Em época de fusões e trocas de comando nas empresas avícolas do Brasil surge uma preocupação sobre a relação das agroindústrias com os seus produtores integrados. A planilha acima, relatando receita e despesa de um integrado com 33 mil aves, demonstra que ele recebendo R$ 0,35 por cabeça entregue à agroindústria, seu lucro supera os 100%. Claro que haverá divergências sobre algum custo ou a própria receita, mas não variará muito. Então, a criação de frango em um processo de integração comparada a qualquer outra atividade pecuária ou agrícola é um excelente negócio em se tratando de rentabilidade. Todavia, a atividade foi desenhada no passado para pequenos produtores com utilização da mão-de-obra familiar e hoje, com o crescimento da avicultura industrial no Brasil, esse cenário mudou, exigindo contratação de funcionários e investimentos mais tecnificados. Porém, isso não mascara o resultado operacional da tabela, já que as linhas de créditos para a atividade são interessantes em termos de prazos e juros de mercado e a capacitação humana faz parte de uma gestão bem sucedida.
A fusão e/ou incorporação de empresas nada muda esse cenário em razão de que o sistema de integração é um sucesso no meio agropecuário brasileiro, essencialmente, no Sul do País, região em que o produtor entra com a imobilização das instalações/equipamentos e mão-de-obra. Já a indústria entra com a assistência técnica e o fornecimento dos principais insumos como pintainhos e ração. O pagamento da mão-de-obra e o retorno do investimento se dá através de ganhos de produtividade, principalmente, atrelado ao consumo de ração para produzir o peso vivo do frango, tratada por conversão alimentar. A indústria terceiriza a criação, gerando benefício ao produtor e, em contrapartida, imobiliza em atividades inerentes ao negócio como fábrica de ração, incubatório e na indústria de processamento. Podemos considerar essa atividade dentro do conceito de sustentabilidade, já que é lucrativa, considera o controle ambiental e impacta na questão social; mantendo o homem no campo, gerando empregos e retorno de impostos aos municípios em operação.
O produtor integrado, advindo do meio rural, por sua vez, se especializa na produção de matéria-prima para indústria, atendendo a especificação dos mercados contratados por essas empresas e se eximindo dos riscos do mercado como preço do produto final, quebras de safras agrícolas e crises internacionais. A matéria-prima – frango vivo – deve estar na faixa de peso acordada, sem problemas de pele e com a saúde dentro do plano preventivo traçado pelas partes. Uma parceria que pratica o ganha-ganha e gera milhões empregos no Brasil – e com as condições brasileiras em relação a outros países e continentes – continuará crescendo, já que a demanda a novos produtores integrados continuará existindo e com potencial de expansão pelas agroindústrias brasileiras e multinacionais que estão se instalando no País.
Focamos sempre nos treinamentos a técnicos e produtores que o sucesso da atividade depende de quatro fatores: genética, saúde das aves, nutrição e manejo, ou bem-estar, desses animais. Os três primeiros, demonstrando a maior participação da indústria nos riscos, dependem da empresa integradora e o último, não menos importante, pois todos estão no mesmo patamar de relevância, são atribuídos diretamente ao produtor integrado. Ou seja, com o compromisso de potencializar a genética, a saúde e a nutrição, através do cuidado das aves como o bem-estar e/ou conforto das mesmas desde o projeto do aviário, pré-alojamento, fase e inicial até a final de criação, pré-abate, apanha, transporte e abate das aves. A planilha acima tem tudo a ver com esses cuidados e por mais divergências que ela possa ter, a ideia é que o produtor tenha essas medidas para se situar no seu negócio, mantendo uma margem de lucro que viabilize seu atual negócio e o incentive a ampliar, ganhando em escala como as empresas estão fazendo nessas incorporações ou fusões. A produção de frango requer pouca área de terra. Para um galpão, com a capacidade acima descrita, são necessários 20% de um alqueire – para usufruir uma renda de R$ 53.625,60. Em contrapartida, para ter o mesmo rendimento com soja seriam necessários 10,88 alqueires e com o milho cerca de 37,22 alqueires de terra, para citar apenas duas culturas agrícolas de bastante produção e também necessárias para transformação para a própria avicultura.
Por Valter Bampi, médico veterinário e diretor-executivo da Big Frango.