Da Redação 01/04/2003 – Pode ser anunciado ainda hoje o arrendamento do frigorífico Chapecó que, mergulhado em crise financeira desde 2002, negocia com o BNDES e com interessados da iniciativa privada uma forma de transferir operações e dívidas. Reunião ontem (31) no BNDES, iniciada no fim da tarde, tratou do tema.
Fontes do setor observam que as opções estão quase esgotadas tanto para a Chapecó quanto para o BNDES, que é o maior credor e tem 30% das ações da empresa. Avaliam que o governo federal gostaria de ver a Chapecó nas mãos de um grupo nacional, mas que a única proposta concreta de arrendamento de todas as unidades do frigorífico com opção de compra foi feita pelo grupo francês Dreyfus, que no Brasil controla a Coinbra, e cujo faturamento anual global é de US$ 20 bilhões. Inicialmente tal proposta foi considerada baixa, mas não houve outro lance para o arrendamento total da Chapecó.
Uma fonte do BNDES confirmou no domingo que o desfecho das negociações está próximo, mas disse que, oficialmente, a Chapecó não fechou posição. Mas uma fonte da empresa reconheceu que o desfecho caminha para a Dreyfus, único grupo a reunir as condições desejadas pela Chapecó.
Um consórcio formado por Globoaves e Sadia tinha interesse em arrendar o abatedouro da empresa em Cascavel (PR), mas a proposta caiu por terra depois que a Chapecó enviou uma carta informando que condicionava uma proposta ao arrendamento de todas as suas unidades operacionais com posterior compra. O frigorífico Pamplona propôs arrendar as unidades de Xaxim (abate de aves) e Chapecó (suínos), a Pif Paf propôs formar consórcio para arrendamento parcial ou total e a Diplomata propôs arrendar Cascavel. Integrados e funcionários também sugeriram a formação de cooperativa para gerir a empresa.
Além do arrendamento total, o interessado terá de assumir os passivos fiscais e trabalhistas da empresa e comprar, à vista, seus estoques, como matrizes, animais alojados e produtos acabados. Para um analista, tanto Chapecó quanto BNDES têm interesse que o frigorífico fique com um grande grupo. Só assim a Chapecó teria fôlego para renegociar dívidas de longo prazo, estimadas em US$ 160 milhões. Durante o arrendamento, o pagamento de funcionários e fornecedores ficaria com o arrendatário, que pagaria um valor à Chapecó pela prestação de serviços – que serviria para abater débitos.
Não é a primeira crise da Chapecó, que pediu concordata em 1999, pouco antes de ser adquirido pelo grupo argentino Macri. Comenta-se que as turbulências no vizinho foram determinantes para que a Chapecó chegasse à situação atual. Desde setembro a empresa enfrenta dificuldades para fornecer rações para as aves e para pagar integrados e fornecedores.