Às vésperas das mudanças em sua gestão, a BRF alcançou ontem seu maior valor de mercado desde sua criação: R$ 44,55 bilhões. O conselho de administração da empresa deve bater o martelo, hoje à noite, para a reestruturação resultado do movimento dos acionistas que levou o empresário Abilio Diniz à presidência do colegiado. O consultor de empresas Cláudio Galeazzi deve se tornar o presidente global da companhia, conforme o Valor antecipou ontem. Haverá também um presidente internacional, que ainda não foi escolhido. A Galeazzi & Associados estava conduzindo a avaliação sobre a qual o conselho se baseará para a reorganização.
O nome de Galeazzi para a presidência global, apesar de ter surgido desde o início como um rumor, só se tornou um projeto do conselho há cerca de 15 dias, apurou o Valor. O consultor tem vínculo histórico com Abilio, pois promoveu reestruturações na gestão do Pão de Açúcar, do qual também foi presidente. Inicialmente, também havia um outro nome para a presidência global que acabou não sendo levado adiante.
O atual presidente da BRF José Antonio do Prado Fay deve deixar o comando da empresa, mas o plano é que fique até o fim do ano com um papel consultivo durante a transição. No entanto, há quem acredite que Fay possa abreviar sua permanência, já que não estaria de acordo com as mudanças.
Por um curto período de tempo neste ano, Galeazzi chegou a representar Abilio no conselho de administração do Pão de Açúcar. Mas ele renunciou após apresentar uma carta com críticas à conduta do Casino. Há um mal-estar entre o grupo francês e Galeazzi, pois ele também esteve envolvido na tentativa de Abilio de comprar o Carrefour no Brasil.
O Casino questionou Galeazzi sobre um possível conflito de interesses pelo fato de prestar serviços à BRF e, ao mesmo tempo, ser conselheiro da companhia varejista. O grupo francês já havia solicitado a Abílio que renunciasse à presidência do conselho de administração do Pão de Açúcar quando soube de seu projeto de ir para a BRF.
As modificações na estrutura da BRF vão além das vice-presidências. As diretorias também serão afetadas. Além disso, as alterações na condução dos negócios devem chegar, inclusive, até a área de marketing, que será reorganizada pela executiva Silvia Leão, que também atuou no Pão de Açúcar, quando Abilio era o controlador da empresa.
A expectativa do mercado é que Abilio promova modificações que tragam maior eficiência à BRF e seu fortalecimento internacional. As ações encerraram ontem em R$ 51,16, após uma alta de 1,30%. É a primeira vez que o papel passa da casa dos R$ 51 e a terceira em que fica acima de R$ 50. Quando Abilio foi eleito para o conselho, em 9 de abril, após um movimento coordenado pela gestora de recursos Tarpon, dona de 8% do capital, a BRF valia R$ 39,3 bilhões na bolsa.