A valorização do real ante o dólar tem feito o Brasil perder mercados de carnes para os Estados Unidos, cuja moeda vai na direção contrária, disse hoje em Nova York o presidente do grupo JBS, Wesley Mendonça Batista. O câmbio, afirmou, dará aos EUA vantagem sobre as economias emergentes nas exportações de alimentos.
O mercado internacional de carnes vai ser cada vez mais suprido pelos EUA, onde o dólar e a economia andam fracos. Enquanto isso, o real deve continuar forte no Brasil – um dos maiores produtores de carnes do mundo – encarecendo o produto nacional. Esse fator, mais as mudanças que estão ocorrendo na economia mundial, já aumentaram o preço das exportações brasileiras de frango para o Oriente Médio, o que está ajudando os produtores norte-americanos a ganhar mercado naquela região, afirmou Batista em entrevista à agência Dow Jones.
Nos últimos anos, os exportadores brasileiros conseguiram elevar os preços de venda, mas agora esses valores alcançaram níveis em que o produto dos EUA – historicamente mais caro – tornou-se alternativa. Alguns importadores estão trocando a carne brasileira pela norte-americana, disse Batista.
O JBS, que na última década cresceu no Brasil e nos EUA com grandes aquisições, está em posição de tirar proveito de sua base norte-americana graças à desvalorização do dólar. Segundo Batista, há quatro anos, quando o JBS comprou a Swift & Co., seu primeiro negócio nos EUA, apenas 15% da produção do grupo no país era exportada. Hoje, essa fatia é de mais de 25%, uma elevação que ele atribuiu em grande parte ao câmbio favorável. Em 2009, o grupo adquiriu a Pilgrim’s Pride. No Brasil, a fatia exportada caiu de 50% há cinco anos para 35% hoje, por causa da elevação do consumo interno.
Uma das maiores rivais do JBS no mundo, a norte-americana Tyson Foods Inc., também tem verificado a mesma tendência. “Estamos exportando 19% de nossa produção de frango nos EUA, ante 15% a 13% nos anos anteriores”, afirmou o diretor de operações da companhia, James Lochner.
No lado da demanda, Batista e outros integrantes do setor veem um crescimento ininterrupto na esteira do desenvolvimento dos mercados emergentes. “Mesmo um pequeno crescimento econômico em países como os Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) significa mais pessoas comprando carne”, comentou Batista.
Ele não vê mudanças nesse cenário. “Você não aumenta a produção de carne bovina na hora em que quiser”, disse, comparando seu negócio com a produção de grãos, que pode responder muito mais rápido a choques de demanda. “O ciclo da carne bovina leva três a cinco anos”, afirmou. As informações são da Dow Jones.