Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Agroindústrias

BRF não aceita se desfazer das marcas Sadia e Perdigão

Proposta nas negociações com o Cade é se desfazer de Rezende e Wilson. Marcas Sadia e Perdigão representam "a essência da fusão", de acordo com a BRF.

Nas negociações que iniciou com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) do Ministério da Justiça a respeito da compra da Sadia pela Perdigão, a BRF-Brasil Foods informou que não aceita se desfazer de uma dessas marcas.

A companhia está disposta a negociar marcas menores, como a Rezende ou a Wilson. Mas o entendimento é de que não dá para vender as marcas Sadia ou Perdigão, pois elas representam a essência da fusão.

Do lado do Cade, a principal preocupação com a fusão está na nova classe C do País. A avaliação prévia de integrantes do órgão antitruste é de que essa é a classe que está consumindo e auxiliando no crescimento do Brasil. Para o Cade, a classe C poderia ser prejudicada com a redução da concorrência provocada pela fusão de Sadia e Perdigão. Isso porque a união dessas marcas concentraria mais de 70% das vendas em diversos mercados que são alvo dos consumidores desse segmento, como cortes de frango, carnes congeladas e industrializadas.

Para a Brasil Foods, a nova classe C não vai ser prejudicada com a união entre Perdigão e Sadia. A companhia argumentou aos conselheiros que, com as eficiências decorrentes da fusão, será possível baixar os preços dos produtos para os consumidores.

A BRF conta ainda com outro argumento na mesa de negociações: o de que os consumidores das classes C, D e E poderiam ser contemplados com a concorrência de outras marcas, como a Rezende ou a Wilson. Essa foi uma sinalização de que, para ficar com a Sadia e a Perdigão, a BRF estaria disposta a negociar algumas dessas marcas. A Rezende foi apresentada como uma marca maior do que a Seara, controlada pela Marfrig. A Wilson seria uma marca de combate.

Por fim, as negociações também giram em torno da marca Batavo. A Brasil Foods discute qual a viabilidade de o órgão antitruste mandar vender essa marca, pois a Batavo é forte em segmentos lácteos, mas não em carnes. E os órgãos antitruste viram problemas nos segmentos de carnes e de frangos congelados.

Segundo o Valor apurou, o Cade e as empresa ainda não chegaram a um entendimento no mercado de margarinas. A Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) do Ministério da Fazenda listou algumas marcas que acharia interessante de serem vendidas para a concorrência, como Doriana, Claybom e Escolha Saudável. A BRF entende que o mercado de margarinas é competitivo e não tem barreiras à entrada de concorrentes.

Ainda há outros pontos discordantes entre o órgão antitruste e a companhia. Segundo integrantes do Cade, a BRF apresentou um estudo econômico dizendo que Sadia e Perdigão teriam apenas 11% do mercado de perus. O Cade fez cálculos próprios a partir da produção de peru da Sadia, da Perdigão e da Seara e concluiu que a BRF tem uma participação de 70%.

A BRF defende que pizza congelada compete com pizza delivery, mas o Cade discorda dessa avaliação. Para o órgão antitruste, o consumidor não pensa entre comprar uma pizza no supermercado ou pedir em sua casa. Essas opções seriam totalmente distintas. Para a companhia, existe rivalidade entre esses dois modelos de venda de pizzas.

O órgão antitruste também acha preocupante o domínio das marcas Sadia e Perdigão em outros segmentos de produtos congelados, como quibes, almôndegas e hambúrgueres, nos quais a concentração ultrapassaria 70%.

Em meio a essas discordâncias, a Procuradoria do Cade concluiu, na segunda-feira, um parecer bastante rigoroso à criação da BRF. No documento, a ProCade, como é chamada, diz que a Brasil Foods deve vender marcas e fábricas de maneira a permitir que uma terceira concorrente tenha condições reais de competir com a Sadia e a Perdigão. O texto não especificou quais seriam as marcas a serem vendidas, mas foi uma clara sinalização de que o Cade quer novas respostas da BRF.

Ontem, a BRF respondeu ao parecer com uma nota oficial na qual diz que “a hipótese de reprovação somente se daria se não for encontrada uma alternativa que atenda as premissas indicadas, fato não considerado ou cogitado pela empresa que durante todo o processo esteve, e está, aberta a uma solução negociada”. Afirma ainda que o parecer “não tem conteúdo decisório ou vinculante e trata-se apenas de mais um documento de auxilio ao julgamento da operação”.

Fontes próximas à empresa admitem que “desde sempre” a Brasil Foods sabia que teria de vender alguma de suas marcas para que a união fosse aprovada pelo Cade. Mas vender a marca Perdigão ou Sadia é considerado algo “absurdo”. O argumento é que existem, sim, produtos que concorrem com essas marcas no mercado, como os da Seara.

A BRF também resiste à venda de fábricas, diz a mesma fonte, uma vez que elas têm diferentes linhas de produção, de diferentes marcas. Assim, não seria possível separar os ativos, argumenta. A venda de um grande complexo industrial, como Lucas do Rio Verde (MT), como condição para a união, também é algo que a BRF busca evitar. Nessa unidade, por exemplo, a então Sadia investiu mais de R$ 1 bilhão. Portanto, uma venda teria de ser feita por um valor semelhante.

Um experiente analista do setor duvida que a empresa abrirá mão das marcas Sadia e Perdigão. Mas reconhece que “algo precisa mudar”. “Basta ir ao supermercado, para ver isso. Internamente, a BRF não tem concorrentes”, comenta.

Ele observa que, apesar dos últimos investimentos em marketing feitos pela Seara, a empresa ainda é mais forte na exportação que no mercado interno.

Mesmo considerando que o Cade tomará alguma medida restritiva, esse analista acredita que “não há como voltar atrás” na união. E afirma que uma restrição muito forte à união entre Sadia e Perdigão teria impacto econômico e social, o que não interessa ao governo.

Ele lembra que, no último ano, a empresa foi o terceiro maior exportador do país, atrás apenas de Vale e Petrobras. Conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Sadia e BRF – os números ainda estão separados no levantamento – ficaram em nono e décimo lugar, respectivamente, no ranking dos exportadores brasileiros. As duas juntas venderam ao exterior US$ 4,41 bilhões, o que coloca a BRF no terceiro posto entre os exportadores.