Cinco frigoríficos argentinos que tiveram casos de covid-19 entre funcionários e que chegaram a ter as vendas à China suspensas voluntariamente poderão voltar a exportar para o país asiático com uma “declaração adicional” garantindo serem, agora, plantas livres da doença.
A garantia adicional, que foi oficializada ontem no site da Administração Geral de Alfândegas da China (GACC, na sigla em inglês), ocorre em meio aos esforços de Pequim para evitar a introdução do novo coronavírus em seu território a partir das importações de alimentos. A detecção, na semana passada, de traços de covid-19 em um lote de asas de frango vindo do Brasil aumentou o rigor de autoridades municipais da província de Guangdong.
Conforme o Valor informou na sexta-feira passada, Pequim e Brasília negociam um protocolo para ampliar a segurança no combate à covid-19 em frigoríficos brasileiros habilitados a exportar para o mercado chinês.
A China tem o claro objetivo de impor “risco zero” às importações de alimentos, em meio ao pavor em relação ao vírus. Mas, no Brasil, há uma diferença entre o que o Ministério da Agricultura pode legalmente fazer e o “risco zero” exigido pelo país asiático.
Sofrendo a mesma pressão, a Argentina decidiu incluir a garantia junto ao certificado dos frigoríficos exportadores. Ao que tudo indica, a declaração adicional “anti-covid” vale para os frigoríficos que tiveram casos do novo coronavírus. A Argentina é o segundo maior fornecedor de carne bovina para a China – o Brasil é o principal. No primeiro semestre, o país asiático foi responsável por 47% da carne bovina exportada pelos argentinos. Com unidades na Argentina, Minerva e Marfrig estão entre as maiores exportadoras de carne.
Ao Valor, uma fonte da indústria argentina disse que o quadro ainda é nebuloso. Em Buenos Aires, não se sabe se a declaração de garantia adicional tem prazo de validade.
De qualquer forma, a decisão do governo argentino viabilizou, ainda que momentaneamente, a retomada das exportações dos cinco frigoríficos – quatro de bovinos e um voltado à produção de frangos.
Entre junho e julho, o governo argentino chegou a suspender voluntariamente a habilitação para exportação à China das cinco unidades. Poucas semanas depois, as plantas foram liberadas, e nesta quinta-feira, a “declaração adicional” foi acrescentada à autorização para a exportação.
Do lado brasileiro, sete frigoríficos chegaram a ter as vendas suspensas para a China. Atualmente, seis ainda estão proibidos de vender carnes para o país asiático.
Diferentemente do que ocorreu com a Argentina e outros países, o Ministério da Agricultura do Brasil não está suspendendo voluntariamente as vendas de frigoríficos que tiveram casos de covid-19.
Nesse cenário, cabe ao GACC bloquear as plantas, o que ocorreu após pedidos de informações baseados em notícias veiculadas na imprensa. O problema é que, nesse cenário, o protocolo para a retomada das exportações desses frigoríficos pode ser mais difícil.
Entre os sete frigoríficos brasileiros que tiveram as vendas para a China suspensas, apenas o mato-grossense Agra, de carne bovina, já pode voltar a exportar. Mas, neste caso, há uma particularidade irônica. Por um erro de comunicação, a China entendeu que o Brasil havia suspendido o Agra voluntariamente, o que pode ter facilitado a retomada da autorização chinesa.
Atualmente, estão com as exportações à China suspensas dois abatedouros da JBS (um de frango e um de suínos), dois da BRF (um de frangos e um de suínos), um da Minuano (de frango) e um da Marfrig (de bovinos). O abatedouro da Aurora, que exportou o lote de asas com traços de covid-19, segue, oficialmente, liberado para vender.