas não o fez.
O plano de recuperação do Arantes, a ser apresentado após o deferimento do pedido à Justiça, deve incluir a paralisação de unidades. Segundo Gouveia, ainda está em análise que fábricas deixarão de operar. O Valor apurou que de sete frigoríficos de bovinos, quatro deverão continuar operando, assim como as duas unidades da Frango Sertanejo, no interior paulista. Deverão ocorrer demissões.
Só entre o fim de 2007 e em 2008, a Arantes Alimentos – antigo Frigoalta, que até dois anos atrás atuava apenas em bovinos – investiu cerca de R$ 400 milhões na compra do Frigo Eder, tradicional indústria de embutidos paulistana, da marca Hans e da unidade da empresa em Jundiaí, além da Frango Sertanejo. Também arrendou por dez anos a fábrica de beef jerky da IFC – International Food Company – em Itupeva (SP).
De acordo com a Fitch Ratings, a "agressiva estratégia da empresa de expandir seus negócios pela aquisição de novas plantas e de outros produtores e a crescente necessidade de capital de giro obrigaram-na a refinanciar dívidas de curto prazo". Ocorre que refinanciar tais dívidas ficou mais difícil diante das restrições de crédito.
A Arantes é a quinta empresa que atua em carne bovina a entrar com pedido de recuperação judicial no país desde o fim do ano passado. As demais foram Frigoestrela, Margen, IFC e Quatro Marcos. E outros pedidos devem surgir, acreditam analistas do setor.
A razão é que além das restrições de crédito e queda nas exportações por causa da crise, empresas que atuam em carne bovina vêm enfrentando escassez de gado para abate, por conta da menor oferta de animais decorrente do ajuste da produção.
Com quatro mil funcionários e receita estimada em R$ 1,6 bilhão em 2008, a Arantes tem sete unidades de bovino em operação: Cachoeira Alta, Santa Fé de Goiás e Jataí, em Goiás; Canarana, Pontes e Lacerda e Nova Monte Verde, em Mato Grosso; uma em Imperatriz (MA) e outra em Unaí (MG). Tem quatro plantas de embutidos e dois frigoríficos de frango.