A partir desta edição, teremos a grata oportunidade de tratar quinzenalmente sobre os conceitos e técnicas de uma filosofia de gestão inovadora: o pensamento lean.
A palavra “lean”, que em português significa “magro” é um termo bastante conhecido no mundo da gestão empresarial. Trata-se uma forma de pensar, uma prática transformacional, originada no setor automobilístico – mais especificamente na Toyota – e que começou a ser amplamente difundida para outras áreas a partir da década de 1990.
Podemos definir o lean como um conjunto de princípios, técnicas e ferramentas que visam maximizar a geração valor sob a perspectiva do cliente, consumindo o mínimo de recursos e utilizando ao máximo o conhecimento e habilidades das pessoas envolvidas com o trabalho. Trata-se de um corpo de conhecimento fundamentado na capacidade de identificar e eliminar desperdícios continuamente e resolver problemas de maneira sistemática. Isso implica repensar a maneira como se lidera, gerencia e desenvolve as capacidades, pois é através do pleno engajamento das pessoas envolvidas com o trabalho que se consegue vislumbrar oportunidades de melhoria e ganhos sustentáveis nos processos produtivos, nas operações logísticas, nas rotinas administrativas e gerenciais.
Atualmente, praticamente todos os setores da economia já possuem iniciativas, exemplos e resultados substanciais com a adoção desta forma de fazer gestão. Desde o setor automotivo – onde o lean nasceu e prosperou – até todos os demais setores industriais e de serviços como bancos, seguradoras, mineradoras, hospitais, construtoras, empresas de tecnologia, entre outros.
Curiosamente, o agronegócio é um dos setores que apenas recentemente começou a despertar maior interesse sobre o assunto. Se levarmos em conta os resultados obtidos por outros setores que já estão praticando lean há mais tempo, podemos dizer que certamente o campo e a agroindústria brasileira serão amplamente beneficiados ao conhecer melhor – e praticar – a gestão lean, dando um salto em produtividade e competitividade, colocando o agro em um patamar de desempenho ainda melhor que o atual.
Embora os princípios lean sejam muito simples em sua essência, alguns deles são contra – intuitivos, requerendo assim um certo esforço e dedicação (tanto da equipe operacional, quanto das lideranças) para serem bem compreendidos e aplicados corretamente.
Entre os fundamentos básicos do pensamento lean, podemos destacar:
- Foco no valor gerado nos processos, com a visão do cliente;
- Distinguir as ações e etapas que criam valor das que não criam;
- Eliminar ou reduzir as atividades que não agregam valor;
- Melhorar sempre;
- Envolver e capacitar as pessoas;
- Lideranças mais próximas da linha de frente e com uma visão estratégica;
- Gestão visual e transparência sobre a performance;
- Resolução de problemas de maneira eficaz (na causa raiz);
- Construir qualidade consistentemente em todas as etapas do processo.
Uma das premissas da maneira lean de pensar é desmistificar a palavra “problema”. Se em sua propriedade, em sua empresa, os problemas ainda são vistos de forma negativa e as pessoas se sentem culpadas em expô-los, está na hora de repensar. Na gestão lean, falar de problemas e resolvê-los faz parte do dia a dia de todos os colaboradores e líderes. É entendendo e resolvendo problemas que se alcançam patamares sucessivamente melhores de performance mas, para tanto, o primeiro passo é criar um ambiente colaborativo, em que não sejam apontados os “culpados”, e sim que sejam expostas as “causas” dos problemas.
Ao trabalharmos com o método científico para analisar e resolver problemas, eliminando o “medo da culpa”, naturalmente as pessoas se tornam mais abertas a falar sobre problemas como forma de encontrar oportunidades riquíssimas de melhorar a maneira como o trabalho é realizado, como os produtos e serviços são produzidos e, em última análise, como o negócio é gerenciado. Resolvendo problemas, fazemos com que o trabalho seja executado com menor esforço, com mais produtividade, mais segurança, mais qualidade, menores custos, etc.
Podemos adotar o lean em todas as áreas e níveis de uma empresa, fazenda ou indústria: da estratégia à operação; do presidente ao mecânico; da produção à distribuição. Pensar e praticar lean poupa capital e recursos, gera aprendizados e novos conhecimentos; aumenta a competitividade e a capacidade produtiva; proporciona um ambiente criativo para surgirem as melhorias, gera mais renda e melhores empregos. E não exige investimentos.
A gestão lean está apenas começando no agronegócio, mas é um caminho sem volta. Acreditamos que o lean pode contribuir para um salto no desempenho do setor para que ele consiga gerar cada vez mais valor para o país, usando melhor os recursos disponíveis.