perus em sua unidade de Francisco Beltrão, no Sudoeste do Paraná. A companhia anunciou que o alojamento das aves, em 200 aviários integrados, está previsto para começar em novembro desse ano e o abate na planta industrial paranaense deve ser retomado a partir do segundo trimestre de 2022. Serão criados mais de 400 empregos diretos.
A produção de perus em Francisco Beltrão começou em 1996 e foi interrompida em 2018, por ajustes à demanda de mercado, conforme informou a companhia. A decisão de 2018 coincidiu com o embargo pelo principal cliente da carne de peru produzida no país – a União Europeia – , em decorrência das investigações da Operação Carne Fraca, que apuram irregularidades em fiscalizações sanitárias no Brasil. As investigações seguem na Polícia Federal.
De lá para cá, a BRF manteve a produção e abate de perus apenas na unidade de Chapecó (SC) para abastecer o mercado interno. Outra unidade que produzia para exportação, em Mineiros (GO), também foi desativada em 2018.
Em março último, a unidade de Francisco Beltrão foi habilitada a exportar perus para o México. O processo de habilitação da unidade para o mercado mexicano foi concluído após auditoria da fábrica com oito horas de duração, feita por videoconferência, quando os auditores do governo mexicano inspecionaram, em tempo real, todas as etapas de produção. Foi a primeira videoauditoria para exportação de perus feita no Brasil. A companhia não informou de quanto será a produção e nem a exportação.
A retomada da criação e abate de perus em Francisco Beltrão faz parte de um investimento total de R$ 292 milhões anunciados pela BRF para ampliação e modernização de suas unidades no Paraná. Além de Francisco Beltrão, parte deste montante será destinado às instalações de Toledo, Ponta Grossa, Dois Vizinhos, Carambeí e Paranaguá.
Ex-integrados pedem indenização na Justiça
No Paraná, a empresa ainda enfrenta pendências com ex-integrados que participaram da fase anterior. Cerca de 30 avicultores de Francisco Beltrão e municípios vizinhos, que atendiam a companhia, pedem na Justiça reparação de danos materiais e morais, alegando prejuízos com a suspensão dos contratos.
Um deles é Valmir Voivoda. Ele conta que mantinha três aviários para atender a multinacional. “De uma hora para outra avisaram que iam parar de produzir devido a problemas nas exportações”, lembra o avicultor.
Segundo ele, na época a empresa propôs o distrato e ofereceu R$ 20 mil como indenização. “Não tinha como aceitar esse valor por um trabalho de uma vida inteira”, diz o produtor, que recusou a oferta e recorreu aos tribunais.
Voivoda diz que para instalar os aviários e atender a BRF ele buscou financiamento bancário e, com o fim da parceria, ficou com dívidas. “Tive que vender parte da propriedade para pagar”, informa.
O advogado Ampelio Parzianello confirma que ajuizou 30 ações na comarca de Francisco Beltrão representando avicultores que buscaram seu escritório. “A maior queixa é de pequenos produtores que investiram em instalações em suas propriedades para atender a BRF e, com a suspensão do abate, ficaram com aviários ociosos, sem uma fonte de renda e com dívidas”, diz o advogado. Ele informa que os processos ainda estão em tramitação. Em alguns, que já foram julgados improcedentes, o advogado recorreu.
Em nota, a BRF informou que notificou previamente os produtores integrados e cumpriu integralmente o pagamento de indenizações, na forma prevista nos contratos, ao descontinuar a produção de perus em Francisco Beltrão, em 2018. “A BRF entende que não existem pendências a serem solucionadas e o Poder Judiciário tem reconhecido, em decisões já proferidas, que a Companhia cumpriu a totalidade do disposto nos contratos e na legislação”, diz a nota.
De um auge de 179 mil toneladas exportadas em 2012, com faturamento de US$ 500 milhões, a cadeia produtiva do peru no Brasil despencou para apenas 37 mil toneladas exportadas em 2019 e receita de US$ 82 milhões segundo a ABPA.
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