Até o início da metade do século passado quase não se via frango na mesa do brasileiro e a galinha caipira imperava, gloriosa e saborosa. Com a industrialização, a partir da década de 1960, o frango tomou esse espaço, mais pelo preço do que por qualquer outro predicado. Mas nos últimos dez anos, com a consciência cada vez maior do brasileiro sobre a qualidade do que come, a galinha caipira vem retomado seus tempos de glória. Prova disso são os números da Avifran – Avicultura Francesa*, produtora de pintinhos caipiras de variadas linhagens e origem francesa, cujas vendas e produção cresceram em média 15% ao ano, nos últimos cinco anos. “A demanda tem crescido muito e a produção nacional não tem conseguido acompanhar essa expansão. Tudo que é produzido é vendido rapidamente”, afirma Luciano Maia, diretor-executivo da empresa.
A Avifran é o primeiro elo da produção das galinhas caipiras. A companhia lidera o mercado brasileiro, detendo cerca de 60% da produção e vendas de pintinhos caipiras, que depois serão alojados nos criatórios, onde crescem em regime de liberdade total, se alimentando de pastagens; ou semiconfinados, isto é, durante parte do dia ficam livres em uma ampla área. Os produtores são, na grande maioria, pequenos avicultores rurais, agricultores familiares e avicultores orgânicos. O método, considerado artesanal, gera galinhas com uma carne mais consistente, mais nutritiva, saborosa e perfumada, resultado da alimentação natural e do respeito ao ciclo de crescimento. Os ovos, de cor mais avermelhada, também seguem o mesmo padrão de saudabilidade.
Conforme Maia, o frango industrializado é abatido entre 42 e 45 dias de vida, enquanto o abate de uma galinha caipira é realizado entre 70 e 80 dias, o que influencia também no sabor, odor e valor nutritivo. A Avifran é um exemplo dos altos padrões de qualidade empregados na criação das galinhas caipiras, desde o nascimento dos pintinhos. A companhia produz mais de 3 milhões de pintinhos de galinha caipira por mês em quatro fazendas, todas localizadas no Distrito Federal, onde investe pesado em biotecnologia e controle de qualidade. A empresa está também investindo, atualmente, na implantação de uma empresa de genética voltada para a avicultura, como parte de seu plano estratégico de crescimento, que prevê duplicar vendas e produção até julho de 2015. De know how francês, suas matrizes são importadas da França, país referência na avicultura de alta qualidade e que puxou a retomada da criação de galinha caipira na Europa, realizada também em outros países, nos últimos 15 anos.
Em suas fazendas, a Avifran também investe na cultura do eucalipto, item importante na biossegurança requerida para a sua produção. “A empresa tem um enorme cuidado e dá um tratamento especial a toda estrutura ambiental envolvida na sua produção. Também se preocupa com a questão ambiental e de segurança produtiva dos seus parceiros”, diz Maia. Todos esses diferenciais geram valor ao produto final. De maior valor agregado, a galinha caipira tem sido um bom negócio para fixar famílias no campo ou empreendedores, observa o diretor-executivo, para quem esse mercado ainda tem grande potencial. O mercado brasileiro de pintinhos se aproxima de 500 milhões de unidades por mês e apenas 1% desse total, ou cerca de 5 milhões, é caipira.
Dados do mercado
Dados da União Brasileira da Avicultura (Ubabef) mostram que o Brasil está entre os três principais produtores de frango do mundo, ao lado de Estados Unidos e China. Em 2013, produziu 12,3 milhões de toneladas, sendo cerca de 30% vendidas no mercado externo, volume que torna o país o maior exportador mundial. Maia diz que mais de 99% da galinha caipira produzida no Brasil é para consumo interno.
Segundo previsão da Agência das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o consumo mundial de carne de frango tende a crescer mais do que o de carne suína, se houver produção suficiente, alcançando 124 milhões de toneladas e 123,8 milhões de toneladas, respectivamente, em 2019. Em 2022, a diferença aumenta mais, para 128,377 milhões e 126,576 milhões. Com 109,456 milhões de toneladas, a produção mundial de carne suína bateu a de frango, em 2012, com 103,132 milhões de toneladas.