A BRF, uma das maiores empresas de alimentos do mundo, se uniu à startup israelense Aleph Farms para ser a primeira empresa brasileira a produzir produtos diretamente a partir das células dos animais. Essa inovação, chamada de carne cultivada, é um exemplo de agricultura celular, e uma nova forma de produzir proteína animal. A novidade surgiu com o desenvolvimento da biotecnologia na produção de alimentos, trazendo benefícios para a cadeia produtiva e vantagens para o meio ambiente, além de ampliar a variedade de portfólio para atender a todos os perfis de consumidores.
A iniciativa segue o planejamento estratégico Visão 2030, revelado pela BRF em dezembro de 2020, que espera registrar receitas superiores a R$ 100 bilhões até 2030. “A BRF terá um papel de destaque nessa revolução alimentar, a maior transformação da indústria alimentícia dessa geração. Desde 2014, temos testemunhado uma crescente demanda global por novas fontes de proteína impulsionadas por diversos fatores, como preocupações ambientais, novas dietas e estilos de vida, que impulsionam o crescimento dos estilos alimentares, incluindo as dietas flexitarianas e vegetarianas em todo o mundo”, ressalta o CEO da BRF, Lorival Luz.
Além do co-desenvolvimento e produção, a BRF também distribuirá produtos de carne cultivada no Brasil. Pesquisas com consumidores brasileiros estão em andamento e a ideia é oferecer produtos desse tipo ao mercado brasileiro até 2024. A indústria de carnes cultivadas deve movimentar US$ 140 bilhões na próxima década, segundo projeções da Blue Horizon, que investe em proteínas alternativas. “Queremos investir em inovações neste segmento e trazer ainda mais progresso tecnológico ao mercado”, acrescenta Lorival Luz.
Ainda em fase de testes, a novidade poderá chegar ao mercado brasileiro de diversas formas, como hamburguer, almôndegas, embutidos como salsicha, ou mesmo steaks. Os ganhos em sustentabilidade são enormes: para cada 1kg de carne bovina, gasta-se, em média 15 mil litros de água. A tecnologia empregada no cultivo garante economia de 70% nesse volume, evita o desmatamento e assegura maiores hectares de terra fértil, além de zero emissão de gases (a produção da Aleph Farms pretende zerar as emissões de carbono por completo até 2025). A carne cultivada é livre de quaisquer antibióticos, o que garante maior saudabilidade à proteína e menos riscos à saúde do consumidor. Também vale ressaltar que a carne cultivada provém de uma amostra celular animal 100% natural.
“Esta é mais uma etapa que fortalece a jornada de inovação da BRF e oferece alternativas de escolha aos consumidores, buscando eficiência e o menor impacto na cadeia produtiva. Somos uma empresa de alimentos que investe em tecnologia, respeitando as novas tendências à sustentabilidade social e ambiental. Com a produção de carnes cultivadas sustentáveis ??de alta qualidade, firmamos ainda mais nosso papel de agentes transformadores da indústria alimentícia, oferecendo as últimas novidades na produção de proteína celular e substitutos da proteína animal”, afirma Sergio Pinto, diretor de Inovação da BRF. “Nossa entrada neste segmento também impulsiona as pesquisas científicas no Brasil sobre o tema, o que é extremamente importante para a comunidade acadêmica, pois somos o quarto país em estudos sobre carne cultivada no mundo”, complementa o executivo.
“Estamos entusiasmados em unir forças com a BRF, líder global nas indústrias de alimentos e carnes. Esta nova parceria avança a estratégia da Aleph Farms para se integrar ao ecossistema existente, a fim de impulsionar um aumento mais rápido da carne cultivada e, eventualmente, levar a um resultado positivo. Estamos impressionados com o forte compromisso da gestão da BRF com a Inovação e a Sustentabilidade. Temos a convicção de que os valores compartilhados são a chave para uma parceria de sucesso e de longo prazo”, reforça Didier Toubia, cofundador e CEO da Aleph Farms.
Ciência por trás da carne cultivada
Toda carne é composta de células, até os menores seres vivos da natureza. A produção de carne cultivada começa com a obtenção de células de alta qualidade de animais, porém sem o abate. As células são cultivadas fora do corpo do animal com o fornecimento de nutrientes e ambiente propício para o desenvolvimento. O processo automatizado e o ambiente estéril eliminam a necessidade de antibióticos e reduz muito o risco de patógenos ou contaminantes. Todo esse processo leva uma fração do tempo necessário para cultivar carne convencional com uma fração dos recursos que exige.