Na esperança de um ano menos traumático, empresários ligados ao setor de produção de aves contam os dias para que 2018 termine logo. Desde abril, as exportações de 20 frigoríficos brasileiros para a União Europeia estão suspensas devido a problemas fitossanitários.
Um mês depois, veio a greve dos caminhoneiros e os efeitos sobre a produção nacional, com pelo menos 70 milhões de animais mortos. Em junho, foi a vez de a China anunciar a adesão ao direito antidumping sobre as importações de frango do Brasil, com uma taxa adicional de 18,8% e 38,4% sobre o valor dos embarques.
O reflexo dessa fase ruim é o aumento da procura por linhas de crédito junto ao BNDES. Levantamento do banco, que também incluiu os suínos, feito a pedido da reportagem, mostra que entre julho e agosto deste ano a quantidade de consultar foi 5,6 vezes maior do que no mesmo período de 2017. Passou de R$ 95 milhões para R$ 535 milhões.
Já o volume de desembolsos não acompanhou o mesmo desempenho e aumentou 11% na comparação entre julho e agosto de 2017 e 2018, passando de R$ 231 milhões para R$ 255 milhões. O levantamento do BNDES levou em consideração todos os produtos, programas e linhas voltadas ao setor de aves e de suínos.
O reflexo da crise pela qual passa o setor foi sentido nos embarques internacionais. As exportações brasileiras de carne de frango caíram 20% no segundo trimestre deste ano em comparação ao mesmo período de 2017. Outro complicador foi a queda nos preços globais das aves nesse período – retração de 5% para o frango inteiro e de 10% para os cortes de coxa, um desempenho que refletiu as oscilações de oferta de no preço das exportações, segundo relatório divulgado recentemente pelo Rabobank.
Ainda segundo o banco, quem tirou vantagem até agora da má fase dos produtores brasileiros de aves foram a Ucrânia, que exportou 155 mil toneladas no primeiro semestre e viu seus preços aumentarem 15%. Já a Tailândia apresentou uma alta de 11% nos embarques internacionais.
Para o Rabobank, o Brasil deverá ter neste ano uma queda de 1% a 2% na produção de aves. Hoje, segundo a instituição financeira, especializada em agronegócio, existe uma ameaça adicional aos produtores brasileiros com a possibilidade de surtos de influenza aviária, com a proximidade do inverno no Hemisfério Norte, além de surtos de peste suína africana na China. A doença poderia contribuir para aumentar a oferta de carne suína no mercado, derrubando os preços e reduzindo a concorrência com a carne de frango no segundo semestre.
Já para 2019, a perspectiva é que haja diminuição na oferta de suíno, resultado da alta dos preços internos, favorecendo assim a demanda por carne de aves. Outro empurrão poderia vir da China, que poderá ter de aumentar as compras de carne suína no mercado internacional, pressionando para cima os preços dessa proteína no cenário global e favorecendo o mercado de aves indiretamente.