As expansões de duas plantas da Brasil Foods (BRF) no Rio Grande do Sul- na área de leite e produção de aves e suínos – devem ser concluídas em 2010 para abastecer principalmente o mercado externo. Os projetos em Lajeado e Três de Maio chegaram a ser adiados no começo do ano, ante a retração da demanda mundial, mas foram retomados. O presidente da maior companhia do ramo de alimentos no País, com faturamento de R$ 25 bilhões anuais, e entre as maiores do mundo em carnes, fusão da Sadia e Perdigão, José Antônio Fay, descartou, em Porto Alegre, novos investimentos na operação gaúcha, maior da BRF no Brasil, ou mesmo aquisições no curto prazo e admitiu que fábricas ineficientes poderão ser fechadas. Também descartou a compra do frigorífico Independência.
“Fechamento não ocorrerá pela fusão, mas fábricas que não são eficientes não conseguirão sobreviver”, esclareceu. O executivo também antecipou que poderá ocorrer especialização de plantas. A definição do perfil da operação dependerá do plano de reestruturação em estudo e das determinações do Conselho de Administração e Direito Econômico (Cade), que julgará a fusão e eventual imposição de restrição a marcas e mercados. A BRF detém hoje 70% das vendas de pizzas congeladas. A expectativa do presidente é de que o Cade encerre o processo no começo de 2010.
O assunto está na Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae), do Ministério da Fazenda, que faz a coleta de dados sobre mercado, concorrência e impacto da fusão para subsidiar a decisão do conselho. “Estamos trabalhando fortemente para não ter de tirar marcas do mercado”, antecipou Fay. Até agora, o grupo só foi autorizado a operar como conglomerado no mercado externo. Para 2010, o presidente da BRF projeta crescimento ainda maior do consumo interno, cujo efeito foi sentido no balanço do terceiro trimestre do ano, divulgado na semana passada. O desempenho doméstico da BRF representou 58% da receita líquida, ou R$ 3,8 bilhões de um total de R$ 5,3 bilhões. O lucro líquido do período foi de R$ 211 milhões.
Foi o primeiro balanço consolidado desde o anúncio do negócio, que gerou a maior grupo empregador brasileiro, com 110 mil funcionários, 20 mil deles no Estado. Trinta das 59 plantas estão no Rio Grande do Sul e respondem, segundo Fay, por 20% do faturamento. As ampliações atingem unidade de laticínios de Três de Maio, com implantação de nova torre de secagem de leite, com aplicação de R$ 50 milhões e que ampliará em 40% a capacidade. Em Lajeado, a produção de suínos será elevada em 3 mil animais por dia, e a de aves em 400 mil. “O aumento de abates começa em junho de 2010, voltado ao exterior, principalmente Oriente Médio”.
O segmento exportador é a pedra no sapato do grupo. A desvalorização cambial e a retração de mercado impedem melhor desempenho. No último trimestre, o setor registrou recuo de 25%. Mas Fay confia em regiões onde a BRF já detém posição demarcada, como Oriente Médio (25% do volume exportado pelo grupo), Japão (10%) e a emergente África (10%). O ingresso na China, com autorização concedida há quatro meses, depois de acordo com governo brasileiro, é comedido e será explorado mais intensamente. “Temos o preço do frango mais competitivo no mundo. A China será sempre importadora de alimentos. Produz 50% dos suínos do mundo, mas é apenas a metade do que precisa”, exemplifica o presidente da BRF. Ele também indicou ambiente de aquisições e fusões mundiais como atrativo para crescimento externo.