Ao cruzar Santa Catarina, os olhares se encantam com tantas riquezas naturais. Conforme as curvas e retas são deixadas para trás, encontramos diferentes tipos de clima e ambientes. E não é para menos que Santa Catarina é hoje, um dos estados mais fortes do país, tratando-se de turismo, lazer e renda. Por aqui, o trabalho é prioridade e a economia é fortalecida pela natureza de sua terra e seu povo.
Mesmo diferentes, do Extremo Oeste a Serra Catarinense existe algo em comum nas regiões do estado, a suinocultura. Mas lá embaixo, ao nível do mar, no Sul de Santa Catarina, o gosto pela atividade deu os saltos mais crescentes nos últimos anos e potencializou a produção. Hoje essa região possui mais de 85 mil matrizes suínas e a força do setor ainda é independente.
Mas essa força já não é mais a mesma, ao mesmo tempo em que o Sul do Estado aprendeu a apostar na atividade suinícola, um golpe fortíssimo começou a ser sentido em cada uma das propriedades, a crise no setor, que está permanente há cinco anos e que afeta o estado inteiro. Para tornar visível a desistência dos produtores da atividade, a Região Sul se mobilizou e uniu Santa Catarina. Cenas vistas, como a das cruzes implantadas nas baias que deveriam abrigar suínos vivos, foram traduzidas por gente de todos os lados. “É um choque, por que ninguém espera encontrar cruzes, mas animais robustos e bonitos, mas a gente entende, sabemos sobre a situação enfrentada pelos nossos amigos suinocultores”, destaca o visitante da Feagro 2012, Thales Dalmar.
Quem dera se todos os olhares, que atentos prestaram atenção nesse cemitério de angústias, pudessem interferir na situação enfrentada pelos produtores. Mudar a triste realidade da suinocultura somente será possível se houver a intervenção dos governos e a boa vontade de todos os envolvidos no segmento. “Eu também sou produtor, conheço bem a realidade, mas infelizmente é uma realidade de mercado, e isso só conseguimos interferir com atitudes fundamentais, como ampliação das exportações e melhora do consumo interno, não tem outro jeito”, completa o governador de Santa Catarina, João Raimundo Colombo.
A suinocultura catarinense está em crise desde 2008. Altos e baixos favoreceram a instabilidade que desde então, não deixou de interferir no faturamento dos suinocultores. De lá pra cá, mesmo com dificuldades, a produção não parou de crescer, as agroindústrias continuaram a ampliar suas capacidades de produção e abate, as exportações não tiveram grande sucesso, o que poderia ter desafogado o estado e a boa vontade política não contribuiu para que a produção pudesse contar com valores justos por insumos. É como uma bola de neve, que quanto mais rola, maior fica, carregando consigo o que há pela frente, neste caso a esperança e a continuidade. “Isso é o que acontece, pensei várias vezes em fechar ou vender, mas estamos tentando suportar, por que a crise é muito forte, não é possível ao menos achar um comprador para a granja”, explica o suinocultor, Hélio Correa, de Armazém (SC).
Muitos ainda pensam como Hélio, tentando evitar o fechamento da propriedade por completo. Mas tantos outros, não conseguem resistir e enfrentam uma decisão, que jamais passou pela cabeça, desistir antes da falência por completo. Inadmissível para eles, gente que transformou a atividade em uma grande potencia nacional, a produção de alimentos. Seu Aloísio fez a escolha há um ano, mas só conseguiu parar por completo em outubro do ano passado, respeitou o ciclo da atividade e agora vive como pode. “A gente tem um sentimento de tristeza, não vou à granja, para não ver tudo aquilo parado. Quero mais é viver, já deu o que tinha que dar”, conta o produtor rural Aloísio Meurer.
Mas não é somente o setor independente que enfrenta a falência da produção, o setor integrado, comandado pelas indústrias, também está sentindo os reflexos de ter ignorado a crise que iniciou há cinco anos e ampliado a produção em grande escala. Nesta propriedade, do Sul do estado, houve a quebra de contrato por parte de uma indústria de São Miguel do Oeste, no Extremo de Santa Catarina. Em apenas um mês, a produção de 1,8 matrizes foi abandonada pela agroindústria e o produtor não sabe o que fazer com os leitões, que sobram todas as semanas. “O estresse que estou sentindo há um mês eu não desejo para ninguém, a gente trabalhou tanto, produzindo alimentos, e agora não temos para quem vender nossos animais, é muito triste”, descreve o suinocultor José de Moraes.
Situação desesperadora enfrentada em todo o estado catarinense. Estima-se que muitos produtores não resistirão nos próximos 60 dias e poderão declarar a falência das propriedades. Realidade da atividade, cenário que jamais foi visto antes. Cenas que passaram a ser vistas devido à mobilização no Sul do Estado.