O Sistema de Produção de Leitões (SPL) é o segmento que apresenta a maior demanda de mão-de-obra em todas as atividades da cadeia de produção, de suíno a aves, proporcionalmente ao número de animais alojados. É um sistema bastante complexo, onde há um ciclo contínuo de animais de reprodução e leitões recém nascidos dividindo as mesmas instalações com demandas de manejo e ambiência totalmente distin-tos. Esta complexidade exige mão-de-obra qualificada e torna este segmento um dos mais afetados, pela recente escassez do serviço.
Nos últimos anos, as granjas multiplicaram sua capacidade de alojamento, os modelos de criação intensificaram-se e o Brasil ocupa a quarta posição no ranking dos países exportadores (considera-se a União Europeia como um só país). Por ser uma atividade altamente intensiva, a execução correta dos procedimentos é fundamental para que se obtenham resultados cada vez mais consistentes, de modo que o Brasil continua a ter competitividade neste mercado cada vez mais acirrado.
Mão-de-obra
A mão-de-obra representa de 10% a 15% do custo de produção dos leitões, ficando abaixo somente do custo do investimento da granja e grãos. Sendo assim, a retenção e qualificação da equipe é um dos fatores chave para eficiência produtiva, visto que os funcionários mais experientes apresentam o conhecimento e domínio do processo, desenvolvendo com mais presteza suas funções. A rotatividade gera custos diretos e indiretos oriundos da rescisão, admissão, integração e treinamento dos novos funcionários, além de impactar na motivação da equipe e qualidade dos serviços e resultados.
O Brasil sempre foi visto como um país de mão-de-obra de baixo custo. Historicamen-te, a relação de matrizes suínas por funcionário no Brasil sempre foi muito menor quando comparada às granjas europeias ou americanas, porém, os custos eram simi-lares uma vez que havia uma baixa remuneração por funcionário. Entretanto, este cenário tem mudado na última década em funções de uma somatória de fatores como a escassez de trabalhadores dispostos a atuar na suinocultura e a competitividade com outras áreas como construção civil e comércio. A redução na oferta aumentou o custo de mão-de-obra e a manutenção na baixa relação de matrizes por funcionário pode ser um fator impeditivo para a prosperidade do segmento. O fato é que o Brasil já apresenta um custo de mão-de-obra mais alto que seu principal concorrente, os Estados Unidos.
Negociação
Como parte do projeto de otimização de mão-de-obra, a BRF buscou algumas ferramentas para melhor avaliar a mão-de-obra utilizada nas granjas de SPL. A cronoanálise é uma metodologia que analise a necessidade de mão-de-obra, equipamentos e instalações para a execução de determinada atividade, com o objetivo de encontrar a forma mais econômica de realizá-la. Ainda, ela busca demonstrar de forma confiável o tempo necessário para um colaborador em ritmo normal de trabalho executar tal atividade (tempo padrão). Esta ferramenta foi utilizada em três granjas de SPL da Regional MG/GO – uma de 1,2 mil matrizes e duas de 2,4 mil matrizes. A metodologia foi aplicada pela equipe agropecuária corporativa e supervisores e extensionistas das unida-des, sendo que todos os fun-cionários das granjas foram acompanhados durante sete dias consecutivos. Ao final deste trabalho, foi elaborado um relatório onde foram apontadas as oportunidades de otimização e uma profunda revisão dos procedimentos adotados nas granjas. Ativi-dades que poderiam ser abolidas ou ter a frequência reduzida foram mapeadas e tiveram sua execução revista como recomendação pela BRF.
Com base nos aspectos vivenciados nas granjas no Brasil e no exterior, somados a experiência e conceitos revisados na cronoanálise, foram implantadas uma granja piloto em Uberlândia (MG) e outra em Rio Verde (GO), com objetivo de trabalhar com 150 matrizes por funcionário. Ambas granjas estão em processo de transição na redução de funcionários, com constante acompanhamento da BRF tanto nos resultados quanto na realização dos procedimentos. O objetivo destas granjas é trabalhar de forma organizada e com priorização das atividades mais importantes do processo.
Um grande paradigma a ser quebrado é que os funcionários devem ser gerenciados como colaboradores de toda granja e não somente de um setor específico. Assim, consegue-se realocar funcionários em outros setores durante alguns períodos da jornada ou em alguns dias da semana, otimizando a força de trabalho. Com isso, é de suma importância que o gerente e o encarregado de setor tenham esta sensibilidade na administração da equipe da granja.
Profissionalismo
A automação, sem dúvida, oferece uma série de benefícios para as granjas, diminuindo a necessidade de mão-de-obra. Tem-se buscado automatizar todo o arraçoamento da granja, inclusive na maternidade, onde é menos comum.
Outros investimentos estão se tornando mais frequentes e têm demonstrado bons resultados. A colocação de chupetas para fêmeas gestantes elimina a necessidade de limpeza diária das calhas, reduz o desperdício e melhora a qualidade da água oferecida aos animais. Tecnologias como a inseminação pós cervical e centralização da produção de sêmen em central única tam-bém estão sendo decisivas para a otimização do processo de produção. Por fim, alguns equipamentos estão mais acessíveis ou estão surgindo no mercado e certamente auxiliarão nesta transição.
Evidentemente, estes processos mudam o foco dos trabalhadores, que deixam de executar atividades manuais. Assim, faz-se necessário ter mão-de-obra qualificada que certamente será melhor remunerada. Este é o único caminho para continuar a ganhar produtividade e reter os melhores funcionários no sistema.
Conclusões
A recente escassez de mão-de-obra qualificada está afetando profundamente as granjas de produção de leitões. É necessária uma revisão das atividades realizadas nas granjas, com priorização das tarefas mais importantes e reavaliação da real necessidade de mão-de-obra.
O investimento em equipamentos e instalações é muito importante para a otimização de mão-de-obra e será necessária uma melhor qualificação dos funcionários para trabalhar neste ‘‘novo’’ modelo de produção.
A readequação do quadro permite maior remuneração aos funcionários, fator importante para reduzir a rotatividade e ganhar atratividade quando comparados a outros setores da economia, o que certamente manterá a produtividade em ritmo crescente.