O governo chinês está ciente das preocupações brasileiras para elevar o valor agregado de suas exportações para a China, enquanto o país asiático “está pronto” a trabalhar para que este objetivo seja alcançado, disse o embaixador da China no Brasil Yang Wanming, nesta quinta-feira.
“Não se trata apenas de uma lição de casa brasileira, mas uma das prioridades para a nossa cooperação, para colocar a parceria em outro patamar”, disse o embaixador, durante evento online promovido pela revista Exame.
O Brasil, que tem na China o maior mercado para exportações de produtos agrícolas, principalmente soja, açúcar e carnes, poderia aumentar embarques de itens de maior valor agregado e processados, incluindo mais proteínas animais, frutas e café, acrescentou a autoridade.
Ele disse ainda que o país asiático está expandindo suas importações de matérias-primas para ração animal, como o milho, e que o Brasil praticamente não vende o cereal aos chineses, ao sinalizar como o comércio poderia crescer ainda mais –em 2020, apesar da pandemia, exportações agrícolas brasileiras subiram quase 10%, para 34 bilhões de dólares, disse Wanming.
O Brasil, maior produtor e exportador global de soja, quer exportar, além do grão, o farelo de soja –mas o embaixador do maior importador mundial da oleaginosa não citou este produto processado explicitamente.
Disse apenas que as empresas chinesas “estão otimistas com o futuro do investimento na área agrícola do Brasil”, para se aproveitar da competitividade do agronegócio brasileiro.
“O custo da mão de obra está cada dia mais elevado, e os empresários têm cada vez mais desejo de importar produtos de valor agregado ou processado, e não somente matérias-primas, e também têm interesse ainda maior para fazer investimentos no mercado exterior”, completou.
Segundo ele, à medida que o PIB per capita da China cresce, o Brasil deveria “aproveitar essas oportunidades para atrair mais investimentos de chineses no setor de processamento de produtos agrícolas, para elevar o valor agregado dos produtos exportados à China”.
Ele lembrou que a gigante agrícola do país, a Cofco, já investiu quase 5 bilhões de dólares no Brasil, em projetos como terminais portuários, silos e processadoras de soja, sendo atualmente a quarta maior exportadora de grãos brasileiros.
Ele comentou que, com sofisticação da dieta chinesa em momento em que a renda cresce, há potencial para o aumento do consumo per capita de carne bovina pelos asiáticos, ainda relativamente baixo para esta proteína.
“Mesmo assim já somos os maiores importadores mundiais de carne bovina. À medida que a dieta se sofistica, o consumo de carne bovina dobrará nos próximos anos. Como fornecedor estável, o Brasil também verá suas vendas crescerem de forma constante.”
O Brasil, além de principal exportador global de carne bovina, é líder em frango.
Ele comentou que a China comprou 11,3 milhões de toneladas de milho no ano passado, mais do que dobro ante 2019, e quase nada do Brasil.
“Estima-se nos próximos anos que as importações de milho vão superar a marca de 30 milhões de toneladas”, comentou, sinalizando que os brasileiros poderiam avançar neste mercado.
Ele disse que outro segmento com grande potencial é o de frutas, e que o país asiático está disposto a expandir a lista para abacate, limão, após abrir compras de melão brasileiro.
Com consumo relativamente baixo de café, o embaixador também vê o Brasil ganhando este mercado na China.
“O café está conquistando a cada dia os jovens chineses, de maneira que o consumo cresce quase 20% ao ano, muito acima da média mundial de 2% ao ano… Ao Brasil, maior produtor e exportador, basta se valer da estratégia de marketing adequada, e o café brasileiro certamente ocupará uma fatia maior na China.”
Tal como nas frutas e no milho, a participação do café brasileiro no total importado pelos chineses é pequena perto da capacidade de exportação do Brasil desses produtos.