O presidente da BRF-Brasil Foods, José Antonio do Prado Fay, admitiu que a fusão entre Sadia e Perdigão poderá “eventualmente” evoluir para a esfera judicial. No entanto, a companhia ainda tem a intenção de resolver o caso no âmbito do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), disse o executivo.
O processo tramita no órgão antitruste há mais de um ano, o que frustrou as expectativas da companhia de obter o aval em meados deste ano. Em junho, a Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) – ligada ao ministério da Fazenda – apoiou a aprovação do negócio, mas recomendou algumas restrições, como medidas para reduzir a concentração em mercados como carne de peru in natura, presunto, salame e margarinas.
“Somos bastante diligentes em responder ao Cade, mas o prazo do tribunal é prazo do tribunal. Isso não depende da gente”, afirmou Fay, acrescentando que o parecer do Seae foi muito “superficial” pelo tempo que levou.
O grupo tinha a expectativa de que a autorização do Cade saísse neste ano, mas Fay expressou que passou a ser “difícil prever” quando a decisão será conhecida.
Segundo o executivo, não há razões para o prazo se estender como o processo de fusão entre Garoto e Nestlé, que, no fim, acabou sendo reprovada pela autoridade antitruste em 2004, dois anos após o anúncio do negócio. A Seae havia rejeitado a fusão das companhias de chocolate, diferentemente do que aconteceu com a BRF.
No caso de o negócio não ser resolvido no campo administrativo, ele admitiu a possibilidade de a fusão chegar à “escala judicial”, mas ponderou que tal movimento dependeria dos custos do processo.
Enquanto não captura todas as sinergias, a BRF prevê obter aproximadamente R$ 100 milhões em ganhos decorrentes da integração nas áreas em que as duas companhias já podem operar de modo conjunto.
Esses ganhos, contudo, deverão ser compensados por despesas de igual magnitude, relacionadas à busca das sinergias. As economias mais robustas com a integração – com potencial de chegar a R$ 500 milhões por ano – ainda dependem da liberação do Cade.
Nesta sexta-feira, a BRF anunciou que seu lucro no segundo trimestre foi negativamente afetado por perdas financeiras da ordem de R$ 170 milhões, refletindo, principalmente, o impacto da variação cambial sobre a dívida.
No balanço pro forma – que soma os números da Sadia e da Perdigão nos dois exercícios -, o lucro de abril a junho ficou em R$ 132 milhões, marcando queda de 72% na comparação anual.
No campo operacional, as cifras são mais positivas, com alta de 5% na receita líquida, chegando a R$ 5,5 bilhões no trimestre. Também na comparação anual, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (lajida) avançou 54%, para R$ 587 milhões, com a margem passando de 7,2% para 10,6%.
De acordo com Leopoldo Viriato Saboya, diretor financeiro e de relações com investidores, a margem deverá ficar em dois dígitos neste ano, como resultado de uma melhora no mix de vendas e um ambiente de demanda mais favorável aos aumentos de preços. “Essa é a tendência se não houver uma mudança radical.”
Fay lembrou que os aumentos nos custos das commodities agrícolas, como o trigo, representam o único elemento de insegurança no horizonte. No primeiro semestre, a margem lajida foi de 9,8%, acima dos 5,4% dos seis primeiros meses de 2009.