Embora juntos os três países que estão entre os dez maiores exportadores de carne de frango do mundo ainda não consigam superar os volumes produzidos ou embarcados pelo Brasil, são eles que surgem como grandes competidores para abastecer o mundo com a proteína. Os três estão mais perto – ou mesmo dentro – do sudeste asiático, que é o mercado a ser conquistado pelos próximos anos. Mas o que, além disso, tem em comum Ucrânia, Turquia e Tailândia? E como eles desafiam a posição do Brasil de maior exportador do mundo de proteína avícola?
Não está certo dizer que os três países devem se aproximar da avicultura em termos de produção e exportação. Para Gordon Butland, consultor internacional em avicultura, o que acontece é que todos os países com produção avícola devem ganhar uma parte do mercado brasileiro. “Todo mundo quer ‘beliscar’ o Brasil, porque a produção dele é grande demais”, avisa.
CONCORRÊNCIA É SAUDÁVEL, DIZ A ABPA
Manter o produto competitivo em termos de preço e qualidade, para Ricardo Santin, diretor executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), é a resposta do Brasil. “A competição é livre e salutar, o que o Brasil tem que faze é continuar sendo competitivo e tendo qualidade”, diz.
Santin reconhece que o Brasil cresceu no bojo do avanço da Influenza Aviária no mundo, que afetou outras grandes produções. “Mas crescemos com consistência, com tecnologia, qualidade e sanidade. Esses concorrentes tem que ter tecnologia, qualidade, sanidade e bom preço. O Brasil não pode impedir a concorrência, mas pode dizer quer concorrer comigo tem que fazer tão bom quanto faço”, avalia Santin.
TAILÂNDIA DE VOLTA AO JOGO
A Tailândia há alguns já era um dos grandes produtores de carne de frango no mundo. A intensificação de casos de Influenza Aviária em seu território em 2004, contudo, fez o país perder mercados como Japão, União Europeia e China. Nos últimos anos, após a crise sanitária, o frango tailandês voltou ao jogo, ganhando novamente esses mercados e conquistando outros.
Neste ano, segundo projeções do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a Tailândia deve produzir 3,49 milhões de toneladas de carne de frango. É um incremento de 71% em relação a dez anos atrás, quando o país produzia 2 milhões de toneladas.
O avanço foi ainda maior nas exportações, que saltaram 154% em uma década. Em 2010, o país do sudeste asiático exportou 432 mil toneladas da proteína avícola. A projeção para 2020 é de que 1,1 milhão de toneladas sejam exportadas pela Tailândia.
Vivendo na Tailândia, Gordon Butland, aponta que o país perdeu grande parte do mercado na década passada devido a ocorrências de influenza aviária em seu território. Com isso, o frango tailandês perdeu espaço na União Europeia e no Japão.
“O Brasil sempre ganha muito com a desgraça dos outros”, comenta Butland, referindo-se também à Peste Suína Africana, que atinge a China e impulsiona as exportações brasileiras.
UCRÂNIA É FAVORECIDA PELA UNIÃO EUROPEIA
Em meio aos conflitos políticos com a Rússia, a avicultura da Ucrânia se beneficia. É que nesse cenário, os europeus adotam uma postura que busca atrair a Ucrânia e retirar o país da influencia russa. Segundo Gordon Butland, além disso o país tem uma grande processadora de carnes, a MHP.
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A produção de carne de frango ucraniana cresceu 63% entre 2010 e 2020. Eram produzidas no país 885 mil toneladas da proteína. Agora, o volume chegou a 1,45 milhão de toneladas. Já as exportações cresceram 20 vezes em dez anos. Ou seja, saltaram de apenas 23 mil toneladas para 450 mil, que é a estimativa do USDA para esse ano.
TURQUIA NO PRINCIPAL PARCEIRO DO BRASIL
O segundo maior produtor dentre os três desafiantes do Brasil foi também o principal responsável por impactar – direta e indiretamente – nas exportações brasileiras. De acordo com Gordon Butland, em 2017 e 2018 a Turquia forneceu para a Arábia Saudita mais de 100 milhões de ovos férteis, favorecendo a avicultura desse país.
A Arábia Saudita foi primeiro e até 2018 era o principal destino da carne de frango brasileira. Nos últimos dois anos, contudo, reduziu as importações da proteína do país como forma de fomentar a produção interna. O motivo alegado é garantir a segurança alimentar de sua população.
Outro impacto do crescimento da avicultura turca é mais direto. “A Turquia tomou o mercado brasileiro no Iraque”, aponta Gordon Butland. De fato, os dados da Secretaria de Comércio Exterior apontam que em 2018 as exportações de carne de frango in natura para esse destino caíram 18%. Eram US$ 189,5 milhões e passaram a US$ 155,37 milhões.
De acordo com o USDA, a Turquia produzia 1,475 milhão de toneladas de frango em 2010. Nesse ano, a estimativa é de 2,4 milhões. É um crescimento de 62,7%. As exportações, por sua vez, cresceram quatro vezes, passando de 101 mil para 430 mil toneladas.
TENDÊNCIA É DE PERDA
Gordon Butland aponta que não é muito otimista ao avaliar a avicultura brasileira. Isso porque, historicamente, o Brasil possui grandes percentuais de mercado nos países importadores. “O problema é que o Brasil já tem marketshare muito grande nos países. E se você é um comprador não quer ficar muito dependente de um só fornecedor. Em alguns países, o Brasil tinha de 80% a 90% de marketshare”, diz.
Em 2019, a avicultura brasileira conseguiu crescer 3,7%, mas apenas devido à China, avalia o consultor. Diante desse cenário, apenas a conquista de outro gigante asiático poderia ajudar: a Índia. É nesse país, aliás, que a ministra Tereza Cristina está nesta semana para, justamente, conquistar mais um destino para o frango brasileiro.
VEJA OS NÚMEROS DE CADA PAÍS
Turquia
Produção (1000t)
2020 – 2,400 (+62,7%)
2010 – 1,475
Exportação (1000t)
2020 – 430 (+400%)
2010 – 101
Ucrânia
Produção (1000t)
2020 – 1,450 (+63%)
2010 – 885
Exportação (1000t)
2020 – 450 (+20x)
2010 – 23
Tailândia
Produção (1000t)
2020 – 3,490 (+71%)
2010 – 2,041
Exportação (1000t)
2020 – 1,100 (+154%)
2010 – 432
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