A BRF SA, que fabrica mais de 5.000 produtos alimentícios processados, de pizzas congeladas a lasanhas, está em busca de vender os chamados green bonds na Europa após reunir-se com investidores esta semana.
Seria a primeira empresa latino-americana a financiar um projeto ambientalmente sustentável por meio do mercado de bonds oito anos após o Banco Mundial e o banco sueco SEB AB terem definido os parâmetros para esse tipo de dívida.
Para a BRF, que tem sede em São Paulo, o negócio é uma tentativa de obter um financiamento mais barato recorrendo a um universo mais amplo de investidores e se beneficiando das taxas de juros da Europa, em uma baixa recorde — especialmente em um momento em que o mal-estar econômico no Brasil pode repelir alguns compradores de bonds.
Desde 2010, foram vendidos US$ 80 bilhões em green bonds em todo o mundo, segundo a Bloomberg Intelligence.
“Eles buscam abrir portas em um mercado com um negócio inovador e custos mais baixos”, disse Leonardo Alves, analista da Votorantim CTVM SA, por telefone, de São Paulo.
A BRF está recorrendo aos green bonds após dificuldades econômicas do Brasil e um escândalo de corrupção na estatal Petrobras terem impedido o acesso das empresas do país ao mercado internacional de bonds por cinco meses.
A seca terminou no início deste mês, quando a fabricante de cimento Votorantim Cimentos SA vendeu títulos na Europa.
Bonds da Hera
Ainda que tenha sido capaz de contornar boa parte da turbulência — e até mesmo ter recebido ganho um aumento no rating de crédito, na semana passada, que levou os yields de suas dívidas a uma baixa recorde –, a BRF ainda ainda paga mais do que seus pares do mercado desenvolvido que utilizaram o mercado de green bonds para levantar recursos.
Um exemplo é a Hera SPA, empresa italiana de serviços públicos que tem o mesmo grau de investimento da BRF, o BBB. No ano passado, a Hera vendeu 500 milhões de euros (US$ 550,7 milhões) em notas de 10 anos a 2,375 por cento, e que agora têm um yield de 1,68 por cento.
A Hera disse que os investidores voltados a ativos sustentáveis adquiriram cerca de dois terços da oferta.
Em contrapartida, em maio passado a BRF emitiu US$ 750 milhões de notas de 4,75 por cento para 2024 que atualmente têm um yield de 4,54 por cento.
“Além de tirar vantagem dos baixos custos para vender dívidas em euros, nós pretendemos diversificar nossa base de investidores”, disse Elcio Ito, diretor financeiro da BRF, por telefone, de São Paulo.
“Os recursos provenientes da venda de bonds deverão ser investidos em projetos sustentáveis e ambientais, como eficiência energética, gestão de resíduos, gestão florestal — coisas que a BRF já faz”.
Patrimônio da BlackRock
A Standard Poor’s estima que as ofertas de green bonds corporativos poderão subir 58 por cento neste ano, para US$ 30 bilhões.
Esses bonds “atraem um novo grupo de investidores e podem oferecer uma saída para a arrecadação de fundos adicionais sem elevação dos yields”, disse Gregory Elders, analista da Bloomberg Intelligence, em resposta por e-mail a perguntas.
“Uma série de investidores declarou intenção de comprar green bonds como parte de suas iniciativas de investimentos verdes”.
O Nordea Bank AB, da Escandinávia, e a BlackRock Inc., com sede em Nova York, são os maiores detentores de green bonds vendidos por empresas desde 2013, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Patrik Kauffmann, gestor de recursos da Solitaire Aquila Ltd., com sede em Zurique, diz que a BRF não terá problemas para encontrar compradores, especialmente após o aumento do rating, em 19 de maio.
A S&P elevou a BRF em um degrau, para BBB, segunda nota de investimento mais baixa, citando proporções de endividamento bem abaixo de duas vezes os lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda).
“Esta é uma empresa com um balanço sólido e baixa alavancagem que paga um prêmio mais elevado que seus pares que têm sede em países desenvolvidos”, disse Kauffmann, em e-mail.
“Eles deverão conseguir fechar esse acordo e eu posso imaginar mais green bonds vindo do Brasil, pois há uma crescente demanda por investimentos como esse no mundo desenvolvido”.