O que era temido pelos pecuaristas de Mato Grosso se tornou realidade. O frigorífico Frialto confirmou ontem (25) que entrou com pedido de recuperação judicial na última segunda-feira, na Justiça de Sinop (503 quilômetros ao norte de Cuiabá), sede do grupo. Com a suspensão das atividades dos matadouros nas três unidades no Estado, o abate diário fica reduzido em 15%, já que diariamente eram abatidos cerca de 2,479 animais, num universo de cerca de 17 mil em Mato Grosso.
Conforme dados da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), antes da crise do Frialto havia 15 unidades em recuperação e agora somam 18.
Para o segmento, pior que contabilizar menos um grupo em atividade, aumentam as possibilidades de maior concentração de plantas nas mãos de poucos grupos. Como aponta o analista de pecuária do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) – órgão vinculado à Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) –, Otávio Celidônio, 42 municípios do norte do Estado tinham como opção ao abate uma das três plantas do Frialto, porém 15 destes terão agora apenas um grupo para negociar o gado, que em alguns casos será ou o Pantanal ou o JBS/Friboi. “No entanto, a capacidade de abate do médio norte mato-grossense, que escoava os bovinos para Sinop, ficou 100% comprometida, e para piorar houve um reflexo imediato após a paralisação dos abates. A arroba do boi naquela região desvalorizou R$ 1,60, tanto no norte como no médio norte, e R$ 1 na média mato-grossense, em apenas três dias”. As unidades do Frialto em Mato Grosso estavam localizadas em Matupá, Nova Canaã e Sinop. O site aponta ainda uma quarta unidade – que parece estar em obras – em Tapoborã. Com essas plantas o grupo era responsável por 38% do abate diário no norte do Estado. Além de Mato Grosso, há unidades de abate e de entreposto nos estados de Goiás, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Rondônia. Todos os matadouros possuíam o certificado do Selo de Inspeção Federal (SIF), que habilitava entre outras coisas, as plantas a exportarem sua produção a vários países, inclusive ao exigente mercado europeu.
Plano– Apesar do anúncio de pedido de recuperação, a diretoria do Frialto não fala sobre o assunto e os números de credores e da dívida ainda não são conhecidos, mas afirma em nota que o plano de recuperação estará disponível a todos assim que for apresentado.
O grupo é composto pelas sociedades Vale Grande Indústria e Comércio de Alimentos S.A., Agropecuária Ponto Alto Ltda. e Urupá – Indústria e Comérico de Alimentos Ltda. Conforme nota, o pedido de recuperação judicial foi a alternativa encontrada para assegurar a continuidade operacional das unidades frigoríficas em atividade. “O objetivo é preservar o valor de seus ativos enquanto as negociações com os credores, já iniciadas, são realizadas, de modo que a reestruturação financeira possa acontecer de maneira organizada e assim reestabelecer uma adequada estrutura de capital, equacionando de forma equilibrada o atendimento de seus credores e a capacidade de pagamento da empresa”.
A nota lembra ainda que a Lei nº 11.101, de fevereiro de 2005, que regula a Recuperação Judicial, permite a reestruturação de empresas economicamente viáveis que passem por dificuldades momentâneas, buscando preservar empregos e os interesses dos credores. Pela Lei, a empresa fica protegida contra ações e execuções durante 180 dias, período necessário à elaboração, apresentação e aprovação do plano de recuperação judicial junto aos credores.