Abatida por uma dívida ascendente e por uma também crescente dificuldade de obtenção de crédito adicional para manter suas operações, a Cooperativa Agropecuária e Industrial (Cooagri), maior sociedade do gênero em Mato Grosso do Sul e a segunda maior do Centro-Oeste, ruiu de vez. Os próximos capítulos dessa história incluirão o destino dos ativos da cooperativa, que até 2008 representavam uma das principais estruturas para o armazenamento de grãos do Estado.
No início desta semana, o juiz Jairo Luiz de Quadros, da 3ª Vara Cível de Dourados (MS), declarou insolvente a Cooagri, a pedido da própria cooperativa e determinou a liquidação de seus ativos. Suas dívidas somam R$ 241,8 milhões, segundo os dados do processo. O total dos bens, por sua vez, corresponde a R$ 90 milhões.
Entre os ativos mais importantes da Cooagri estão 18 armazéns, espalhados pelo sul de Mato Grosso do Sul. A capacidade total dessa estrutura é de cerca de 1,5 milhão de toneladas, número que equivale a mais de 35% das 4,2 milhões de toneladas de soja que, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Estado colheu na safra 2008/09.
No início deste ano, estava quase tudo certo para que a estrutura fosse arrendada para a Archer Daniels Midland (ADM). Em assembleia, os sócios da cooperativa já haviam aprovado o arrendamento para a multinacional de origem americana, em um contrato que oferecia a opção de compra dos ativos após dois anos. Na ocasião, a ADM informou ao Valor, por meio de nota, que ainda aguardava “a anuência dos credores para finalizar o processo”.
Esse acordo com os credores não ocorreu, e o acerto da ADM com os sócios da Cooagri não pôde ser levado adiante. A múlti havia se comprometido a injetar, de forma emergencial, R$ 10 milhões na cooperativa, dinheiro que seria usado para despesas mais urgentes, como o pagamento de funcionários. Aos credores havia sido apresentado um plano prévio de reescalonamento dos débitos. Uma nova empresa seria criada para assumir os principais ativos da Cooagri e as dívidas, renegociadas, seriam concentradas na “velha” Cooagri.
A declaração de insolvência da cooperativa e sua liquidação não significam o fim das chances de acerto com a ADM. O juiz Jairo Quadros já nomeou um liquidante para a massa, e estabeleceu entre suas prioridades a busca de parceiros para que os armazéns, hoje inoperantes, voltem a ser utilizados. Procurada, a ADM não deu retorno ao pedido de entrevista.
A decisão da Justiça interromperá por um ano o andamento de processos para arresto dos bens da Cooagri, de acordo com o advogado Wilson Loubet, do escritório Pithan & Loubet Advocacia, que representa a cooperativa. Só continuarão em curso os processos trabalhistas, que atualmente somam cinco. Os salários dos funcionários estão atrasados há dois meses.
A liquidação só não será mais traumática porque os problemas da cooperativa já ocorreram ao longo da safra 2008/09. “Mas todo mundo vai ser prejudicado. Os preços da soja devem cair”, diz Luciano Muzzi Mendes, presidente do Sindicato Rural de Maracaju. A cidade concentra o maior número de sócios da Cooagri.