Maior facilidade de acesso ao mercado chinês, oportunidade de atrelar a imagem a um produto com apelo mais sustentável e saudável e diluição de riscos. Estas são algumas das principais vantagens que as produtoras de frango Pilgrim´s e a Seara devem trazer a seus novos donos: o JBS-Friboi e o Marfrig, respectivamente. Segundo analistas ouvidos pelo Portal Exame, a carne de frango – cujo ingresso na China continental começou neste ano – deve funcionar como uma espécie de “passaporte” para as demais proteínas brasileiras ingressarem no mercado asiático.
A China vai ultrapassar os Estados Unidos neste ano e se tornar o maior consumidor de frango do mundo. O Brasil ainda não é um grande exportador de frango para o país asiático. As exportações brasileiras são direcionadas principalmente para a Europa e o Oriente Médio. No entanto, a Fator acredita que o Brasil tem potencial para se tornar o maior fornecedor de frango para a China no futuro. As recentes disputas comerciais entre China e Estados Unidos podem ajudar o Brasil. Os EUA são hoje o maior fornecedor chinês, mas Pequim já tem colocado barreiras às importações por conta das divergências entre os países.
Embora os chineses ocupem a vice-liderança em produção mundial, o gigante asiático possui um déficit de oferta. A recente decisão da China de habilitar 24
estabelecimentos brasileiros para exportar frango congelado significa, na prática, uma oportunidade de embarques de até 1 milhão de toneladas por ano. “Embora o Marfrig tenha operações na área de aves, a Seara já integra a lista dos estabelecimentos credenciados a exportar frango congelado e alguns cortes (asa, pé, coxa e sobrecoxa) para a China”, afirma a analista da Scot Consultoria, Lygia Pimentel. Na avaliação do analista da XP Investimentos, William Alves, ao lado da Seara, o Marfrig se torna uma nova Perdigão, ao ocupar a vice-liderança em aves e suínos, além de fortalecer sua marca no mercado doméstico.
Para os analistas da Scot e XP Investimentos, a produção de frangos é também uma oportunidade para redesenhar a imagem do JBS e do Marfrig, que ficou arranhada com as denúncias de utilização de gado criado em áreas desmatadas e que levou grandes redes varejistas que atuam no Brasil a pedir a suspensão dos contratos de fornecimento.
O “apelo verde” do produto está relacionado ao fato de que a criação de frangos ocupa menos espaço, consome menos energia e emite menor teor de gás carbônico. Isso sem contar que a carne de frango é vendida como mais saudável por ser menos calórica. Há também a questão sanitária. Diferentemente dos bovinos e suínos, as aves não estão sujeitas à contaminação pelo vírus da febre aftosa, o que reduz o risco de eventuais embargos sanitários em caso de ocorrência da doença.
Segundo a Brascan, as aquisições de negócios de frango ajudam no processo de diversificação de receitas e reduzem os riscos do negócio das empresas. Opinião que é compartilhada pelo presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Roberto Gianetti da Fonseca. “Além de diluir os riscos, a diversificação adotada pelos frigoríficos brasileiros é uma decisão acertada, uma vez traz ganhos de sinergia em logística, comercialização e distribuição para as carnes nacionais de modo em geral.” Para Gianetti, passada a crise, as exportadoras de carne brasileira têm grandes oportunidades pela frente. “É importante lembrar que a fome não entra em recessão.”
O presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (Abef), Francisco Turra, diz que o surgimento dos “conglomerados brasileiros de proteína animal” é algo que beneficia toda a cadeia de carnes e o País como um todo. “A união de empresas como essas criam gigantes que são importantes na conquista de novos mercados. Isso porque companhias com esse porte têm capacidade para processar ou fazer parceiras com empresas locais, o que garante a manutenção dos empregos dos novos consumidores que queremos conquistar.”
Próximas compras
Após as compras feitas pelo JBS-Friboi e Marfrig, as atenções do mercado voltam-se agora para o Minerva. A aposta é de que, a exemplo dos rivais que fizeram aquisições de peso, o frigorífico que nasceu em Barretos (SP) também irá às compras. Da lista de prováveis candidatos, o Independência é o mais cotado. Mas há outros grandes frigoríficos brasileiros em dificuldade, entre eles o Mercosul, o Quatro Marcos e o Margem. Embora os quatro estejam em processo de recuperação judicial, continuam a ser atrativos em virtude dos prováveis ganhos em escala e sinergia em abate, produção, comercialização e distribuição.
Segundo uma fonte ligada ao segmento de carne bovina, as operações anunciadas pelo JBS-Friboi e Marfrig ampliariam ainda mais a distância entre a magnitude deles e do Minerva no ranking dos maiores exportadores brasileiros. Para se ter uma ideia, juntos JBS e Bertin têm capacidade para abater 40 mil cabeças de gado por dia no Brasil. O Marfrig pode abater diariamente mais de 21 mil bois, enquanto o Minerva tem capacidade para 6.600 cabeças de gado por dia.
No ano passado, a receita bruta das exportações do Minerva referentes à carne bovina, subprodutos e industrializados somaram 762 milhões de dólares, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). O Minerva também é exportador de couro e gado vivo e atua também no segmento food service por meio da joint venture Minerva Dawn Farms (MDF), que produz alimentos à base de carne bovina, suína e aves.