Da Redação 08/09/2004 – Maior empresa do setor de agronegócios do Brasil, segundo o anuário Valor 1000, a Bunge, com sede nos Estados Unidos, deverá concentrar investimentos em armazenagem de grãos e fertilizantes e em infra-estrutura portuária nesta safra 2004/05, que está em fase final de definição de plantio.
Na armazenagem de grãos, a empresa prevê aplicar US$ 25 milhões em 2005 em novas unidades no Mato Grosso, Maranhão, Piauí e Tocantins. Na área de fertilizantes, foi inaugurado este ano um armazém em Alto Araguaia (MT) e está em curso um projeto com capacidade adicional de 350 mil toneladas em São Francisco do Sul (SC).
Também em São Francisco do Sul, o grupo espera a abertura de licitação para a construção de um terminal de fertilizantes no porto local, no qual planeja investir US$ 30 milhões. De acordo com Adalgiso Telles, diretor corporativo da Bunge Brasil, a idéia, neste caso, é desafogar as operações no porto de Paranaguá (PR), que tem gargalos e já paga, como lembrou o executivo, US$ 400 milhões por ano apenas em demourrage (multas de sobre-estadias de navios).
Ainda em portos, no Guarujá (SP) a companhia espera o fim de batalha jurídica para executar os projetos dos terminais TGG e Termag, apesar de a licitação já ter sido vencida. Ali, a empresa promete gastar US$ 100 milhões, de um plano de R$ 450 milhões desenvolvido em parceria com Ferronorte, Grupo Maggi e Fertimport. No Terminal Geral de Grãos (TGG), a capacidade prevista é de 10 milhões de toneladas. No Terminal Marítimo do Guarujá (Termag), que movimentará também farelo, óleo de soja e açúcar, e fertilizantes na importação, a capacidade será de cerca de 3,5 milhões de toneladas.
Adalgiso Telles observa que os investimentos em armazenagem e portos fazem parte do plano traçado pelo grupo de investir US$ 1,3 bilhão no Brasil entre 2004 e 2007, envolvendo as divisões Alimentos, que inclui grãos, e Fertilizantes. “Desse total, US$ 320 milhões serão destinados à logística em geral”, afirma. Com a demora no andamento dos planos em São Francisco do Sul – quatro anos, em virtude de imbróglio ambiental – e no Guarujá (dois anos), a Bunge chegou a desviar investimentos em portos para a Argentina.
Disputa em torno de licença ambiental também parou as operações da fábrica de grãos da Bunge em Uruçuí (PI), que havia entrado em operação em julho depois de aporte de R$ 100 milhões. A empresa pretende investir mais R$ 320 milhões na unidade até 2007.
Com os planos em curso e as estimativas de aumento da safra brasileira, Telles confia no crescimento da Bunge na temporada 2004/05. Na captação de grãos, por exemplo, a estimativa é de aumento superior a 15%. A safra brasileira de soja é projetada pelo grupo em 62 milhões de toneladas, ante menos de 50 milhões em 2003/04. A multinacional estima ampliar suas exportações do complexo soja (grão, farelo e óleo) em 30% na nova temporada. Mais de 50% dos embarques são direcionados à Europa Ocidental, mas a Ásia, puxada pela China, deverá representar mais de metade das vendas externas em três ou quatro anos.
Apesar do previsto crescimento da produção brasileira de grãos em 2004/05, Telles concorda que o aumento dos preços dos insumos, aliado às cotações mais baixas de culturas como soja e milho no mercado internacional, tende a reduzir margens de esmagamento. O cenário inclui o algodão, cuja produção nacional, estima a Bunge, deve recuar entre 10% e 15%.
Esta piora conjuntural está atravancando as negociações de compras antecipadas de grãos da empresa. A Bunge já garantiu 30% do volume de soja que pretende adquirir em 2004/05, mas por meio de contratos com preços a fixar.
Mas, se atrapalha a área de grãos, a alta dos insumos serve para cobrir as operações da divisão de fertilizantes – e a Bunge é a maior misturadora de adubos do mercado brasileiro, além de participar do controle da Fosfertil, maior produtora de matérias-primas para fertilizantes do país.
O aumento dos preços do insumo, de mais de 30% em relação ao mesmo período do ano passado, reflete o comportamento no mercado internacional, que subiu em virtude de altas de fretes, petróleo e maior demanda de países como Argentina, Paraguai e China. As empresas do setor alegam que como cerca de 60% do consumo brasileiro é atendido por meio de importações, os aumentos são automaticamente repassados no país.
Na área de trigo, a Bunge ainda está reorganizando operações depois da parceria com o moinho J. Macêdo. Entre outras ações no segmento, a empresa está remodelando sua unidade de Ilhéus (BA), que se transformará em um centro de distribuição e exportação, também de soja. Esta unidade deverá receber investimentos em 2005.
Outra novidade, finalmente, é o início do trabalho da Bunge com girassol, cuja produção está sendo testada no leste do Mato Grosso, no sul de São Paulo e no Paraná. “Mas estamos em uma fase embrionária do projeto, com testes de variedades”, diz Telles. A idéia é investir no mercado de óleo.