Na maior indústria de carnes do planeta, o efeito negativo da normalização das margens no negócio de carne bovina dos EUA começou a aparecer. No segundo trimestre, a brasileira JBS reportou um lucro líquido de R$ 3,9 bilhões, redução de 9,8% ante o mesmo período do ano passado.
A magnitude da queda, no entanto, mostra a força que a diversificação regional e de proteínas tem para a JBS. Enquanto a Marfrig viu o lucro operacional cair 67%, o conglomerado dos irmãos Batista contou com os negócios de carnes de frango e suína nos Estados Unidos, e com a melhora das operações de carne bovina no Brasil e na Austrália, para aliviar o efeito.
“Essa diversificação permite que a volatilidade do resultado seja muito menor, o que é uma vantagem competitiva tremenda”, disse ao Valor o CEO global da JBS, Gilberto Tomazoni. Além da diversificação de proteínas (bovinos, frangos, suínos, cordeiros e aquacultura), a companhia produz no Brasil, na América do Norte, na Europa e na Oceania, posição sem paralelo na segmento de proteína animal.
A receita da JBS cresceu 7,7% no segundo trimestre, totalizando R$ 921 bilhões. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) — ajustado por itens não recorrentes — chegou a R$ 10,3 bilhões, queda de 11,5% (também um reflexo dos negócios de carne bovina nos EUA).
Maior unidade de negócios da empresa, a JBS Beef North America teve uma receita líquida de R$ 5,5 bilhões no trimestre, alta de 2,7%. O Ebitda ajustado diminuiu 53,4%, para US$ 624 milhões, com a margem caindo 13,6 pontos, de 24,9% para 11,3%.
Em contrapartida, as demais unidades de negócio melhoraram. Nos EUA, a Pilgrim’s Pride (de carne de frango) reportou um Ebitda de US$ 623 milhões, aumento de 67,7%. Por sua vez, o negócio americano de carne suína registrou um Ebitda de US$ 213 milhões, incremento de 33,8%.
No Brasil, as duas divisões (Friboi e Seara) deixaram de ser penalizadas pela disparada de custos e contaram com a forte alta do preço das carnes de frango e bovina no mercado internacional para engordar as margens. A Seara também conseguiu fazer uma margem superior à reportada pela rival BRF.
No trimestre, a JBS Brasil (que inclui Friboi) teve uma receita de R$ 14,1 bilhões, avanço de 10,8%. O Ebitda chegou a R$ 803 milhões, praticamente dobrando. A margem do negócio de carne bovina no Brasil passou de apenas 3,4%, no segundo trimestre do ano passado, para 5,7%.
Seara
No caso da Seara, a receita líquida aumentou 19,5%, chegando a R$ 10,7 bilhões no segundo trimestre. Nesse mesmo período, o Ebitda atingiu R$ 1,5 bilhões, aumento de 86,2%. Com isso, a margem chegou a 14,1%, aumento de cinco pontos percentuais. Em comparação, a BRF teve uma margem Ebitda ajustada de 10,6%.
Financeiramente, a JBS manteve o índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda) em patamar confortável, afirmou Guilherme Cavalcanti, CFO do grupo. No trimestre, o indicador chegou a 1,64 vez, um ligeiro aumento em relação ao patamar de 1,36 vez registrado no fim de março. Esse aumento é um reflexo da dívida líquida maior.
De acordo com Cavalcanti, a JBS chegou ao menor custo de dívida de sua história no segundo trimestre, de 4,4% ao ano. A melhora reflete a estrutura de capital da JBS, com as dívidas alongadas, e à conquista do grau de investimento conferido pelas três maiores agências de rating (S&P, Moody’s e Fitch). O executivo vê espaço para subir a nota de crédito da empresa em mais um nível, o que permitiria o acesso aos “commercial papers”, um linha de crédito nos EUA que é 1 ponto percentual mais barata.
Ele voltou a frisar que a JBS vem conseguindo melhorar as métricas de dívida ao mesmo tempo em que investe fortemente em crescimento e remunera os acionistas. Desde 2020, a companhia fez mais de R$ 11 bilhões em investimentos orgânicos (só no segundo trimestre foram R$ 1,5 bilhão) e R$ 12,3 bilhões em aquisições. Ao mesmo tempo, a JBS recomprou R$ 14,7 bilhões em ações e pagou cerca de R$ 11 bilhões em dividendos. “Nós damos retorno com crescimento”, salientou Cavalcanti.
Mesmo nesse ritmo, os números mostram que as ações da JBS continuam negociadas com um desconto relevante sobre a americana Tyson Foods. Enquanto os papéis da brasileira são negociados a um múltiplo (EV/Ebitda) de 3,1 vezes, a Tyson negocia a 6,7 vezes. Em doze meses, o Ebitda da JBS chegou a US$ 9,1 bilhões, e o da Tyson encostou em US$ 6 bilhões.
Na bolsa brasileira, as ações da JBS caíram 15,2% de janeiro até agora, com os investidores já antecipando uma queda de margens no negócio de carne bovina nos Estados Unidos. A companhia está avaliada em US$ 69 bilhões. A família Batista (48,8%) e o BNDES (20,8%) são os maiores acionistas do grupo.