Esta semana marcou a criação do Instituto Nacional da Carne Suína (INCS). A iniciativa é do Sebrae e da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS) e tem o apoio da Faesc, Embrapa, Top Carnes e Decisão Propaganda. O INCS pretende unir os pequenos e médios frigoríficos e os produtores não integrados para uma atuação conjunta, que prevê desde a troca de experiências para melhorias de processos até compras conjuntas de insumos e a criação de um selo de qualidade. O objetivo final do Instituto é aumentar o consumo de carne suína entre os brasileiros.
O site de Suinocultura Industrial conversou com o presidente do INCS (e também da ACCS), Wolmir de Souza, para saber como vai funcionar o instituto e sobre seus objetivos. Durante a conversa, Wolmir explicou o que é Programa Nacional da Carne Suína, falou sobre as metas a serem alcançadas e se a criação do INCS não vai disputar espaço com PNDS, programa da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS).
Os principais trechos da entrevista você confere a seguir.
Suinocultura Industrial – O que é o Instituto Nacional da Carne Suína? Para que ele foi criado?
Wolmir de Souza – Antes de dizer o que é, vou dizer um pouco por que ele surgiu. As entidades – e eu falo isso tomando como base a própria ACCS, que vai continuar existindo com a mesma linha de ação, com o mesmo perfil, com a mesma objetividade de sempre – têm dificuldades em trabalhar no segmento de produção que está de alguma forma, fora da grande indústria.
A ACCS tem uma fonte de arrecadação oriunda das granjas de material genético que são em sua grande maioria ligadas à grande indústria. Então sempre tivemos muita dificuldade em trabalhar com o segmento de produção dos chamados ‘independentes’ – que eu prefiro chamar de ‘não integrados’, já que ninguém é tão independente assim – por menor que fosse a ação. Essa dificuldade se dá até pelo nosso regimento interno, pelo histórico da associação.
Percebemos, portanto, que havia essa lacuna. Essa necessidade de trabalhar e desenvolver projetos para os pequenos e médios produtores, para os pequenos e médios frigoríficos, que estão fora da grande indústria, principalmente em Santa Catarina.
Começamos então a desenvolver em parceria com o Sebrae um projeto de certificação de origem, que buscava trabalhar exclusivamente o produto de Santa Catarina.
Não que os objetivos do Instituto sejam contrários aos objetivos da grande indústria, mas ela tem o seu próprio caminho. A indústria tem um mercado e quanto mais ela se junta – a exemplo da Sadia e da Perdigão, que hoje são uma empresa só – vai buscar outras e novas oportunidades de mercado e deixam sempre um grande espaço no mercado interno que é o nosso principal cliente.
SI – Quais são então os objetivos e metas centrais no INCS?
WS – O Instituto visa unir o segmento de produção não integrado, trabalhar esse setor de produção, trabalhar o setor de frigorífico, trabalhar o produto, trabalhar um pouco mais o associativismo. Não há ninguém independente na suinocultura, somos todos parceiros e dependentes de quem faz parte do setor, dependentes de quem compra.
O Instituto Nacional da Carne Suína surgiu, portanto, com a finalidade de trabalhar o segmento de produção não integrado. E conta com a participação ativa de produtores do Rio Grande do Sul, do Paraná, de São Paulo, de frigoríficos, universidade e entidades de pesquisa. O pessoal da Unicamp, inclusive, esteve no evento de criação do Instituto, assim como o Sebrae, que é fundamental, como a Embrapa…
SI – A iniciativa é do Sebrae Nacional, do Sebrae/SC e da ACCS e tem o apoio da Faesc, Embrapa, Top Carnes e Decisão Propaganda. Qual vai ser a incumbência de cada uma dessas entidades no Instituto?
WS – O Sebrae terá um papel importante. É claro que o Sebrae Nacional está envolvido, mas principalmente o Sebrae Estadual. É importante dizer aqui que a participação do Sebrae no Instituto não vem ferir ou contradizer o projeto da ABCS, que é a campanha “Um Novo Olhar sobre a Carne Suína”. Ao contrário vem somar.
A diferença entre os projetos na verdade é que do Instituto tem um trabalho amplo na base da produção, na cadeia, no produtor, com ênfase na questão da compra em conjunto, da venda em conjunto, do processo de rastreabilidade das granjas, a parte ambiental, a parte sanitária dos produtores. Realmente um acompanhamento técnico na produção, um acompanhamento técnico nos frigoríficos.
E é aí que entra a Top Carnes, que é uma empresa de consultoria que tem coordenado ações de pequenos, médios e grandes frigoríficos aqui em Santa Catarina, no todo Brasil e até fora do País.
A Top Carnes já está fazendo uma pesquisa em mais de 60 frigoríficos, a princípio aqui de Santa Catarina, para traçar um diagnóstico da produção. Queremos saber qual é o produto que o suinocultor está oferecendo, qual a qualidade desse produto, de onde vem, qual a performance do animal, o processo de rastreabilidade. A pesquisa vai checar também as questões ambientais, de logística, de marca, de embalagem, de tempero, de padronização dos produtos. Enfim, vai recolher dados importantes para que possamos trabalhar esse mercado. E tudo isso vai estar ligado a uma grande campanha de marketing que vai se dar através de um selo.
A Top Carnes vai fazer também o trabalho de vistoria, de fiscalização, de auditoria desses frigoríficos, que não vão ter nenhuma exigência a mais do que aquelas que já existem por parte do Ministério da Agricultura. O objetivo é fazer com que as normas sejam realmente cumpridas e para que o selo seja sinônimo de garantia de qualidade, de garantia de segurança alimentar. A Top Carnes entraria no processo de validação, certificação dessas propriedades frigoríficas, acompanhando e cumprindo as regras do Ministério.
O Sebrae trabalha muito forte nesse campo também, tem avaliado isso, mas atua no setor de produção, trabalhando os ‘Programas de Qualidade Total Rural’.
Temos a Embrapa que tem uma função técnica muito importante, inclusive com participação no Conselho Técnico. Temos um Conselho Técnico do qual vai fazer parte o Sebrae, a Embrapa, órgãos de pesquisa como universidades, órgãos estaduais, órgão nacionais. E um Conselho Consultivo do qual participam empresas de nutrição, de genética, de laboratórios, associações de produtores, de supermercados, de frigoríficos, enfim, além de uma diretoria.
SI – A ABCS acaba de firmar um convênio com o Sebrae para a execução do Programa Nacional de Desenvolvimento da Suinocultura. Não haverá choque entre as ações no INCS e do Programa da ABCS?
WS – Bom, o Instituto é nacional e tem participação, a princípio, dos quatro Estados aqui do Sul e de São Paulo. Ele [o Instituto] foi criado aqui em Santa Catarina com nosso objetivo, mas o Instituto é nacional, ele vem no mesmo caminho da ABCS. Na verdade é um braço, vamos dizer assim, é uma continuidade. O diferencial é que estamos indo um pouco além da campanha da associação brasileira [ABCS]. Mas é importante dizer que a ACCS e o próprio Instituto, estão juntos com a ABCS. Inclusive estivemos em Brasília [DF] no lançamento do convênio com o Sebrae para a execução do PNDS. Nós aprovamos a iniciativa, tivemos parte, vamos programar-la também em Santa Catarina.
O Instituto vai trabalhar um pouco mais o setor de produção, que é o setor frigorífico e o setor de produção de animais, não meramente divulgar o produto, mas trabalhar a qualidade dele na base, do produto para trás. Então, o Instituto visualiza e busca trabalhar o processo produtivo como um todo, e também, é claro, a questão da comercialização, que é o objetivo da ABCS.
SI – Não seria o momento de unir forças?
WS – Exatamente, e o que estamos fazendo não é o inverso. O objetivo é exatamente unir, mas nós queremos trabalhar um pouco mais, lidar como um Instituto com aquilo que, talvez, nem a ABCS, nem a ACCS, nem todas as outras possam fazer, que é trabalhar com exclusividade o segmento de produção do não integrado. Mas dentro de uma mesma campanha, cujo chapéu macro de tudo isso, quem dá é a ABCS.
SI – Qual será a primeira atividade do Instituto?
WS – A primeira atividade, que já está em andamento, é a pesquisa. Estamos fazendo um levantamento junto aos pequenos e médio frigoríficos de Santa Catarina, para que possamos.
Conhecer em detalhes a realidade do setor e trabalhar assim, com dados precisos, com informações.
Essa pesquisa envolve mais de 60 frigoríficos e o questionário é bastante amplo para que possamos ter uma visão técnica, econômica e social abrangente. Tanto em termos de produção – ou seja, fornecimento animal, produto – como em termos de logística, transporte, marca… Enfim, um panorama completo de toda a cadeia. E a partir daí que nossa ação será direcionada.
SI – O que é Programa Nacional da Carne Suína? Quais as ações previstas pelo programa?
WS – Bom, nós vamos entrar em uma campanha, uma ação técnica. Mas o Programa de Qualidade da Carne é composto pelas ações que serão definidas depois desse diagnóstico feito. Essas ações vão ser implementadas junto aos empreendimentos, aos frigoríficos, e vão garantir que aquela carne suína que vai para o consumidor, que detém o selo de qualidade, efetivamente têm qualidade.
Esse é o grande objetivo. Então é o Programa de Qualidade da Carne que vai garantir a segurança, padronização, vai contemplar questões desde temperatura, de tempero, de embalagem, de rótulo, tudo isso vai ser levado em conta. Então, esse Programa de Qualidade da Carne conterá os quesitos e nenhum deles foi criado por nós, tudo já vem do próprio Ministério da Agricultura que vão garantir que a carne suína que tiver aquele selo pode ser consumida com segurança.
SI – Como serão custeadas as ações do Programa Nacional da Carne Suína?
WS – Estamos contando com a participação financeira do próprio Sebrae neste momento, mas devemos ter participação de renda, e vamos buscar agora outras fontes de arrecadação. Inclusive eu estou indo para Brasília [DF], tenho uma reunião com o pessoal do MDA [Ministério do Desenvolvimento Agrário], Ministério da Agricultura, para que possamos buscar subsídios para custear essa experiência e para que a gente possa manter viva, na verdade, esse segmento de produção.
SI – Uma das prioridades será elevar o consumo per capita de 14 kg por habitante/ano de forma a aproximar-se dos países europeus – acima de 40 kg/habitante/ano. Como fazer isso e em quanto tempo?
WS – Olha, é difícil trabalhar uma questão de tempo, é um projeto, com certeza, de longo prazo. Mas acredito que se dará muito rapidamente depois que a gente conseguir trabalhar o processo de produção. É vender para o consumidor um conceito de qualidade, então, o tempo maior que a gente vai precisar, imagino que vai demorar, de repente, um ano e meio, dois anos, pra gente poder, literalmente, vender e mostrar para o País que temos um produto de qualidade. Então precisamos trabalhar o setor de produção, trabalhar o setor frigorífico e daí sim qualquer campanha garantirá o aumento do consumo e por conseqüência, a garantia de renda, de viabilidade econômica das nossas propriedades rurais.
SI – A indústria participará dos projetos e programas do INCS? De que forma?
WS – A indústria é chave nesse processo. Se a indústria não participar, nada disso acontece. A indústria vai participar abrindo-se para uma avaliação, para um levantamento. E depois disso vamos buscar as ações, que vão ser a padronização de produtos dessas indústrias, a padronização de procedimentos e eles vão ter uma participação. Elas vão entrar, entre aspas, entrar com uma participação financeira de acordo com o crescimento econômico de cada uma delas. A campanha vai ser feita em cima do crescimento econômico de cada uma dessas indústrias. Então elas vão entrar na campanha marketing nacional, entre aspas, de graça. Quer dizer, de graça não, elas vão pagar em produtividade, em crescimento. Se elas não venderem nenhum quilo a mais, elas não pagam nada a mais, se elas venderem mais e melhor é que elas vão ter uma parcela de participação financeira para que se faça, realmente, uma grande campanha. Daí a questão do selo, que é opcional, não obrigatório. Mas cada empresa que tiver, vai ter uma grande campanha em torno dele.