Um dos três maiores produtores mundiais de alimentos, o Brasil está também entre os líderes em outro ranking incômodo: o de desperdício de comida. O paradoxo de ter um setor agropecuário pujante, capaz de exportar acima de 100 bilhões de dólares por ano, e ao mesmo tempo ainda conviver com 68,9 milhões de domicílios em algum nível de insegurança alimentar é agravado pela problemática das perdas e do desperdício de alimentos. Resolver esse problema, no entanto, não é tarefa fácil, mas países como a Suécia, que recicla 99% do seu lixo, mostram que alguns caminhos podem ser adotados.
O principal deles é instituir uma cultura de reaproveitamento de tudo o que se produz no país, sejam roupas, móveis ou até mesmo o próprio alimento jogado no lixo, que pode retornar para a economia na forma de energia. A experiência da Suécia no combate ao desperdício de alimentos e a adoção do consumo sustentável são temas que ganharão destaque na Semana de Inovação Suécia-Brasil 2020, evento que reúne especialistas de ambos os países para discutir ideias e soluções inovadoras em áreas como sociedade, tecnologia e meio ambiente.
A Embrapa Alimentos e Territórios (Maceió-AL) participa do evento a convite da Embaixada da Suécia. O analista Gustavo Porpino, que recentemente liderou projeto nos Diálogos Setoriais União Europeia – Brasil sobre o tema desperdício de alimentos, abordará a importância das políticas públicas para mitigação das perdas e do desperdício.
Webinar
No dia 17 de novembro, o desperdício de alimentos será tema de um webinar com a participação de pesquisadores da Suécia e de entidades brasileiras como a Fundação Getulio Vargas (FGV) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O foco é compartilhar as experiências da Suécia e do Brasil na prevenção do desperdício de alimentos, além de disseminar ideias para um consumo sustentável. As inscrições no webinar podem ser realizadas nesse link.
O webinar abordará o impacto do desperdício de alimentos sobre o meio ambiente e clima e debaterá como o Brasil pode se beneficiar da redução da cultura do desperdício. Será debatida também a caracterização do desperdício, de modo a entender quais alimentos jogados fora que poderiam ser evitados.
Alguns dos palestrantes são Ida Björkefall, assessora do Swedish EPA, que trabalha com prevenção ao desperdício de alimentos e economia circular; Anita Lundström, assessora sênior na Swedish EPA; Gustavo Porpino, que desenvolve pesquisas em comportamento do consumidor; Carlos Eduardo Lourenço, professor da Fundação Getulio Vargas; Andrea Portugal, assessora especial do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) do Distrito Federal; e Pedro Brancoli, estudante de doutorado e conferencista na University de Borås, na Suécia.
Confira neste link vídeos pré-gravados com os palestrantes do webinar para apresentar as temáticas a serem discutidas com o público participante.
As Semanas de Inovação Suécia-Brasil são uma atividade anual organizada pelo Team Sweden Brazil e coordenada pela Embaixada da Suécia em Brasília. O objetivo do evento é promover a Suécia como um parceiro de inovação de longo prazo para o Brasil nas áreas de ciência, tecnologia e inovação. Este ano, por conta da pandemia, boa parte da programação será online e gratuita.
Reaproveitamento
Para alcançar elevado patamar de reciclagem, os suecos partiram da premissa segundo a qual o que não é medido não pode ser gerenciado. O primeiro passo foi realizar a chamada gravimetria de resíduos sólidos, processo que permite verificar qual é o desperdício de comida. Com a técnica, por exemplo, é possível saber exatamente o que está sendo desperdiçado em alimentos, se casca de ovo, arroz, massas, carnes etc.
Essa mesma metodologia foi posta em prática em um experimento realizado conjuntamente por pesquisadores suecos e brasileiros em Taguatinga (DF). Em novembro de 2019, durante um dia, todo o lixo de uma rota que passava por bairros residenciais foi triado, pesado e separado. Ficaram de fora, portanto, restaurantes, lojas e outros comércios, para que os pesquisadores pudessem avaliar, com maior precisão, apenas o lixo produzido pelas famílias de Taguatinga. E, embora os resultados encontrados não possam ser tomados como uma realidade de todo o país, a quantidade que comida jogada indevidamente no lixo foi considerada impressionante: nada menos que um terço dos alimentos jogados fora seria evitável.
A ideia do estudo era gerar informações confiáveis sobre o desperdício de alimentos para que o setor público pudesse propor ações para combater esse problema, segundo explica a pesquisadora Kelly Dalben, consultora sênior no Brasil da Agência de Proteção Ambiental da Suécia. “Hoje, no Brasil, a gente está no escuro. Não há dados específicos estruturados e abrangentes para saber qual é o desperdício de alimentos que temos nas capitais, porque o desperdício do brasiliense é diferente do carioca, que, por sua vez, é diferente do baiano.
Com a metodologia sueco-brasileira de gravimetria, a ideia é medir esse desperdício para poder direcionar a resolução desse problema. Saber se é uma questão de embalagem, de distribuição. Então, essa diretriz ajuda também os gestores a fazerem escolhas, até para questões de compostagem, biogás, outras questões que derivam do resíduo alimentar”, diz Kelly.