A Brasil Foods descarta a possibilidade de buscar o Judiciário para acelerar a tramitação da fusão entre Perdigão e Sadia, que originou a empresa, no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
“Quando se envolve em um projeto de fusão desses, tem vários passos que precisam ser dados. É um projeto grande que precisa de muita persistência e paciência e, quando a gente entra, sabe que tem que passar por isso. O tempo é o tempo do Cade”, afirmou José Antônio Fay, presidente da BRF. “A Justiça não é um caminho que a gente considera a ser seguido”, acrescentou.
O executivo, que participou do lançamento do patrocínio da empresa ao Instituto Lançar-se para o Futuro, que ensina atletismo a 500 jovens da zona oeste do Rio de Janeiro, rechaçou a visão de que tenha havido piora nos resultados financeiros da companhia no segundo trimestre por conta da demora do Cade em analisar o processo, que chegou ao tribunal este ano.
Segundo Fay, as margens operacionais do segundo trimestre foram melhores e a queda do lucro em relação a igual período de 2009 refletiu apenas a variação do dólar. Ele lembrou que as atuais limitações da BRF foram definidas no anúncio do processo de fusão, há um ano e meio. A maior parte dos impedimentos são relacionados às operações no Brasil, como a autorização para operação conjunta, o que já foi liberado para acontecer na Europa pelos órgãos de defesa da concorrência do bloco.
Ainda assim, a baixa expectativa de crescimento da Europa deve tirar o continente do foco da BRF para novos investimentos e esforços de exportação no curto prazo, de acordo com Fay. Para ele, África, Oriente Médio e América Latina deverão receber mais atenção dada as possibilidades de crescimento de mercado.
“Estamos trabalhando para crescer no mercado externo e não há grandes problemas. Existem alguns limites de investimento no Brasil que precisam da aprovação”, reforçou Fay, acrescentando que é necessário entender melhor as operações da Sadia antes de bater o martelo para possíveis expansões no Brasil, onde há 64 fábricas.
O executivo também negou que a demora na aprovação da operação de fusão tenha dado fôlego para os concorrentes. “A concorrência é uma característica do nosso negócio. A indústria de alimentos é muito competitiva e seria um prejuízo maior se estivéssemos parados esperando, mas a empresa está ativa. A vida na indústria de alimentos é dura e vai continuar sendo”, ponderou.
Para o fim do ano, apesar de não apresentar números de expectativas de aumento nas vendas, Fay frisou que o cenário é positivo, principalmente no mercado interno, onde a empresa concentra entre 55% e 58% de suas vendas.
“Tradicionalmente, o segundo semestre é mais forte e a expectativa do Brasil é boa”, disse, acrescentando que não há “guidance” de crescimento porque os dados da Sadia não podem ser totalmente conhecidos pela empresa por conta das restrições impostas pelo Cade. “Conhecemos a operação da Sadia sempre com atraso e o resultado é consolidado pela equivalência patrimonial, e não no detalhe”.
O presidente da BRF realça, contudo, que um esperado movimento de volatilidade das commodities no mercado internacional poderá ter como consequência o aumento dos preços das carnes. Nas previsões da empresa, os custos dos grãos que compõem as rações deverão subir de 5% a 7% até o fim deste ano.