Depois de quase um ano de negociações, a BRF – Brasil Foods e o grupo irlandês Carbery anunciaram na noite de segunda-feira a criação de uma joint venture para produzir ingredientes nutricionais destinados à indústria de alimentos a partir do soro do leite, subproduto da fabricação de queijos. Em comunicado, as empresas informaram que cada uma terá 50% na associação e que os investimentos conjuntos na empreitada deverão somar US$ 50 milhões.
Esses aportes contemplam a construção de uma unidade de processamento, cuja construção deverá começar “em breve” e que tem sua entrada em operação prevista para 2014. O Valor apurou que a joint venture deverá se chamar Nutrifont e que a fábrica tende a ser erguida no Rio Grande do Sul, a depender dos incentivos fiscais à disposição. O município de Três de Maio é um dos cotados para receber a planta.
A BRF é a segunda maior captadora brasileira de leite e processa mais de 1,6 bilhão de litros por ano. Produz queijo, leite longa vida e produtos lácteos comercializados com as marcas Batavo e Elegê. Mas o segmento representa uma pequena parte de seu negócio, puxado pelas carnes de frango e suína e por produtos industrializados. No primeiro semestre do ano, a receita líquida total da companhia alcançou R$ 6,7 bilhões, 11% mais que em igual período de 2011. Mas o lucro caiu quase 82%, para R$ 159,6 bilhões.
Já a Carbery tem negócios no Reino Unido, nos Estados Unidos e na Tailândia e faturou em 2011 cerca de €256 milhões. A reportagem também apurou que, a partir da parceria com a BRF, a intenção da empresa é avançar no mercado brasileiro, onde o soro de leite ainda é muito pouco utilizado. Os ingredientes produzidos por BRF e Carbery a partir da matéria-prima serão destinados à fabricação de alimentos funcionais, voltados ao público infantil e a praticantes de esportes.
O mercado estima que no Brasil haja uma produção da ordem de 4 bilhões de litros anuais desse soro. Apenas uma pequena parte desse volume é utilizada na fabricação de bebidas lácteas similares a iogurtes. Porém, a maior parte é usada como ração ou simplesmente descartada. Mas isso não significa que não haja demanda pela proteína. Estima-se que o Brasil importe cerca de 30 mil toneladas de proteínas do soro de leite, mas já beneficiadas em países que dominam essa tecnologia, como EUA, Argentina e Nova Zelândia.