Uma das maiores empresas de agronegócios do mundo, a Bunge, multinacional com sede nos Estados Unidos e ações negociadas na bolsa de Nova York, deverá investir mais de US$ 1 bilhão este ano nos diversos países em que atua, indiferente ao aperto de crédito no mercado internacional.
Ao projetar o montante dos aportes em entrevista ao Valor em Davos (Suíça), o CEO global da companhia, o brasileiro Alberto Weisser, garantiu que existem condições financeiras para isso. “A Bunge nunca esteve tão capitalizada como agora”, afirmou. “Nosso patrimônio liquido é de US$ 12 bilhões e o endividamento está em US$ 4 bilhões. Temos espaço para fazer muito”.
No Brasil, destacou o executivo, a Bunge dará prosseguimento ao plano que prevê aportes de US$ 2,5 bilhões até 2017 no segmento sucroalcooleiro, incluindo cogeração de energia. Weisser prevê que a demanda por eletricidade será importante no pais. No resto do mundo, a ideia é dar continuidade ao modelo de expansão de 2011, quando a empresa abriu portos nos EUA, na Polônia e na Ucrânia e adquiriu unidades na China e na Argentina, entre outros projetos.
O grupo se encontra em uma posição aparentemente confortável também em virtude de seus resultados dependerem pouco dos preços em si das commodities com as quais trabalha. O que importa, observou Weisser, é a margem obtida com cada produto – e, na média, essa margem tem sido boa, conforme ele. No negócio de milho, por exemplo, a margem é de 5%.
Para 2012, o executivo projeta boas colheitas nos Hemisférios Sul e Norte. Ao mesmo tempo, a demanda global está muito forte. “No caso das oleaginosas [a soja, carro-chefe do agronegócio brasileiro, é uma delas], a demanda está maior do que normalmente”, afirmou Weisser.
O Fundo Monetário Internacional (FMI), em relatório divulgado nesta semana, projetou, contudo, que a demanda por commodities agrícolas diminuiu e as condições de oferta melhoram. A estabilização dos preços das commodities, segundo o FMI, poderá ajudar na manutenção da inflação em baixos patamares, permitindo que bancos centrais em países emergentes cortem taxas de juros e estimulem o crescimento econômico.
Para a Bunge, a forte volatilidade dos preços agrícolas ainda deverá perdurar por algum tempo antes de arrefecer. Em Genebra, centro mundial do financiamento de commodities, a expectativa é de redução de 25% a 30% em 2012 nesse segmento de “trade finance”, por causa da retração de bancos franceses.
BNP Paribas e Credit Agricole fornecem 20% do crédito para grandes tradings de commodities, como Cargill e Glencore, de forma que a redução pode ser administrável. Já para clientes menores, a expectativa é que o crédito será improvável em 2012. Com isso, muitos deles terão de acelerar a venda de estoques, como ocorreu em 2008, quando a demanda por várias commodities degringolou.