Recém-saída do melhor ano de sua cinquentenária história, a catarinense Aurora Alimentos, terceira maior indústria de aves e suínos do país, prepara-se para uma temporada mais turbulenta. A disparada dos grãos que compõem a ração apertou as margens do negócio de carne de frango, que responde por cerca de 30% do faturamento.
Sem alívio de custos no horizonte, a cooperativa já discute reduzir sua produção. Em entrevista ao Valor, o presidente da central de cooperativas, Neivor Canton, comemorou o resultado recorde do último passado – desempenho puxado pelas exportações de carne suína à China -, mas reconheceu que a situação do mercado de carne de frango é negativa. “O frango já está no vermelho”, ressaltou ele.
Por ser uma cadeia de produção longa e viva, não se pode reduzir os abates de aves de uma hora para outra. Se decidir não reduzir a produção, evitando a eclosão dos ovos para que o alojamento de pintinhos nas granjas seja cortado, a indústria só verá o impacto em 45 dias – até lá, as milhares de aves que estão nas granjas terão de ser abatidas. Diante disso, frisou que as discussões para reduzir o ritmo de produção de frango já ocorrem. “Tenho que tomar uma decisão. Está na pauta”, acrescentou Canton.
Entre analistas, o forte ritmo de produção de frango é tema de debate desde o ano passado. Alguns chegaram a demonstrar espanto com a resistência das agroindústrias em cortar a produção, uma das poucas alternativas para tentar equilibrar as margens – ao reduzir a oferta, a chance de uma recomposição de preços aumenta e a demanda por grãos para ração recua.
“Me preocupa o setor produzindo normal e exportando em ritmo fraco”, disse ao Valor, em recente entrevista, César Castro Alves, analista do Itaú BBA. Pelos cálculos do banco, o spread da carne de frango no mercado interno também está próximo dos piores níveis da história. Em janeiro, ele chegou a 45% – a pior marca, de 40%, foi registrada em 2012, quando o preço do milho disparou devido ao impacto de uma das piores secas já registradas nos Estados Unidos. Desde 2006, a média para esse spread é de 73%, conforme o analista.
Para a Aurora, o negócio de carne suína, o principal da cooperativa, é um contraponto às adversidades da carne de frango. Mesmo que os grãos também tenham reduzido as margens, a demanda internacional – especialmente da China – segue forte, apesar da desaceleração habitual que precede o Ano Novo Lunar.
Se a demanda asiática confirmar as boas expectativas, a Aurora contará com um bom suporte para 2021. No ano passado, vale lembrar, a suinocultura já foi a atividade mais rentável para a central de cooperativas, garantindo o desempenho recorde.
A receita bruta da Aurora cresceu 33% no ano passado, chegando a R$ 14,6 bilhões. Nas exportações, a receita aumentou 61,9%, para cerca de R$ 5 bilhões; em volume, o crescimento foi de 23%. A China respondeu por 40% das receitas no exterior. No Brasil, o faturamento da cooperativa cresceu mais de 20%, somando R$ 9,5 bilhões.
A lucratividade da Aurora também melhorou. Segundo Canton, as sobras representaram 9% do faturamento em 2020 – em torno de R$ 1,3 bilhão. Desse total, 50% será distribuído aos cooperados e o restante, reinvestido para ampliar as unidades já existentes. No ano anterior, as sobras não chegaram a 6%. Como uma central de cooperativa, a Aurora tem 11 cooperativas filiadas que reúnem 67 mil famílias (produtores de aves, suínos, grãos e leite).
Com sete frigoríficos de suínos em operação, a cooperativa abateu quase 6,1 milhões de cabeças no ano passado, crescimento de 13,5%. A média diária de abates de suínos aumentou 11,8%, de 22,5 mil para 25,1 mil. Nas unidades de frango, os abates totais subiram 1,96% no ano passado, para 246,8 milhões de aves. Atualmente, quatro abatedouros de suínos e três de frango da Aurora estão habilitados a exportar à China.