Redação AI (22/03/06)- Os reflexos provocados pela queda da demanda por carne de frango na Europa em virtude da disseminação de casos da gripe das aves no continente começam a “espremer” a avicultura brasileira. Granjas e frigoríficos do país ainda buscam fórmulas para reduzir a oferta principalmente neste primeiro semestre, mas os reflexos nocivos da tendência de queda das exportações são cada vez mais evidentes.
Por conta da crise, em Santa Catarina, Coopercentral Aurora e Seara (controlada pela Cargill) preparam férias coletivas para abril.
A Aurora ainda analisa quantos dias deverá parar sua produção. Mas, segundo o diretor industrial da cooperativa, Vincenzo Mastrogiácomo, deverá ser paralisado por dez dias o terceiro turno da fábrica de Quilombo, no oeste catarinense. A planta é a única das três que abatem frango com terceiro turno (que emprega cerca de 200 trabalhadores).
Segundo ele, a paralisação será temporária e estão sendo definidos quais setores serão atingidos. As unidades também voltadas ao segmento localizadas em Maravilha (SC) e Erechim (RS) também poderão ficar alguns dias paradas.
A Seara, por sua vez, deverá parar por 20 dias 100% dos abates efetuados na sua planta na cidade de Seara, também no oeste catarinense. Procurada, a empresa não se pronuncia sobre o assunto.
Segundo a Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Carnes e Derivados de Santa Catarina, a informação envolvendo a Seara não foi oficializada pela empresa, mas é dada como certa. O presidente da Federação, Luiz Medeiros Maria, diz que há “entendimentos bastante avançados nesse sentido”. Na sua opinião, é importante que as “companhias pensem da forma que estão pensando. Adotando primeiro as férias coletivas, queimando a gordura, antes de iniciarem demissões”, diz.
Para Mastrogiácomo, os frigoríficos estão agora se adaptando às medidas que foram tomadas no campo no início do mês, com redução de pintos nas granjas.
As paralisações em Santa Catarina acontecem após 300 demissões ocorridas na unidade da Seara em Forquilhinha, sul do Estado, e de um Plano de Demissão Voluntária (PDV) iniciado pela Macedo neste mês, que envolveu 250 pessoas.
Com a crise, os preços do frango vivo pagos ao produtor de Santa Catarina continuam parados em R$ 1,20, conforme a Epagri/ Instituto Cepa. Já os preços dos pintos caíram 20% neste mês, segundo informações dos produtores locais.
No Rio Grande do Sul, um alento. Segundo José Eduardo dos Santos, diretor executivo da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), há uma “pequena reação” dos importadores. Conforme ele, a tendência começa a ser notada em países europeus, em especial na França.
Depois de caírem 50% de janeiro até o fim da semana passada, para até R$ 1,20 o quilo, os preços do frango também começam a dar sinais de recuperação no mercado gaúcho. Segundo o executivo, o movimento reflete ajustes promovidos pelas empresas nas linhas de produção – concessão de férias aos funcionários ou utilização do sistema de banco de horas.
A estimativa da Asgav é que nos próximos 60 dias a situação volte ao normal. Pelos cálculos da entidade, a produção mensal do setor no Estado deve cair 20% no segundo trimestre em relação ao mesmo período de 2005, o que representa 60 mil toneladas a menos. A Avipal, por exemplo, já anunciou férias coletivas para 6 mil pessoas.
No Paraná, os impactos da gripe foram discutidos ontem em seminário na Secretaria da Agricultura. No evento, representantes da Força Sindical informaram que as demissões já chegavam a 15% do total de 31,9 mil trabalhadores ligados ao setor no Estado. Os números foram contestados pelo sindicato dos produtores – Sindiavipar -, que informou que, por enquanto, a indústria vive um momento de ajustes, com redução nos alojamentos, corte de horas extras e trabalhos aos sábados.
A cooperativa C.Vale, por exemplo, já demitiu 260 e a Globoaves vai dar férias coletivas para parte dos funcionários. De acordo com o secretário da Agricultura, Orlando Pessuti, o desemprego no setor é de fato preocupante.