Os grandes frigoríficos ficaram com metade dos recursos da linha de crédito criada pelo governo em abril de 2009 para socorrer agroindústrias em dificuldades. Do orçamento global de R$ 10 bilhões, foram desembolsados R$ 6,4 bilhões até junho deste ano, informa o BNDES. E pouco mais da metade desse total foi emprestada por um agente financeiro, segundo fontes do governo. Dois frigoríficos, JBS e Marfrig, contrataram ao menos R$ 400 milhões do Programa de Crédito Rural Especial (Procer).
Os empréstimos dentro dessa linha de crédito tiveram problemas de operação. Primeiro, porque o risco das contratações eram majoritariamente dos bancos. Depois, porque houve atrasos no repasse dos recursos da linha pelo Tesouro Nacional e alguns bancos preferiram não emprestar pelo Procer.
A maior parte, em plena seca de crédito derivada da crise financeira global, preferiu oferecer linhas com juros de 15% a 20% ao ano aos seus clientes agroindustriais. O Procer oferecia dinheiro a 11,25% ao ano, além “spreads” (diferença de custos de captação e empréstimo) de 3% cobrados pelos bancos operadores e de 1% pelo BNDES.
“Durante a crise, até era bom negócio porque não tinha crédito em lugar nenhum. Mas depois do auge da crise, esse custo ficou alto demais e tirou o apetite de muitos frigoríficos”, avalia um executivo de um banco operador.
À época, o governo estimava que ao menos 18 indústrias precisavam da linha para garantir capital de giro e reduzir sua exposição a riscos cambiais. De lá para cá, 10 frigoríficos arrendaram suas plantas ou pediram recuperação judicial, o que mostra ter havido um disgnóstico correto. “O que faltou mesmo foi o acesso aos recursos”, constata o diretor de Controladoria do FrigoEstrela, Rubens Andrade Ribeiro Filho. “Os bancos reduziram o crédito, liquidamos posições de R$ 70 milhões que tínhamos, mas não tivemos mais acesso ao giro”.
Ainda assim, os frigoríficos viam nesses recursos a melhor chance de evitar os impactos negativos da crise. “Era uma boa opção, mas os recursos não saíam”, diz o dono do Frialto, Tadeu Paulo Bellincanta. O presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Salazar, lembra que a linha poderia ter ajudado a garantir uma solução à falta de giro. “Era aquele o momento mais adequado de ajudar”, diz o executivo. A linha previa dois anos para a quitação e até 12 meses de carência.
Mesmo com a tentativa do governo, as indústrias médias apontam a falta de um planejamento para o setor. “Não há política específica para esse frigoríficos”, diz Salazar. O Ministério da Agricultura, porém, aponta modalidades de crédito ao pecuarista que, na ponta, ajudariam a indústria.
As linhas de crédito para retenção de matrizes e para estocagem de produtos como leite e carne seriam uma ajuda desconsiderada pelos frigoríficos. “Nosso foco maior está no produtor, mas a agroindústria também pode ser beneficiada”, argumenta o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Edílson Guimarães.