Por Anderson Oliveira
Não são apenas as exportações de carne suína do Brasil e de outros países produtores que devem crescer com o avanço da Peste Suína Africana (PSA) na China. A expectativa é de que a menor quantidade dessa proteína no mundo e a mudança de hábito de consumidores – potencialmente assustados com a disseminação do vírus que, contudo, não atinge o ser humano – devem levar ao aumento das vendas de carnes de aves para aquele destino.
De acordo com Adolfo Fontes, analista da área de proteína animal do Rabobank, um dos cenários mais possíveis – com a China controlando a disseminação da PSA até o fim do primeiro semestre – seria uma redução que variaria entre 10% e 20% na produção de suínos no país asiático. Isso representa de cinco milhões a 10 milhões de toneladas da proteína animal. Segundo o analista, a China teria uma necessidade de importação provável de dois milhões de toneladas de carne suína, algo que nenhum país no mundo conseguiria atender sozinho. O gigante asiático é o maior produtor dessa proteína.
“Eles devem aumentar, por consequência, a importação de carne de frango do Brasil”, avalia Fontes. Para ele, uma das sinalizações disso foi o acordo para a retirada das tarifas antidumping do frango brasileiro, em janeiro. Já agora em fevereiro, o país retirou as tarifas de 14 empresas nacionais que exportam frango.
O médico veterinário Luizinho Caron, pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, ressalta que é improvável que ocorra um desabastecimento de carnes tanto na China quanto em outros países – exportadores da proteína suína – devido à PSA. O cenário que acontece com algo assim, ele aponta, é uma migração dos consumidores para as demais proteínas.
“Mesmo que seja uma doença que só afeta suínos a presença de notícias diárias nas mídias acaba gerando um impacto negativo sobre o hábito de consumo das pessoas que acabam trocando a carne suína por frango, bovino ou outra carne, apenas por precaução e desconhecimento”, considera Caron.
A perspectiva potencialmente favorável para a carne de frango, no entanto, ainda não pode ser representada em números. Ou seja, não se sabe qual será o comportamento da China diante desse cenário. Em 2018, antes que a PSA se disseminasse pelo país, as remessas de frango para esse destino cresceram 10%, atingindo 365 mil toneladas. A China foi o segundo principal mercado comprador dessa proteína.