A paranaense Frimesa já trabalhava nas obras de sua nova unidade de abate de suínos, em Assis Chateaubriand, joia da coroa de um plano de expansão desengavetado em 2020, quando a Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) passou a considerar o Paraná área livre de febre aftosa sem vacinação. A mudança do status sanitário do Estado, anunciada em maio, cria novos horizontes para a empresa no exterior – e a fábrica, planejada para atender principalmente o mercado interno, abre a possibilidade de a Frimesa buscar também acessar mercados que correspondem por cerca de 65% das compras de carnes no mundo.
“Essa notícia dá ainda mais segurança ao nosso projeto”, afirma Elias José Zydek, diretor executivo da companhia, que no ano passado faturou R$ 4,3 bilhões. O plano de expansão, que inclui a construção da nova unidade, nasceu em 2015, ficou pronto em 2018, mas só foi posto em ação em meados de 2020, quando a empresa identificou que a demanda firme por proteína animal nos mercados interno e externo justificaria o movimento, conta o executivo.
O plano de expansão considera um cenário de consumo até 2030. Desde que o projeto foi revelado, no ano passado, a empresa refez as contas sobre os desembolsos, antes orçados em R$ 750 milhões. Com os novos cálculos, que consideram aumento dos custos com itens de construção civil e equipamentos, o aporte passou a ser de R$ 840 milhões. Segundo Zydek, a empresa já fez metade dos investimentos.
Crescimento no abate
A mudança da previsão de despesas não exigiu alteração no cronograma do projeto, com o início das operações previsto para janeiro de 2023 e abate inicial diário de 3,8 mil cabeças de suínos. Em dois anos, a ideia é alcançar 7,5 mil cabeças, até que, em 2030, se os ventos seguirem favoráveis, esse número chegue a 15 mil cabeças diárias.
Considerado o potencial atual, de 8,5 mil cabeças, abatidas nas unidades de Marechal Cândido Rondon e Medianeira, a Frimesa quer chegar ao fim da década abatendo 23 mil animais por dia. Com essa meta, a companhia planeja dobrar sua participação no mercado interno, que é hoje de 6,5%. BRF, Seara e Aurora são as líderes no país.
Com o novo status sanitário – a aftosa é gerada e transmitida por bovinos, mas os suínos também são afetados -, os paranaenses poderão buscar espaço em mercados como Japão, Coreia do Sul, Filipinas, Chile e México, que hoje exigem que os fornecedores sejam de área sem vacinação. Atualmente, a Frimesa, que exporta 20% da produção, tem clientes em Hong Kong, Uruguai, Argentina, África, para citar alguns países.
O reconhecimento da OIE não significa abertura imediata de novos mercados e ainda há exigências burocráticas a serem cumpridas, inicialmente por parte do governo brasileiro, lembra Zydek, mas a Frimesa já contratou um representante no Japão para identificar oportunidades. Para a Coreia do Sul, a companhia já exporta outros itens, como queijos. “O Brasil produz para atender os critérios do mercado global”, diz o executivo. “Temos genética e nutrição. Agora, será preciso ajustar acabamentos de produtos”.
Em Santa Catarina, Estado reconhecido como área livre de aftosa sem vacinação em 2007, representantes locais afirmam que conquistar alguns mercados chegou a levar cinco anos. No caso dos mais exigentes, como o Japão, o esforço compensa. Os japoneses pagam até 50% a mais pelo quilo da carne suína, segundo a Associação de Criadores de Suínos de Santa Catarina.